Os vendilhões

Bolsonaro promete a Adriano Pires, o novo presidente da Petrobras, privatizar a Petrobras, “que dá muita dor de cabeça”. Sergio Moro também promete aos empresários que pretende passar a empresa nos cobres.

A maior empresa brasileira, que nos tirou de uma dramática dependência de petróleo estrangeiro e fez nosso país passar de importador a exportador de petróleo, dobrando a produção em duas décadas, líder mundial em tecnologia e o mais poderoso impulsionador da indústria nacional é tratada assim, como um problema do qual querem livrar-se, pela simples razão de que não sabem administrá-la.

Importamos pouco mais de 20% do óleo diesel que consumimos e perto de 15% da gasolina, não porque não tenhamos petróleo para produzi-lo, temos de sobra.

Mas estávamos lentamente superando o maior gargalo deste problema: nossas refinarias, antigas, eram adequadas ao perfil do nosso petróleo há 30 ou 40 anos atrás, quando ele era na maioria vindo do pós-sal, da Bacia de Campos (hoje em declínio produtivo) e o novo perfil do óleo brasileiro é leve, vindo do pré-sal.

São quase 2 milhões de barris por dia, 70% da produção nacional, produzindo numa escala dificilmente igualada no mundo (cerca de 90 poços, apenas, com imensa produtividade, o que leva a um custo de cerca de 7 dólares o barril, coisa de 15 vezes menos que o preço do mercado internacional.

Construir refinarias, uma necessidade, é, porém, obra bilionária, lenta e de demoradíssima recuperação do investimento, tanto que, não sendo monopólio estatal, raríssimos capitais privados, daqui ou de fora, se interessam por isso. Havia planos, que foram sendo descartados ou paralisados. Abreu e Lima, em Pernambuco, ficou menor que o planejado; o imenso Comperj, no Rio, foi paralisado, as refinarias no Ceará e no Maranhão tiveram seus planos postergados e abandonados.

Sobre a do Ceará, uma curiosidade: perguntem à Eliane Cantanhêde que fim levaram os planos da Thyssen, uma multinacional alemã, que em 1998 anunciou que iria fazê-la com investimentos de US$ 1 bilhão? Naquele longínquo século 20, a Folha a mandou lá, para anunciar o bendito fruto da quebra do monopólio estatal.

Mas tudo agora ficou pior, porque com tamanha diferença entre o preço de produção e o de venda na exportação, construir refinarias não desperta apetite nas administrações “lucro fácil e rápido” da companhia e, em nome disso, resolveu-se não fazer e vender o que havia pronto e funcionando. Idem para os programas de construção naval, de petroleiros e sondas.

Frete-se, alugue-se, se só interessa o dinheiro entrando rápido e não criando estruturas produtivas. Os acionistas privados (63% do capital da Petrobras, agradecem. Aliás, também na crise dos fertilizantes, outro efeito da guerra, é o mesmo: arrendaram-se as fábricas de fertilizantes nitrogenados da Bahia e de Sergipe, fechou-se e Fafen-PR, alem de paralisar-se a quase pronta unidade de fabricação de amônia em Três Lagoas (MS) agora sendo repassada para uma empresa russa que, é obvio, não terá condições de investir.

Comemoram-se os lucros recordes – que é para eles que vai – e maldizem-se os preços recordes?

Essa gente passará e a Petrobras, ano que vem, em outubro, quando se completarem os 70 anos de sua criação por Getúlio Vargas voltará a ser uma dor de cabeça só para os que não creem no Brasil.

 

 

 

 

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