Os bolsonaristas ainda não deixaram Bolsonaro

A pesquisa Genial/Qaest sobre as avaliações de governo – do atual e do próximo – “pula” questões essenciais, como o julgamento público das manifestações golpistas contra o resultado das eleições, o que seria, é claro, um dos principais elementos a serem medidos por qualquer levantamento sobre as expectativas políticas dos brasileiros.

Do que foi publicado até agora, a pergunta sobre o fato de Bolsonaro ter questionado o resultado das eleições passa perto, é verdade, mas não é o mesmo que aquela avaliação, porque questionar um resultado não é o mesmo que bloquear estradas ou acampar na porta dos quartéis pedindo um golpe militar.

Ainda assim, são preocupantes os números que reproduzo aí em cima.

Os 70% de eleitores de Bolsonaro que aprovam sua insubmissão à vontade expressa nas urnas equivalem a algo como 30% de todos os entrevistados e isso representa um contingente muito maior do que o “bolsonarismo-raiz”, que fala com extraterrestres e enxerga comunistas até debaixo do tapete.

Não são pessoas que simpatizem com a esquerda, mas a maior parte não é, também, de extremistas de direita, nazifascistas que saíram do armário.

São as pessoas que se impregnaram da onda de ódio político que nos dominou na última década e que cedo ou tarde se reencaixarão numa posição conservadora, mas não selvagem.

Infelizmente, isso não é simples e é só olhar o que aconteceu nas próprias eleições, quando um personagem abjeto como Jair Bolsonaro foi um voto tolerável para gente que sufragaria o próprio demônio para não dar um voto a Lula e ao PT.

É paradoxal, mas verdadeiro, que, além de fazer um governo popular e desenvolvimentista, Lula vá ter de contribuir para que esta centro-direita se reorganize política, partidária e eleitoralmente.

Se estes grupos políticos entenderem que precisam, para sobreviver, exorcizar o bolsonarismo da vida política, isolando os fanáticos e incondicionais da ultradireita, formarão a base do próximo governo. Do contrário, continuarão, com emendas e tudo, a serem postos de lado como foram nas eleições de outubro, nas quais, no Centrão, apenas o PL bolsonarista ampliou o número de cadeiras.

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