O ‘especialista’ da mídia era lobista. E a autocrítica?

Na coluna de Míriam Leitão, hoje, não se pode negar que ela desenha com clareza a maracutaia que seria a nomeação de Adriano Pires para a presidência da Petrobras:

“No setor de óleo e gás, a indicação de Adriano Pires foi vista como fruto das articulações entre o presidente da Câmara, Arthur Lira, e do ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira. Durante a tramitação da MP que permitiu a privatização da Eletrobras, os três — Lira, Nogueira e Pires — atuaram fortemente em favor da aprovação dos jabutis que encareceram o projeto. Esses itens totalmente estranhos à proposta de privatizar a Eletrobras acabaram aprovados. Eles obrigam a contratação de termelétricas a gás em estados do Norte e Nordeste que estão longe dos centros de produção e consumo. Por trás da manobra, estão os interesses do empresário Carlos Suarez, dono de distribuidoras a gás nesses estados que serão beneficiadas pelo projeto. Suarez é cliente de Adriano Pires na sua consultoria CBIE.
— A meu ver, Lira e Nogueira viram uma oportunidade para controlar a Petrobras, diante da insatisfação de Bolsonaro com Silva e Luna. Mas o lobby ficou tão escancarado que agora eles estão tendo que recuar — disse uma fonte da indústria.”

Muito bem, saúda-se a jornalista, tal como se a defendeu das monstruosidades que lhe dirigiu o filho presidencial.

Mas, a quem cobra tantas autocríticas aos governos de esquerda, não cabia, também, um reconhecimento de que Pires, por tantos anos apresentado como grande “especialista” , deitando falação sobre como a política do petróleo deveria ser gerida, exercia, também na mídia, seu papel de lobista e lobista muito bem remunerado?

Ontem, a jornalista Maria Cristina Fernandes, no Valor, revelou uma carta da Abegas – Associação Brasileira das Empresas Distribuidoras de Gás Canalizado – pedindo aos empresários que dessem declarações favoráveis a Pires, como grande solução para a Petrobras. Só que dela, como “consultor”, Pires receberia, segundo as fontes de Miriam Leitão, “mais do que o salário de presidente da Petrobras”.

E olhe que o salário do cargo é de R$ 260 mil mensais.

E que não se argumente que ele recusou a nomeação para presidir a estatal. Não, ele desistiu diante da repercussão negativa que o conflito de interesses escancarou. Porque ele já era contratado por empresas concorrentes ou contratadas da Petrobras e sabia que havia este conflito, mas deixou rolar o “vamos ver se cola”.

Dá para ver, por aí, qual é o padrão ético do homem que ia manobrar uma empresa que fatura, R$ 452,67 bilhões em receita líquida de vendas.

Pires era uma farsa e é preciso dizer isso. Especialmente aqueles que, por tanto tempo, o apresentaram como dono da verdade.

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