No Washington Post, o drama dos moradores de rua que voltaram a encher as calçadas de Copacabana e a de toda parte.
No Le Monde, a “democracia em decadência” do Brasil.
Em Davos, as poltronas vazias, parte delas ocultas por biombos, eram dois terços da audiência de Michel Temer, para dizer, com intenção reversa, uma verdade.
O Brasil voltou.
Sim, voltamos ao que estávamos deixando de ser, uma imensa, gigante, continental nulidade no mundo.
A visão do mundo, por mais distante, é mais nítida.
E lambamos os beiços se não voltarmos mais, com o vórtice do fascismo aberto à nossa frente, pelas obsequiosas mãos de senhores togados, prontos a ver “vantagem indevida” em que não recebeu coisa alguma, mas que não veem vantagem indevida para si, quando embolsam alguns milhares de reais de auxílio-moradia, todo mês, para morarem em apartamentos que são seus – com escritura e tudo.
Voltamos, sim.
Voltamos a ser o país da liquidação do patrimônio nacional, como com Fernando Henrique.
Voltamos a ser o país onde um vice imbecil ostenta a faixa presidencial e forma seu “centrão”, como com Sarney.
Voltamos a ser um país onde um aventureiro trovejante é inflado como candidato presidencial, em nome de exorcizar a esquerda, como com Collor.
Entramos num túnel do tempo e, como no velho seriado de TV, dá para sentir a eletricidade estática no ar.
A classe dirigente não a percebe e faz da política simples aritmética: se um lado perde, outro ganha.
Não percebe que há um insondável na vida das coletividades e que pode estar a poucos passos de ser tragada por ele.