O Fernando já fez algumas considerações aqui sobre a matéria de capa da Época desta semana, que denuncia um suposto esquema de corrupção dentro da Petrobras. Acho que, diante de algumas novidades, podemos acrescentar outras observações.
Antes, uma observação literária sobre o início da reportagem.
João Augusto estava em silêncio. Permanecia inclinado à frente, apoiava-se na mesa com os antebraços. Batia, sem parar, a colherzinha de café na borda do pires – e mantinha o olhar fixo no interlocutor. Parecia alheio à balbúrdia das outras mesas no Café Severino, nos fundos da Livraria Argumento do Leblon, no Rio de Janeiro, naquela noite de sexta-feira, dia 2 de agosto. A xícara dele já estava vazia. O segundo copo de água mineral, também.
Não quero desmerecer o texto nem o conteúdo da matéria.
Diego Escosteguy é um dos garotos prodígios do império midiático. Há alguns anos, quando ainda trabalhava na Veja, ganhou US$ 45 mil do Instituto Millenium para estudar alguns meses nos EUA. Mas isso não quer dizer nada, porque se trata de um jovem de origem simples que não poderia desperdiçar um emprego na Veja nem uma bolsa nos EUA. Nem ninguém tem nada a ver com a vida dele. Conforme declarou a “voz que emergiu das ruas” da Veja, o coxinha Maycon Freitas, estar na Globo (ou na Época, que pertence à Globo) é o “melhor trabalho do mundo”!
Cada um bate a colherzinha de café no pires do jeito que gosta.
A principal fonte das denúncias negou ter dito o que disse. Diego então postou gravações de sua conversa, em qualidade sofrível, que ninguém conseguiu entender, tentando salvar a reportagem. O repórter publicou apenas trechos, editados e fora do contexto, prejudicando ainda mais a credibilidade da matéria.
Mas eu acredito na qualidade jornalística da Época, que não iria publicar uma bomba furada, certo? Nem iria publicar uma bomba apenas para tentar abafar o escândalo Alstom-Siemens, que envolve corrupção sistemática no governo de SP de 1998 até hoje, e movimentou dezenas de bilhões de reais, ok?
De qualquer forma, a estratégia parece ser combinada: os jornalões estão repercutindo a matéria da Época, minimizando o fato da fonte se desdizer.
Mas meu ponto aqui é outro.
Acabo de topar com a seguinte nota no Painel da Folha:
DNA João Augusto Henriques, pivô das acusações de caixa dois na campanha de Dilma em 2010 noticiadas na revista “Época” desta semana, é ligado ao líder do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha (RJ), e ao deputado Mauro Lopes (PMDB-MG).
Se for isso, o contra-ataque do Império não foi apenas um gol-contra. Foram vários gols contra. O maior desejo de Dilma é justamente manter a aliança com o PMDB mas isolar as alas mais reacionárias e fisiológicas do partido, das quais Eduardo Cunha é o representante mais poderoso. Cunha representa, hoje quase assumidamente, uma facção de oposição à Dilma dentro do PMDB.
Ou seja, se tiver alguma denúncia séria aí, Dilma Rousseff terá, além da obrigação ética como presidente, também o interesse político de mandar apurar. Será uma pena se o furo da Época for apenas uma bombinha infantil.
6 respostas
Mesmo sendo o jornalista Diego um coxinha, a fonte ter negado e as gravações estarem editadas em trechos, o caso deve ser investigado pois é sério demais. Até mesmo para processar o jornalista se não se confirmarem.
Mesmo sendo o jornalista Diego um coxinha, a fonte ter negado e as gravações estarem editadas em trechos, o caso deve ser investigado pois é sério demais. Até mesmo para processar o jornalista se não se confirmarem.
Na foto, o primeiro à esquerda não é…
Eis que ressurge o Polifermo Coliforme…
Eis que ressurge o Polifermo Coliforme…
Na foto, o primeiro à esquerda não é…
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