O ‘physique du rôle’

Indagam-me alguns leitores porque não trato das notícias sobre supostas ameaças feitas por Jair Bolsonaro a uma ex-mulher.

Porque, claro, não tenho elementos para dizer se houve – como sugerem as narrativas da época, registradas pelo Itamaraty – ou se não houve, como diz a própria vítima.

Então não trago isto para o campo da polêmica, devendo ficar no campo dos registros históricos, onde está.

O que importa constatar é que o senhor Bolsonaro, aí sim publicamente, construiu uma imagem de brutal misoginia que combina com a situação, sugerindo que mulheres mereçam tratamento inferior e até estupros e que, por isso, acaba por se encaixar perfeitamente no papel que lhe é atribuído.

E não apenas assim, mas dando protagonismo a figuras, como a de um conhecido ator pornô que virou estrela de sua companhia.

Ainda assim, não pratico o “não tenho provas, mas tenho convicções”.

Jair Bolsonaro, que merece cada miligrama do repúdio que lhe devem dar as pessoas lúcidas, também merece a presunção de inocência que, agora, virou regra negar.

E nós, brasileiros, merecemos que o combate político – ainda que duro, duríssimo – seja travado na política, não no lamaçal de moralismo estúpido que eles próprios promovem, inclusive com invocação de Deus e Família, como nos tempos da TFP.

Aliás, por métodos, como se está vendo nas histórias escabrosas dos relacionamentos do sr. Donald Trump, que já desceram a detalhes anatômicos, uma “porno TFP”.

Nem pela audiência fácil que isso daria, o blog não morde o cachorro como forma de luta.

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11 respostas

  1. Mesmo que eu critique de forma incisiva a opção de Fernando Brito pelo “plano B”, como se fosse uma espécie de “é o que temos para hoje”, continuo sendo fiel leitor deste Tijolaço porque o Jornalista que o edita mostra que ética e profissionalismo podem perfeitamente conviver com o jornalismo militante. O candidato nazifascista merece nosso repúdio e nossas mais duras críticas; mas nem por isso devemos agir como ele, negando-lhe os direitos assegurados em Lei.

  2. Em outras palavras, Brito: caráter. Tratar qualquer um (mesmo o Côiso) como nós mesmos gostaríamos de ser tratados. Algo em grande falta na vida brasileira. Só posso aplaudir a aula de humildade e justeza. Queria que metade dos juízes do STF pensassem assim.

  3. Por este tipo de matéria que faz acompanho-lo todos os dias. Comentei com minha esposa sobre este caso do Bolsonaro, independente se é verdade ou não, por que só trouxeram a público agora? Com certeza, para influenciar nas eleições. Temos que discutir propostas para nosso país. O combate é na politica e nas ideias. Parabéns Brito!!!!

  4. Boa tarde. E não há nada que pareça não aferir que a temporã indignação da mídia bandida seja tentar (eu disse tentar) ressuscitar o moribundo “homem do merchadus“, tarefa, digamos, das mais inglórias. Não devemos entrar nessa. O que Haddad está fazendo, uma campanha totalmente propositiva, não deve deixar de o ser. Ao fim e ao cabo, com Haddad eleito, espera-se, podemos demarcar o novo (?) modo de fazer política: com propostas. Deixemos o barraco para o lado da caverna do ostracismo.

  5. É decente jornalista,honesto cidadão,ético. Coisa rara Brito,tudo isso justifica o crescimento de Tijolaço,sim será uma Honra indo ao Rio te pagar um chopp.

  6. Poxa vida! Como me sinto bem lendo Fernando Brito e o seu Tijolaço.

    Como diriam Tom e Vinícius:

    “Existiria a verdade
    Verdade que ninguém vê
    Se todos fossem no mundo iguais a você.”

  7. Por isto é que eu gosto do Tijolaço.
    Minha avó paterna diria, ‘fils, la noblesse oblige’.

  8. Parabéns Fernando Brito pela lucidez de sempre. Não podemos, às vesperas da eleição, cometer o erro de repetir as estratégias “do outro lado”, que tanto repudiamos. Devemos sim, a todo momento, mostrar que o debate se dá no campo das idéias, e não descambar para as baixarias que, inexplicavelmente, lançam mão os bolsominions… É bom sempre lembrar do que disse Mark Twain: “não discuta com imbecis. Eles vão rebaixar a conversa para o nível deles, e aí vão te vencer pela experiência.”

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