Quem acompanha este blog, sabe que aqui não se entra em “tretas”.
Tretas são uma espécie de fofoca 2.0, disse me disse turbinado, uma conversa da vila cibernética.
Igual, não entrarei desta vez.
Só peço atenção para que se veja o que isso vai fazendo com o nosso comportamento.
Já não temos adversários, temos inimigos, contra os quais copiamos os métodos que eles próprios utilizam.
Vai se universalizando o coice, de pata direita ou canhota.
Fazer do xingamento a tábula rasa da crítica é conceder uma vantagem aos torpes, aos ignorantes, aos obtusos.
É nos convidar a agir, falar e escrever com o que de pior existe em nós.
Não se pode distribuir o fascista como eles distribuem o “esquerdopata”, porque as práticas destes sujeitos, na maioria dos casos, nem fascistas são: estúpidas, grosseiras, agressivas e, afinal, um amontoado de chavões obtusos.
Lebro das palavras de Graciliano Ramos, no seu Memórias do Cárcere: “não caluniemos o nosso pequeno fascismo tupinambá, pois quando formos verazes, ninguém nos dará crédito”.
Vi, agora há pouco, um artista, na Alemanha, que enganou o Google. Puxando um carrinho com 99 celulares, fez o Grande Olho acreditar que a rua deserta em que caminhava estava apinhada de carros e engarrafada.
Naqueles espaços de comentários, a minionlândia o chamava de idiota, desocupado, esquerdista (talvez porque artista) e outros istas.
Não conseguiram ver ali a ilustração da ideia de que ainda podemos superar e iludir a máquina, que a mente humana, seu engenho e arte, consegue driblar o algoritmo como as pernas curtas, tortas e “bichadas” driblavam os zagueiros-armários.
Por isso, nesta história do Pedro Bial, prefiro apenas reproduzir o diálogo que o escritor Zê Carota imaginou no seu Facebook.
Quebra-se a banca do distinto cidadão com os versos do Billy Blanco: “Mais alto o coqueiro, maior é o tombo do coco afinal”.
the end
– alô.
– é o pedro bial?
– sim. quem tá falando?
– um produtor independente de Hollywood.
– amazing! how can i help you, sir?
– pode falar em português, eu entendo.
– perdão. em que posso servi-lo, mister?
– vou produzir uma cinebiografia do roberto marinho, lembrei de você.
– siiiiiiiimmm! vou lhe mandar os originais da biografia que escrevi do doutor roberto!!!
– eu sei, mas não precisa. não liguei por isso.
– desculpe, mas então é pra eu fazer o quê?
– você é jornalista, certo?
– sim.
– então tem muitos contatos.
– tenho.
– ótimo. tem o telefone da diretora Petra Costa?
– clic!
23 respostas
Você é muito bom no faz! Obrigada
Otimo!
Incrível! Entre o artista e o Google, o pessoal torceu para o Golias???
Para o golias, para o barrabás, para o colonizador, para o senhor de escravos, para o soldado gringo nos países invadidos, para o capitão…
Infelizmente, tem muita gente que torce para o lado maior, mais forte, mais violento. Alguns, por se verem validados e refletidos na violência. Outros, por acreditarem que vão se beneficiar de algum modo escolhendo o lado que seria uma aposta mais segura como “vencedor”.
——Já não temos adversários, temos inimigos, contra os quais copiamos os métodos que eles próprios utilizam.—-
A história reconhecerá o justo da minha posição,mas,não estarei vivo para ve-la triunfar.
Isso é muito elevado espiritualmente ,mas pouco prático,até lá terão ido muitos inocentes ,que não teríam perecido se EU tivesse enfrentado os câes raivosos.
Não se dialoga com câes raivosos ,enfrenta-los é nossa obrigação ,ainda que para isso devamos descer.
O problema é não ser ciente do terrível que foi necessário fazer para derrota-los.
“hay que endurecerse ,sin perder la ternura jamás” o Che sabía disso.
Obrigada, mais uma vez, Fernando brito. Ainda outro dia a gente comentava, em grupo pequeno, como estamos ficando mais agressivos, imaginando os castigos mais cruéis, xingando a torto e a direito. Vc nos faz lembrar que a ironia e a elegãncia ainda são armas que dispomos, mesmo que os chucros da vez não entendam.
A inteligência HUMANA!? Lógico!!!! Grato Fernando.
Alguém lembra do Bial em 1998 falando que balé é coisa de veado? Ao vivo no Fantástico? tem até no youtube…
Deve ser muito engraçado o pedro bial dançando nas pontas dos pés……
Depois de ser surrado ele diria q apanhar ja e ruim imagina de um viado
Me lembro dele num Hollywood Rock delirando com “bumbum” do Axel Rose.
