Os Bolsonaro e os currais eleitorais da milícia. Por Luiz Erthal

Do jornalista Luiz Augusto Erthal, no resistente jornal Toda Palavra, de Niterói:

Pai e filho, Jair e Flávio Bolsonaro têm em comum, além dos laços de família e do ideário conservador, uma quase total similaridade nos mapas eleitorais compostos pelo último pleito, que os guindou, respectivamente, à Presidência e ao Senado da República. Até aí nada a estranhar, já que os dois são do mesmo partido (PSL) e fizeram campanha juntos. A coincidência suspeita, porém, está no fato de que metade das 20 zonas eleitorais que lhes deram as maiores votações na cidade do Rio de Janeiro estão em áreas dominadas pela milícia.

O levantamento foi feito pelo cientista social e jornalista – especializado em jornalismo de dados – Fábio Vasconcellos e está publicado em seu blog . De acordo com as informações, dez das vinte zonas eleitorais cariocas onde Flávio e Jair Bolsonaro foram mais votados englobam regiões demarcadas pelos mapeamentos do crime organizado feitos pela polícia do Rio como áreas de forte presença de grupos paramilitares. Essas áreas se concentram principalmente na Zona Oeste do Rio de Janeiro, como mostram as tabelas. (veja  abaixo).

A simpatia dos dois políticos com as práticas da milícia é pública e conhecida. No entanto, no caso do senador eleito está sob investigação do Ministério Público fluminense a suspeita de que o seu envolvimento com a milícia vai além da simples simpatia, o que torna relevante a informação de que seus votos estão fortemente consolidados em redutos eleitorais do crime organizado.

Não é de hoje que a milícia trabalha para eleger representantes. Inicialmente a atividade eleitoral associada ao crime organizado se dava principalmente no âmbito municipal e se fazia visível sobretudo na Câmara do Rio – caso exemplar o do vereador Jerominho, ligado à milícia de Rio das Pedras, que acabou cassado, condenado e preso. Mas os paramilitares passaram a cobiçar escalões mais altos da política, trabalhando a favor de candidatos à Assembleia Legislativa, à Câmara dos Deputados e até mesmo a cargos majoritários.

A dois meses das eleições de outubro do ano passado, o coordenador da fiscalização de propaganda do TRE-RJ (Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro), juiz Mauro Nicolau Júnior, manifestou a sua preocupação com a participação do crime organizado no pleito. Falando a jornalistas no dia 2 de agosto, ele disse que cerca de 2 milhões de eleitores votam em áreas consideradas de risco na região metropolitana fluminense. São locais cujas zonas eleitorais têm algum tipo de ameaça à segurança pública, como a atuação de milícias e outras organizações criminosas.

“É um número bastante significativo e que decide qualquer eleição”, declarou o magistrado, deixando claro que a atividade criminosa eleitoral se dava em todos os níveis de cargos eletivos.

O então ministro da Justiça, Torquato Jardim, também havia confirmado essa ameaça à democracia brasileira um ano antes das eleições, ao participar do seminário “Eleições 2018: a democracia em debate”, organizado pela Ordem dos Advogados do Brasil, Segundo anunciou àquela época, a força do crime organizado em comunidades e favelas do Rio de Janeiro, incluindo o tráfico de drogas e milícias, seria um desafio a ser enfrentado no pleito que se aproximava.

“No Rio de Janeiro, o crime organizado está livre para eleger quem quiser. Já está mapeado no TRE [Tribunal Regional Eleitoral] daqui, nas 850 zonas de conflito dentro das comunidades cariocas, quais são as seções eleitorais e quem ganha mais votos naquelas seções. Isto está documentado, é desafio para os serviços de segurança, para as eleições no ano que vem, no Brasil e no Rio de Janeiro em particular”, revelou o ministro durante o seminário realizado no dia 6 de outubro de 2017, no Rio.

Esse levantamento pode ajudar a depurar mais os dados pesquisados agora, com base nos boletins de urna das eleições de 2018, por Fábio Vasconcellos e servir, inclusive, como subsídio às investigações do MP. Procurado pelo Toda Palavra, o TRE-RJ confirmou, através de sua assessoria de comunicação, a existência do levantamento, mas alegou o caráter sigiloso das informações, negando ao jornal acesso aos dados.

O jornal pode ser lido aqui, em versão digital.

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18 respostas

  1. “seria um desafio a ser enfrentado no pleito que se aproximava.”

    O único desafio que nossa justiça enfrentou foi MANTER LULA PRESO. O resto deixou rolar à vontade.

  2. Excelente trabalho feito pelo Fábio Vasconcelos. Infelizmente ele não saiu da frente do computador para visitar estes bairros e ver que essa cambada toda que votou no bozo e filhotes são todos evangélicos e não saem de dentro dos templos onde recebem instruções dos milionários pastores, intermediários da palavra de deus.

  3. Li em algum lugar (infelizmente não lembro onde) uma informação que, se verdadeira, é relevante para entender o que acontece nessas regiões.
    Segundo essa fonte, dois dias antes das eleições os líderes das milícias de cada região (curral eleitoral) mandaram recado para os eleitores que a ordem era votar apenas no PSL ou em quem apoiasse Bolsonaro. As comunidades onde esses políticos não recebessem votação expressiva e vitória contundente, sofreriam, indiscriminadamente, as consequências, notadamente o aumento da violência.
    Se assim for, fica claro que os eleitores são reféns das milícias e que representantes dos milicianos nessas regiões são eleitos e chegam ao poder pelo medo e não pelo respeito.

    1. Também li, acho que foi no GGN, do Nassif. Se não me engano foram dois especialistas em milícias que disseram em entrevistas publicadas no GGN.

  4. Será que havia, dentro da cabine de votação, um representante da milícia para verificar ou até mesmo votar pelo eleitor?

    1. Logicamente não é assim que funciona. O morador do bairro sob jugo já viu dezenas de barbaridades com vizinhos, amigos ou sentiu na própria pele a truculência, e a última coisa que ele vai querer é uma onda de violência, todo mundo tem um filho que não deseja que acabe em uma poça de sangue só porque estava no lugar errado na hora errada. Ele prefere votar no indicado pela milícia do que pagar para ver; lembre-se que por exemplo Bolsonaro se elegeu SETE vezes deputado, imagine há quantas décadas esse esquema funciona. Quem vai tomar as diores do bairro que ousou dizer não a esses caras? Temos é que parar de culpar a vítima.

  5. Jair Messias Bolsonaro conseguiu realizar o sonho do megatraficante colombiano Pablo Escobar – colocar o crime organizado na Presidencia da Republica. E isso na oitava economia do mundo, com a quinta populacão mundial. Isso mostra a degradação moral e intelectual do povo brasileiro.

  6. Vocês ainda acreditam que a justiça vai divulgar os mandantes e os nomes dos jagunços?
    Os ratos saíram das piscinas …

  7. Isso é que precisa ser feito: trabalhos desse tipo, desconstruir cientificamente, com razão, com dados e estatísticas as falácias e palavras de ordem da direita mais abjeta do mundo inteiro.

  8. Não adianta culpa o BOZO ele só ocupou o vácuo deixado pela ex-querda que se trancou no ar condicionado dos gabinetes e abandonou o povo à própria sorte, em vez de politiza-lo preferiu torna-lo consumidor egoísta e conservador. Com essa cirandas e banderolas deixou o povão à mercê da mafia de evangélicos graneiros da bandidagem geral.

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