O papel de Lula não é de sombra. É de luz

Lula é, infelizmente, a última referência popular remanescente do enfrentamento deste país à ditadura e da reconquista democrática.

Outros ícones, dos mais variados matizes ideológicos, já se foram, levados pelo implacável tempo.

Milhares dos que lutaram  – e cumprimos, agora, o quarto final de nossas vidas – estamos aqui. Mas, além de não sermos símbolos, muitos estão cansados, entregues ou relativizando as coisas, como compete aos avôs fazerem aos netos.

Por isso mesmo, é a Lula, mais a que a qualquer um, a quem compete o papel de dizer, com todas as letras, que a quebra das regras democráticas é, hoje, a única esperança da direita para retomar o poder que perdeu pelas urnas e pelas urnas não consegue recuperar.

Não porque, no horizonte visível, existam sinais de um golpe militar (ou civil-militar) a nos ameaçar.

Mas porque só a violência, a conflagração nas ruas pode instilar na população, com o poder de ampliação que a mídia dispõe, a ideia de que o Brasil está vivendo um caos econômico e social.

Não será a polícia militar – ou a federal, como na sua miopia o Ministro da Justiça acena – quem vai acabar com o fenômeno dos black blocs e seus correlatos, menos capazes de adotar o discurso a la Marina de “democratizar a democracia”.

Se é fato de que é preciso compreender que parte de sua origem – além do infantilismo pequeno-burguês que atravessa eras – está no vazio que se formou com a perda de identidade dos partidos e da política, não é menos imperioso mostrar – talvez até resignificar – o que pretendem e para onde rumam as forças progressistas que assumiram, há 11 anos, o comando deste país.

Não é preciso sermos selvagens, nem descorteses, nem intolerantes para evidenciarmos que somos diferentes.

Nem precisamos – aliás, não devemos nem podemos – atirar à margem os que pensam diferente e nem mesmo os que, não importa suas ligações com o passado, por quaisquer razões não desejem ou ajam para ser obstáculos ao novo.

Mas, sim, necessitamos que a população seja esclarecida e numa escala muito maior do que nós, com nossos parcos meios, tentamos fazer nos limites que nossas precariedades e nossa pequenez  permitem.

É a Lula – e ele parece demonstrar cada vez maior percepção disto – que compete este papel didático que tantas vezes foi negligenciado.

Quantas vezes o PT e outras forças progressistas, integradas ao Governo, esqueceram do que ele próprio, Lula, disse ontem no plenário da Câmara?

“Mantendo sempre um pé nas instituições e outro nas ruas, começamos ali a caminhada que nos levaria à eleição para a Presidência da República em 2002.”

Registro outro trecho desta fala de Lula para refletirmos sobre o que disse antes:

“(…)essa juventude tem que saber que faz apenas 25 anos que nós estamos vivendo no mais longo período de Constituição contínua deste País. E esta Constituição e este País — por conta desse aprendizado democrático, coisa que não aconteceu em muitos países do mundo, mesmo onde houve revoluções — permitiram que um simples operário torneiro mecânico chegasse à Presidência da República e exercesse o seu poder em sua plenitude duas vezes”.

Pois essa juventude não saberá – e se confundirá – se o operário torneiro mecânico  lhe disser isso e mostrar como – mesmo que sem tanta plenitude – o exercício do poder abriu novos caminhos para ela e para o país?

Lula encarna a legitimidade pessoal para fazer isso.

Manifestação, enfrentamentos com a polícia, até uma prisão arbitrária e ilegal ele próprio sofreu. Não há black bloc que possa falar em repressão perto dele.

Mas, para que seja compreendido, ele tem de falar.

Muito e cada vez mais claramente.

Mostrar que se, como disse, Marina e Serra são sombras sobre Eduardo Campos e Aécio Neves, ele é luz sobre Dilma.

Porque se o povo entender que a desestabilização da democracia é o único jogo que resta à direita brasileira, estes grupinhos voltam a ser o que sempre foram: nada.

Mas, sem este enfrentamento na consciência popular, eles podem ser um degrau para a impensável volta do Brasil ao passado de exclusão e dependência.

