Segunda com lei

Compreende-se – e é necessária – a prudência com que o governo eleito vem suportando o descalabro de omissão com que as instituições públicas estão se portando diante dos absurdos provocados pelo golpismo bolsonarista e pelo comportamento do próprio ainda presidente Jair Bolsonaro, em estado de semiclandestinidade e à beira de desertar do posto, em hora e rumo não sabidos, deixando o país acéfalo, ainda que encéfalo não seja seu maior atributo.

Mas finda a festa de domingo – e ela própria certamente foi prejudicadas pelos temores que o golpismo despertou – nenhuma medida é mais importante para o novo governo que a demonstração de que, inevitável até à posse, a paralisia institucional é intolerável daí em diante.

Não se trata de promover perseguições ou “caça às bruxas” na Polícia Federal ou mesmo na Forças Armadas, algo situado entre o indesejado e o impossível, na esquina entre o não se quer e nõ se pode.

Mas é absolutamente necessário algo que as duas instituições conhecem muito bem: a “freada de arrumação”. Delegados federais não precisam de ordem do Ministro da Justiça para investigar e apresentar à Justiça líderes de vândalos que atacam a sede da PF em Brasília; generais não precisam de ordem do Ministro da Defesa para dissolver acampamentos onde se trocam armas, munições e explosivos à porta de seus quartéis.

Se não o fizeram, seja por simpatia política aos grupos extremistas, seja por temor de represálias internas, falta-lhes capacidade para o cumprimento de seus deveres.

Portanto, é absolutamente necessário que todos os integrantes das corporações saibam, com clareza absoluta, de que acabou o tempo em que o partidarismo ou o sectarismo ideológico eram “méritos” funcionais e que, se não cabe ao um presidente ter o “seu” Exército ou a “sua” PF, igualmente não cabe aos policiais ou aos militares terem os “seus” lideres políticos.

A partir de segunda-feira, isso deve ficar explícito: há leis no país e não cabe que decidam quando e por quem devem ser cumpridas.

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