‘Vale-gás’ vai ser vendido para comprar comida?

Caro leitor, querida leitora: quando se trata de dar comida a filhos famintos, os códigos morais em tudo se submetem à preservação da vida das crianças.

No Brasil onde 19 milhões de pessoas passam fome – fome mesmo, a chamada insegurança alimentar grave – simplesmente dar um botijão de gás para cozinhar a comida que não existe é a ironia das ironias.

E ninguém duvide que muitos dos botijões vão virar comida para barrigas em chamas se um botijão seguir custando mais dinheiro do que estas pessoas têm para comer.

O anunciado programa da Petrobras de usar R$ 300 milhões (ou R$ 20 milhões, durante 15 meses) para distribuir botijões de gás a famílias carentes tem estes e outros problemas de execução.

E de insuficiência. Em 2002, quando Fernando Henrique lançou o “auxílio-gás” para 5 milhões de famílias carentes, eram dados 15 reais a cada uma, de dois em dois meses, aproximadamente o valor de um botijão, à época a este valor. Portanto, um gasto de R$ 75 milhões por bimestre, ou R$ 37,5 milhões por mês.

Considerando um valor de R$ 100 por botijão, hoje, o programa anunciado pela Petrobras representa míseras 200 mil famílias, 25 vezes menos que o programa de FHC.

Mas há, e é importantíssimo, uma virtude. O “mercadismo”, diante do escândalo dos preços, vai aceitar de bico calado que a empresa petroleira do país – e todas as demais – tenha responsabilidade em que seu produto seja acessível aos mais pobres, como deve ser.

Havia subsídio ao gás de cozinha até 2019 e isso foi eliminado exatamente por este governo.

Se um governo de esquerda anunciasse que ia tirar R$ 300 milhões do lucro da Petrobras (ou menos de 1% do que distribuiu em lucros e dividendos antecipados este ano) não faltariam gritos de que estava interferindo na empresa, que é dos acionistas, etc, etc…

É bom que ele seja implantado. Estabelecido o princípio, ajusta-se o programa e faz-se com que funcione de forma adequada.

E a melhor maneira de fazer isso é dar o auxílio em dinheiro, como complemento aos pagamentos emergenciais e Bolsa Família, porque reduz fraudes, burocracia e aproveita uma estrutura já pronta de capilaridade no interior e na periferia das cidades.

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