Kkkkkk
Parabéns, Fernando. Um dia eu chego lá. S[ó de ler o que você escreve.
link para a performance do artista
Muito nobre e civilizado da parte do Brito. Mas nós, “esquerdopatas”, desde o início desse pesadelo temos feito tudo para nos mantermos civilizados e corretos. Por conta disso, só ganhamos xingamentos, ofensas, calúnias e golpes abaixo da cintura,Convivendo com tantos eleitores do bozo, cheguei à conclusão que, como não há conversa ou argumentação possível com esses zumbis imbecilizados e terraplanistas, me sinto bem melhor em infernizá-los, ridicularizá-los e desnudar suas almas podres. Não resolve nada, é certo.Vivemos na prática uma guerra civil, com inimigos, também é certo. Então, prefiro morrer atirando do que atirar pérolas a porcos fascistas (fascistas sim!).
Meu caro, isso nada tem a ver com ser duro naquilo que é decisivo, efetivo. Tem a ver apenas com manter a superioridade dos civilizados, para que não nos descivilizemo-nos.E, portanto, que sejamos mais racionais e eficazes no combate à treva
Em ter., 4 de fev. de 2020 às 19:02, Disqus escreveu:
Concordo em parte, Brito. Acontece que sou de Curitiba e estive presente em várias situações delicadíssimas em que a vigília foi atacada por fascistas, tanto da pm como do “povo”. Foi aterrorizante e revoltante, e eu realmente acho que, cedo ou tarde, a resposta vai ter que ser BEM mais dura. Caso contrário, o que a gente poderá fazer? Chamar a polícia?
Concordo com vc “Virginia” ,o oposto é morrer com a certeza da justiça,mas,MORRER.
E isso a quem serve??? ajudou a civiliza-los? não ,os fez mudar de opinião ? não ,mas eu morri puro .Legal ,mas ,INÚTIL.
Fernando, sempre acho suas análises interessantes e perspicazes, mas no caso do “Democracia em Vertigem” não me parece que seja simplesmente uma treta. A questão é a da leitura dos acontecimentos que levaram ao golpe. De um lado aqueles que pelos interesses que defendem não conseguem fazer uma crítica cinematográfica do filme e por isso atacam a diretora. Lembro – me de 1964, onde os acontecimentos eram chamados de “revolução” e quem falasse em golpe poderia ser preso. Mudaram as circunstâncias o processo é outro e Petra nos mostra isso:
“O filme fala sobre o fenômeno global de como as democracias morrem hoje. Não com tanques, não com os militares assumindo, mas com a erosão das instituições, a disseminação de fake news, e campanhas de mídia social”
Isso que é insuportável para a direita.
Não é que o cao do filme seja uma treta, são as tretas que se desenvolvem sobre isso, onde a qualidae do documentário não é o centro da polêmica, mas a política
Em ter., 4 de fev. de 2020 às 21:03, Disqus escreveu:
Isso, isso, isso!
Por que não pensamos nisso antes?
Não entrar em tretas, manter o “fair play”, por panos quentes, não revidar, …
Afinal essa estratégia já deu certo antes: lembra dos judeus que bem diziam que era melhor não confrontar, ceder, ir para os guetos, não criar problemas? Pois é, tudo acabou bem para eles, não é mesmo? E tudo é suportável quando acaba bem.
Perder o fígado ou a saúde por uma batalha contra piranhas: difícil achar produtivo. Os séculos hão de se amontoar sobre todas as tretas e nenhum argumento vai transformar um direita num esquerda. As pessoas não estão diferentes do que sempre foram, mas ultimamente têm feito ressonar sua estupidez com a ajuda de tretas assim num mundo que vive de hashtag. Saber reconhecer que um elemento vai se comportar como uma piranha e evitar replicar a virulência parece um conselho de ouro. (me comovi mais por ter acabado de ter clicado num link da notícia do artista e me deparar ingênua com um comentário que me encheu de indignação, mas um raio de sabedoria me tirou dali.)
Fernando Brito, passo por aqui para partilhar o vídeo do Breno Altman que achei ótimo. Breno é sempre comedido, muito educado, sereno, e, eu nunca o vi entrando em tretas. Até me surpreendeu porque nesse vídeo ele deu o nome aos bois e achei muito bom. Chamou Bial e Bozo de salafrarios. Verdade. Contudo, o vídeo é na verdade um convite para nossa união com um grande sorriso no rosto e com pipocas em frente da TV no dia 9; para torcermos para que Petra GANHE. Se não ganhar pelo menos dessa vez nós ganhamos. Já adotei o sorriso e conto com o seu e da turma fantástica que aqui escreve. Vamos q vamos ?????????????????????????????????
Não estou conseguindo copiar o link do Breno …
Veja o canal Opera Mundi de hoje, 5/2/20, os 20 minutos com Breno Altman. Abs.