Twitter bane Trump ou se descola de sua ‘herança maldita”?

Ao mesmo tempo em que “limpa a cara” com o banimento de Donald Trump das redes sociais, as ‘big techs” avançam um passo mais em seu projeto “Big Brother” de controle social e é por isso que escapo de entrar em “tretas comemorativas” sobre a ilusão de que vamos banir a extrema-direita dos meios de comunicação cibernéticos.

Justifica-se o ceticismo pelo fato de que são elas, a maior ferramenta já vista na História para o controle e direcionamento da população, em suas ideias, padrões de comportamento e de consumo, vale dizer, do direcionamento da riqueza produzida pelas sociedades.

Já era um processo avassalador e, com a pandemia, tornou-se ainda mais, dada a supressão quase que absoluta de diálogos e encontros físicos.

Trump foi derrotado: na pandemia, nas eleições e, agora, na tragédia caricata da invasão ao Capitólio. Como as forças armadas norte-americanas não têm os pendores golpistas das nossas, é um cão sem dentes, ainda que hidrófobo.

Para os donos das redes, que o cevaram diligentemente quando tinha poder, permitindo que ele arrebanhasse o pensamento conservador – já esqueceram do caso Cambridge Analytica? – e uma imensa falange de alucinados, passou a ser um estorvo, quando tem de começar a enfrentar a temporada de ações judiciais que se movem contra o monopólio de fato das comunicações eletrônicas da sociedade.

Está provocando revolta – por motivos diferentes aos da direita furiosa – a decisão do Twitter de obrigar, sob pena de congelamento das contas – o compartilhamento de dados com o Facebook e Instagram, para permitir o aproveitamento econômico dos hábitos e características dos seus usuários. Por este motivo, a formação de um conglomerado Facebook-Instagram-WhatsApp, os órgãos antitrust norte-americanos começaram a agir e a tendência é a de que o governo Biden e o novo congresso imponham medidas restritivas ao seu poder como já ocorre, em parte, na União Europeia.

Sim, é preciso controle da mídia cibernética, como é (ou deveria ser) das concessões públicas de rádio e televisão. Ou será que podemos (podemos e devemos) acusar Donald Trump por incitação à violência, mas não os picaretas que, de seus espetáculos mundo-cão pregam o extermínio e a desobediência a medidas sanitárias, o que hoje é quase o mesmo que homicídio?

Mas o controle dos meios eletrônicos essencial não é o de conteúdo, por mais imbecil que ele possa ser. É o econômico, que transforma sites e aplicativos em um espião virtual da vida de cada um e, ainda pior, o conduz, como a um zumbi, aos negócios que lhes dão dinheiro e, por isso, poder, mais poder.

“O mundo subitamente se descobriu vivendo no capitalismo de vigilância”, diz, numa ótima entrevista à Folha, a professora Carissa Véliz, do Instituto de Ética e Inteligência Artificial da Universidade de Oxford.

“Para consertar o ambiente digital, precisamos acabar com a economia dos dados. Os dados pessoais simplesmente não são o tipo de coisa que deveria ser comprada e vendida. Isso cria incentivos ruins e tem consequências tóxicas.(…)Na era digital, quem tiver dados terá poder. Se damos nossos dados a empresas de tecnologia, os ricos comandarão nossa sociedade. Se damos aos governos, corremos o risco de tendências autoritárias.”

A discussão precisa caminhar para esta proibição: a do comercio de dados pessoais. E é essa a discussão dura, a que envolve dinheiro, muito dinheiro, algo que faria da incensada responsabilidade social das redes parecer o que é: trocados miseráveis de suas fortunas imensas.

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