Petra, como Fernanda, venceu mesmo que não ganhe o Oscar

Acho que nunca vi um Oscar na minha vida, talvez a fragmentos das premiações.

Não o farei hoje, senão porque tenho exames médicos, amanhã, bem cedo e em Niterói, porque bussiness are bussiness e não há melhor negócio para os EUA que o cinema.

O documentário de Petra Costa, Democracia em Vertigem, tal como aconteceu com Fernanda Montenegro, “já ganhou”, mesmo que perca para outros que, igualmente bons filmes, falam do que mais agrada o establishment: a invasão econômica chinesa e o impasse político na Síria.

O veterano cinéfilo e crítico Sérgio Augusto, que li no blog do Marcelo Auler, diz, com propriedade, que o documentário de Petra é mais bem medido pelo que e por quem se contorce com o seu reconhecimento.

Este é, acima de toda a qualidade técnica que a Academia reconheceu ao fazê-la uma indicada entre centenas ou milhares, a contradição com o discurso oficial.

Tão claro é isso que o governo brasileiro a tenta desqualificar, oficialmente.

São assim todos os grandes documentários, do contrário nos bastariam os telejornais.

Um documentário de valor mostra a contra-narrativa, do que todos vimos pelo espelho da mídia, como foram os clássicos Corações e Mentes e Tiros em Columbine.

Já o jornalismo sem valores foi capaz de aceitar a fraude, a manipulação e a apologia à ditadura e à tortura.

Possivelmente, com a vitória de produções mais convenientes ao status quo – torço para estar errado – amanhã o pântano bolsonarista estará comemorando como uma vitória e vitória a que faltou um milímetro para Petra Costa.

Pois é o contrário: Petra foi longe demais ao colocar a agonia da democracia no Brasil como um tema essencial num mundo que deixou de nos considerar.

Democracia em Vertigem, podem crer, é a maior conquista diplomática de nosso país nos últimos anos, voltamos a ser um entre próprio, aquele que não aceita ser o quintal de ninguém.

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10 respostas

  1. Minions na torcida pelo Oscar, pra ver se a mídia esquece das coincidências PSL, bolsonaros, milícias…

  2. Minions na torcida pelo Oscar, pra ver se a mídia esquece das coincidências PSL, bolsonaros, milícias…

  3. O que o documentário diz é que nossa elite enjoa da democracia na trajetória histórica do país. Depois da quarta vitória do PT contra o PSDB, pegaram um parecer encomendado pelo PSDB por 45 mil reais de Hélio Bicudo, Janaina Paschoal e Miguel Reale Júnior apontando de forma precária, absurda, inconsistente crime de responsabilidade em decretos de suplementação orçamentária e plano Safra do Governo Dilma. Ai o bandido do Cunha aceita e abre o processo de impeachment e Anastasia (PSDB) dá o golpe final. Mas o golpe do impeachment não era suficiente. Em seguida, arranjaram um bando de reacionários no Sul do país (Paraná e Rio Grande do Sul) para investigarem, denunciarem e condenarem em primeiro e segundo graus o principal candidato da esquerda (Lula) por um triplex sem posse, propriedade e atos jurídicos indeterminados. Onde está a ficção, Bial?

  4. Só há uma vitória possível contra esse governo: derrubá-lo. Não há nada mais que seja capaz de conter o desmonte do país, o assassinato de indígenas e classes menos favorecidas, incluindo-se aqui os LGBTs, mulheres e negros e a destruição completas do meio ambiente. Reverter essa situação será muito mais difícil, mesmo com a queda desse desgoverno.
    Nos contentamos com as migalhas dessa visibilidade que Democracia em Vertigem nós permite, mas a verdade é que o mundo todo saber que foi golpe e não está nem aí, exceto, talvez, pelo desconforto que lhes causa a destruição da longínqua floresta tropical.

    1. Clap clap clap. De pé. E digo mais: para os colonizadores a preocupação com a Amazônia não passa de white guilt, culpa branca.

      Obama, que produziu o documentário premiado sobre o “Perigo Amarelo” em plena Guerra Fria 2.0, espionou Dilma e a Petrobrás nos anos precederam o golpe e o lavajatismo foi gestado no DOJ norte-americano.

  5. O filme Democracia em Vertigem faz retornar à condição de mentira uma mentira que estava sendo tida por grande parte dos brasileiros como verdade.

    Esta mentira, que na verdade é um amplo conjunto de mentiras entrelaçadas, tem sido a sustentação toda a justificativa do regime implantado pós-ruptura democrática de 2013/2016. E o filme contribui poderosamente para a destruição desta sustentação. Quando acontecer dela ruir, e isso vai se dar muito em breve, vai deixar o atual regime e seus governos inteiramente desprovidos de razões morais e materiais para existirem.

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