Primeiro, a soja; agora, a carne: o desastre da diplomacia ideológica

Todo o discurso de Jair Bolsonaro é o de que ele vai mudar uma suposta “ideologização” do Estado: no ensino básico, nas universidades e na diplomacia.

E toda a prática de Jair Bolsonaro é a de levar ao paroxismo essa ideologização.

Na educação, o resultado foi uma tragicômica paralisia do MEC, palco de uma batalha entre o astrólogo Olavo de Carvalo e os militares,

Na diplomacia, o desastre ainda não é tão perceptível, mas é claramente anunciado.

Primeiro, tirando toda a autonomia do país em relação às suas transações comerciais com a China, ao nos colocar como caudatários dos interesses de Donald Trump, empenhado em resolver o quanto antes seus contenciosos comerciais com o país asiático.

Os Estados Unidos, nosso maior concorrente na exportação de soja para os chineses, agradecem, penhorados, o fato de, na prática, ficarmos reféns do que eles acertarem com a China, porque abrimos mão, sem nenhuma vantagem em troca, de políticas comerciais autônomas.

Agora, vem a desnecessária provocação aos árabes com a abertura de um inócuo escritório comercial em Jerusalém, que já provocou reações dos palestinos e provocará uma sucessão de outras.

Os países da Liga Árabe importaram, ano passado, US$ 11,5 bilhões do Brasil, contra uma importação de US$ 7,6 bilhões.

Para Israel, exportamos 36 vezes menos: US$ 321 milhões. E temos déficit, pois as importações de lá chegaram quase a US$ 1,2 bilhões.

Nada menos que metade das nossas exportações de frango e 20% das de carne bovina foram na categoria “halal”, onde os animais são abatidos segundo as tradições do islamismo, o que faz do Brasil o fornecedor de 51% do consumo de proteína animal no mundo árabe.

É evidente que não perderemos todo este mercado no curto prazo. Mas também é claro que os nossos competidores vão se estruturar para irem ocupando o que nos custou décadas para consolidar.

A Austrália, por exemplo, nossa competidora direta no mundo árabe, tem programas oficiais de incentivo e certificação de carnes halal, o mesmo acontecendo com a União Europeia. E não duvide que os chineses também coloquem isso como prioridade em seus investimentos na África.

Mas o Brasil, claro, está bem calçado nas análises de mercado de quente como o pastor Silas Malafaia, que desdenha, na BBC, as possibilidades de que a provocação aos árabes possa nos trazer prejuízos:

“Vão comprar de quem? Vão comprar onde? Vão retaliar o quê?”

Logo vamos descobrir.

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11 respostas

  1. Deixa, deixa, deixa… Quero ver a ruina destes empresários imbecis que votaram no bozo. Vão fazer salameleque pro malafaia agora, porque ele tem a solução!

    1. A minha preocupação não é com os barões do agronegócio, que, ademais, fazem por merecer.
      O que preocupa é que midanças tão drásticas em curtíssimos espaços de tempo têm maior impacto sempre nos mesmos, em quem trabalha, e não nesses ricaços irresponsáveis que votaram no asno e o apoiaram mesmo sabendo que estavam empurrando o País para o abismo.
      Se fosse somente pela quebradeira dos barões, eu bem que bateria muitas palmas pois seria para eles merecido castigo!

  2. Tem também a questão da carne suina, cuja importação dos EUA foi liberada por Bolsonaro, apesar do consumo interno brasileiro está abaixo da produção.
    Justificam que não faz diferença, porque ninguém vai importar. Será mesmo? Importadores americanos podem vincular benefícios à importação de produtos que nos interessam à compra também da carne suina, ainda que pelos mesmos preços que vigoram aqui.

  3. A palavra do Malacheia só teria importância se o Brasil fosse exportador de carne de JUMENTOS !

  4. Malacheia parece desconhecer que Austrália, Nova Zelândia, Uruguai e Argentina são nossos concorrentes na produção de gado. Parece que a água do Jordão e o “óleo de Israel” (produzido no Brasil com soja transgênica) são uma fábrica de burros.

  5. Será um enorme desastre, tanto para a agricultura como para a pecuária.
    Será que se repetirá o cenário dos tempos de FHC? Naquela época, conheci muitas fazendas abandonadas, com a mata nativa tomando conta das propriedades. Pelo menos para o meio ambiente foi bom…

  6. Isso causará prejuízos de longo prazo ao Brasil e, além dos reflexos no balanço de pagamentos importação/exportação, os prejudicados mais de imediato serão os trabalhadores de frigoríficos. Estes probres coitados em sua maioria votaram no bozo e vão sentir no couro sua adesão política aos patrões. Um segundo bloco de perdedores quase imediatos serão os pequenos produtores criadores de frangos e suinos, em sua grande maioria baluartes do bolsonarismo (e de todas as vartiantes fascistas no transcurso da história do país para ser mais preciso).
    O agro-negócio que é entre os maiores responsáveis pelo que temos aí serão os últimos a serem atingidos. E diferente dos que fizeram os petistas do Paraná ao sair em sua defesa de imediato, quero mais é que se explodam. Melhor é deixá-los falir e sentirem o jugo dos bancos no cangote.
    Quando as forças populares retornarem ao poder não poderão repetir as políticas de subsídio ao latifúndio. Esse dinheiro tem que ser canalizado para o fomento da produção cooperativada e para a reforma agrária em especial.

  7. Há mais possibilidades, não sabemos o grau de sofisticação de quem está do lado de lá. Podem ser descredenciados frigoríficos nos estados X, Y e Z, sendo aceito apenas o do estado H. Retaliação cirúrgica. Como a China fez no início dessa guerra comercial e retaliou contra Trump atingindo especificamente os estados que votaram nele.

  8. “SENTA-TE À SOLEIRA DA TUA PORTA, E VERÁS PASSAR O FÉRETRO DO TEU PIOR INIMIGO”!
    DITADO E CULTURA POPULAR ÁRABE BEM CONHECIDO, NO SENTIDO DE QUE A VINGANÇA DEVE SER ALGO A SER DEVORADO BEM LENTAMENTE!

  9. não seria intenção quebrar o agronegócio, baratear o preço da terra e liberar a compra por estrangeiros?

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