Se alguém pudesse crer na súbita conversão ecológica de Jair Bolsonaro, o episódio do afastamento do delegado que apontou o envolvimento do ministro Ricardo Salles em irregularidade com madeireiros no Amazonas deu a este ingênuo um choque de realidade.
A sinceridade ambiental do Governo Bolsonaro tem os números de nossa penúria: pretende que os EUA nos dêem US 1 bilhão (R$ 5,67 bilhões, hoje) para reduzir em 30% o desmatamento ilegal.
O dinheiro, porém, não é o maior problema.
200 organizações de proteção ao meio-ambiente disseram, em carta aberta a Joe Biden, que ““não é razoável esperar que as soluções para a Amazônia e seu povo venham de negociações feitas a portas fechadas com seu pior inimigo”.
Apesar do argumento de que a proteção ambiental não pode esperar “a mudança de presidente”, como mencionam fontes da Casa Branca, Biden não tem motivo para firmar um acordo generoso com o Brasil.
Se acontecer, não apenas será progressivo e, inevitavelmente, com cláusula de controle na aplicação dos recursos e com exigências de governança que incluam não só no uso, mas também na fiscalização, as Organizações Não Governamentais tão odiadas por Jair Bolsonaro.
Pode ser que haja,, também, pressões para a retirada de Projeto de Lei mandado por Bolsonaro à Câmara “regulando” as atividades de mineração em terras indígenas.
É claro que o discurso bolsonarista vai apontá-las como “sabotadoras” da ajuda internacional.
Do lado de lá, Biden tem duras negociações com a Índia e a China, cuja expansão industrial leva a graves problemas de poluição e não tem porque enfraquecer posições diante do Brasil e justo na questão amazônica, que é ponto de forte atenção da opinião pública internacionais.
Bolsonaro pode estar simulando um abrandamento de sua voracidade ambiental, mas Biden não deve conceder muito.
E o nosso presidente, não podendo mandar atear fogo à floresta, certamente vai incendiar seu suposto nacionalismo.