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20 respostas

  1. Pois olha,não ac ho que seja tarefa dos avós,passar aos mais jóvens,o desleixo!Acho mais,os avós de hoje,mesmo com suas limitadas aspirações,no limiar de seu futuro inexorável,devem e podem sustentar,que as Direitas de totas a fazes da história das DITADURAS DE CLASSES,sempre se utilizou da máxiama,das contradições engtre o novo e o velho,que existem,é verdade,para jogar seu jogo sujo de perpetuação.Acho que cabe aos mais velhos,inda que vá se deparar com o fenômeno de que só temos bocas e os jovens,não tem ouvidos,pra tarefa de difundir riscos e esperanças!

  2. Sr.Fernando.Não lhe sei a idade,contudo parece-me estarmos em quadras semelhantes,na quarta entrância!Quero,como fizera em outro comentário,que devemos,embora saibamos que só temos bocas e os jovéns não tem ouvidos,insistir em nossas tarefas de mais velhos,tentar instigas os jovens,em sendas que nos parecem mais promissoras,inda que nos deparemos com obstáculos que mencionei.Também é oportuno constatar,que os mais velhos,trazem em si,saudades de qualque coisa que lhes remeta à juventude,seja o que for.Não é incomum,nos depararmos por isto,com comportamentos contraditórios,em relação ao passado,que quase que invariavelmente,os remetem a posições pouco sábias.Quero colocar que presenciei Ha alguns anos atráz,quando da reeleição de Lula,um argumento usado por um irmão meu,numa roda de mais velhos,onde se discutia a providencial vitória de Lula,nosso cndidato,cujo argumento,embora colocado de uma forma jocosa,a ameaça de que se não vorassem em Lula,o governo iria tirar do mercado,comprimidos de ISORDIL.Claro que tal brincadeira,embora tenha surtido seus efeitos,nos lev a crer,que também os mais velhos,devam ser instigados a cumprir seus tão decantados conhecimentos,em prol do interesse da maioria.

  3. LULA não é só um líder, é também um exímio pensador. Para o bem desse país, que ele tenha uma vida longa…

  4. Vivemos num país democrático, com leis e constituição, os Black Blocs são foras da lei e agridem a constituição…cadeia neles!

  5. Talvez míope sejam os que ainda acreditam nesse discursinho hipócrita do PT sobre forças conservadoras, direita brasileira e blá blá blá…

    Lula foi eleito com José de Alencar como vice!

    Quem foi J.A?

    Quem é o vice de Dilma? heim?

    Me respondam por favor!!!

  6. essa fantasia de “operário chegou à presidência” não diz nada em relação a dar as respostas para os problemas reais do povo brasileiro. Lula exerceu o “seu” poder; não quer dizer que a classe trabalhadora o exerce.

  7. Fernando, acabei de ler o discurso do Lula. Fiquei chocado de como um discurso desse não teve sequer uma frase mostrada nos telejornais. E principalmente o que diz respeito à juventude. O JN nem sequer mostrou o presidente, o único destaque que deram e as únicas imagens que mostraram foi daquela pequena confusão com um fotógrafo.
    Agora tenho certeza, a imprensa é o grande mal deste país. Porque, se tem político corrupto que se elege é porque a imprensa sempre batalhou para deseducar o cidadão e fazer com que ele não ligue nem se interesse em saber e investigar os políticos e os partidos.
    A imprensa de Mercado é um câncer que corrói o futuro do país. E quando quase ninguém, pois os mais jovens não gostam de política, acreditar mais nas instituições? Para onde irá o país?
    Estamos num momento decisivo: se perdermos os debates com a juventude, será o fim do futuro do Brasil. Vamos à batalha, vamos democratizar a comunicação!!

  8. Eu cheguei a ver a matéria ontem nO Globo… e ainda falando da escorregadela no português, haha. Não vi ainda post da Dilma Bolada zoando, mas que essa merecia, ah, merecia!

  9. Fernando, só uma ressalva. Luiza Helena é superintendente do Magazine Luiza e não dona. Pelo que me consta ela tem uma participação acionária de 15%, a dona mesma com 50 % é a tia dela.

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