Não é a economia, estúpidos, são pessoas

O desastre econômico provocado pelo coronavírus não é uma possibilidade, é uma realidade contra a qual nada se pode fazer, neste momento, senão preservar o seu mais precioso recurso, o ser humano.

Tudo o que se fala, agora, sobre “segunda onda” é de uma enorme estupidez, porque não se sabe, além de que foi, é e será gigantesco o impacto da primeira.

Não estamos lidando com uma retração que tem hora e dia para terminar e, mesmo quando estiver – quem sabe em dois ou três meses, passada a fase em que novos contágios sejam muitos – vai implicar em restrições e esvaziamento de várias atividades relacionadas a aglomeração humana: turismo, transporte aéreo, artes e espetáculos, etc…

Também não se sabe onde será o fundo do poço no mercado financeiro, os efeitos do período nas contas públicas dos países e, portanto, sobre suas dívidas e necessidades de financiamento.

Ao contrário do que ocorreu com a pandemia, em que faltaram decisões fortes e antecipadas – e estamos vendo o preço disso, agora – no campo da economia a decisão imediata – igualmente fraca e demorada – é não permitir que a sociedade desça à barbárie – ou desça ainda mais, no caso de nosso país.

Numa palavra, que ninguém mais seja abandonado à própria sorte.

Este é o ponto inicial do que teremos para a fase da reconstrução e, se for efetivo, para o que pode ser uma sociedade mais justa.

Ou será que alguém, em meio a um quadro de desemprego que, no “barato”, ficará nos 20%, acha que se poderá tirar a renda básica de 40 milhões de brasileiros?

Ou que vai se poder voltar a uma situação de falta de proteção ao emprego, que é tudo que a os neoliberais suicidas sempre preconizaram?

Muito menos se poderá voltar à cultuada demolição dos serviços públicos, à teoria de que não é preciso produzir internamente, mesmo a custo maior, se podemos – estamos vendo que não podemos, na hora necessária – comprar barato lá fora. Nem entregar o que temos, indiscriminadamente: já em meio à mortandade, a Itália discute como evitar que o capital de suas empresas – quase tornado pó nesta crise – seja comprado como banana na safra pelos estrangeiros.

O mundo será outro, não sabemos exatamente qual, depois deste morticínio caótico.

Agora, o essencial, o único a ver perseguido, é que as pessoas sigam respirando e comendo e que algo as desperte para o esquecido sentimento de que somos iguais. Senão na vida, pelo choque de vermos que na morte o somos.

 

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