Por toda a parte, multiplicam-se as avaliações de pesquisadores de que os dados oficiais – já trágicos – de casos de infecção e de morte por Covid-19, no Brasil, estão muito abaixo da realidade.
E um consenso absoluto de que isto ocorre por nossa falta de capacidade em testar laboratorialmente paciente sintomáticos e, até, os que morreram com problemas respiratórios agudos.
Felizmente, hoje isso afinal foi para a manchete de um jornal, O Globo.
Infelizmente, o negacionismo transitou até para as estatísticas sanitárias e delas tirou, em grande parte, a sua principal utilidade: alertar ao dirigentes da Saúde onde e como agir e avisar à população da gravidade do problema e dos sacrifícios para proteger-se, tanto quanto possível, dele.
Sem isso, as estatísticas passam a ser simples inventário da destruição, uma espécie contagem macabra de corpos e uma rendição à fatalidade.
Servem, talvez, como argumento mórbido para vagos “o pior está por vir” ou delírios como o de Jair Bolsonaro para dizer que o vírus “está indo embora”.
Por mim, por meus amigos, por todos os cidadãos do Brasil e do mundo, desejaria que fosse verdade.
Não quero morrer e não quero que morram, é óbvio, muito menos de uma morte horrível, a de um afogamento em seco.
Mas não é verdade, exceto em poucos países asiáticos, que a situação esteja sequer perto de ser revertida.
As mortes por coronavírus na Espanha aumentaram ligeiramente nas últimas 24 horas; no Reino Unido, na semana até 3 de abril, 16.387 pessoas morreram na Inglaterra e no País de Gales, aumento de 5.246 mortes em comparação com a semana anterior e 6.082 a mais que a média de cinco anos.
A “redução” que Nova York comemora nas mortes é de 799 para 671, que é o mesmo que dizer que caíram apenas seis aviões, quando ontem caíram sete.
Estamos agindo como alienados, imprudentes, patéticos patetas em meio a um joguinho de poder, de um “demite-não-demite” Mandetta.
Se o ministro, de fato, tem a disposição de imolar-se para que o Brasil salve todos que puderem ser salvos, está na obrigação de dizer publicamente que os casos são mais, muitos mais do que os que, numa monotonia sinistra, só crescem o pouco que os testes que não existem permitem.
A verdade, sr. Mandetta, o conhecimento da realidade é a munição da arma única que temos, o distanciamento social e, onde a situação é mais grave, o isolamento de todos os que possam permanecer isolados.
É o único antídoto que se conhece para a mentira, inclusive a do eufemismo que se acumplicia à ignorância.
É hora de transformar o versículo tão citado pelas forças das trevas, para que ele advirta que se não conhecermos a verdade, a verdade nos sufocará.