Wanderley Santos: Marina leva Campos a disputar o obscurantismo

O parceiro Miguel do Rosário publica hoje, em seu blog Cafezinho,  texto do filósofo e cientista político Wanderley Guilherme dos Santos.

Leitura muito boa, de quem escreve diretamente, sem dar volteios e sem se preocupar com “patrulhismos” de uma pseudo-elite que está mais para celebridade que para intelectual, para a qual Marina Silva tem um “aura” de progressista que não encontra base nos fatos.

Santos deixa claro, em sua análise, que é Marina que se impôs e impõe a Campos e o empurra para uma posição à direita de Aécio Neves, “a um passo de José Serra”.

“É onde Eduardo Campos vai estar, queira ou não, liderado por Marina Silva. As oposições marcham para explosivo confronto interno pelo privilégio de representar o conservadorismo obscurantista”, sentencia Wanderley.

Marina, você se pintou

Wanderley Guilherme dos Santos

Em 48 horas de fulminante trajetória a ex-senadora Marina Silva provocou inesperados solavancos no panorama das eleições em 2014. Renegando o que há meses dizia professar aderiu ao sistema partidário que está aí, mencionou haver abrigado o PSB como Plano C, sem mencioná-lo a desapontados seguidores, e declarou guerra a um suposto chavismo petista. De quebra, prometeu enterrar a aniversariante república criada pela Constituição de 88, desprezando-a por ser “velha”. Haja água benta para tanta presunção.

Marina e seguidores não consideravam incoerente denunciar o excessivo número de legendas partidárias e ao mesmo tempo propor a criação de mais uma. Ademais, personalizada. O “Rede” sempre foi, e é, uma espécie de grife monopolizada pela ex-senadora. Faltando o registro legal, cada um tratou de si, segundo o depoimento de Alfredo Sirkis. Inclusive a própria Marina. Disse que informou por telefone ao governador Eduardo Campos que ingressaria no Partido Socialista Brasileiro para ser sua candidata a vice- presidente. Ainda segundo declaração de Marina, o governador ficou, inicialmente, mudo. Não era para menos. Em sua estratégia pública, Eduardo Campos nunca admitiu ser um potencial candidato à Presidência, deixando caminhos abertos a composições. Eis que, não mais que de repente, o governador é declarado candidato por sua auto-indicada companheira de chapa. Sorrindo embora, custa acreditar que Eduardo Campos esteja feliz com o papel subordinado que lhe coube no espetáculo precipitado pela ex-senadora.

Há mais. Não obstante a crítica às infidelidades de que padecem os partidos
que aí estão, Marina confessou sem meias palavras que ingressava no PSB, mas não era PSB, era “Rede”, e seria “Rede” dentro do PSB. Plagiando o estranho humor da ex-senadora, o “Rede” passava a ser, dali em diante, não o primeiro partido clandestino da democracia, mas o primeiro clandestino confesso do Partido Socialista Brasileiro. Não deixa de ser compatível com a sutil ordem de preferência de Marina Silva. Em primeiro lugar vinha a criação da Rede, depois a pressão para que a legenda fosse isenta de exigências fundamentais para a constituição de um partido conforme manda a lei e, por fim, aceitar uma das legendas declaradamente à disposição.

Decidiu-se por uma quarta opção e impor-se a uma legenda que não é de conhecimento público lhe tenha sido oferecida. Enquanto políticos trocam de legenda para não se comprometerem com facções, a ex-senadora fez aberta propaganda de como se desmoraliza um partido: ingressar nele para criar uma facção. Deslealdade com companheiros de percurso, ultimatos e sabotagem de instituições estabelecidas (no caso, o PSB), não parecem comportamentos recomendáveis a quem se apresenta como regeneradora dos hábitos políticos.

O campo das oposições vai enfrentar momentosas batalhas. Adotando o reconhecido mote da direita de que o Partido dos Trabalhadores constitui uma ameaça “chavista”, Marina pintou-se com as cores da reação, as mesmas que usa em suas preferências sociais: contra o aborto legal, contra o reconhecimento das relações homoafetivas, contra as pesquisas com células tronco, enfim, contra todos os movimentos de progresso ou de remoção de preconceitos. Abandonando a retórica melíflua a ex-senadora revela afinal a coerência entre suas posições políticas e as sociais. Empurrou o PSB para a direita de Aécio Neves, a um passo de José Serra. É onde Eduardo Campos vai estar, queira ou não, liderado por Marina Silva. As oposições marcham para explosivo confronto interno pelo privilégio de representar o conservadorismo obscurantista.

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12 respostas

  1. Comentário contundente, de uma profundeza e visão avassaladoras, que nos levam a pensar na urgencia de uma aitude mais objetiva de todos os que apoiamos o governo Dilma, seja no esclarecimento daqueles que ainda hesitam, seja no combate cada vez mais acirrado contra as campanhas abjetas do PIG e da direita como um todo, escancarando a verdadeira essencia desses candidaos da oposição e seu único porjejto de governo: entregar o Brasil e o resto de suas riquezas e destruir todas as conquistas destes últimos 10 anos.

  2. Marina é rancorosa e incompetente. queria que Lula tivesse escolhido ela no lugar de Dilma. Ainda bem que Lula tem visão. Onde BláBlárina, passa ,deixa rastro de destruição. Incoerente, falsa intelectual.Suas declarações cheias de frases de efeito. Agora pergunta-se, não teve capacidade para recolher as assinaturas para um partido, imagina governar um país como o Brasil? Os tolos, que te compram Blá Blárina, sonhática,
    Nem o Acre vota em Bláblárina.

  3. Marina tem que parar de atravessar o cenario politico, feito uma saracura destrambelhada, e dizer a que veio. Em respeito ao povo brasileiro.

    1. Como Marina pode respeitar o povo brasileiro se ela se acha a única coisa boa e honesta que existe nesse país.

  4. Se as pesquisas mostrarem Aécio acima de cinco por cento é mãozinha do ibope e do Datafolha.

    As declarações dele ontem, em NY jogaram um balde de água fria.

    Em tempos de redes sociais e blogosfera quem ganha com a velha política é o Lulismo, porque tem eleitores seguros e mais os trinta por cento.

    Há uma gama voto nas redes sociais que são eminentemente personalista e que olham tudo no candidato.

    Dilma está acima de quarenta

    Marina tem 11
    Aécio tem cinco
    Campos três

    Peçam o Vox para ir a campo e façam o tracking e que vocês verão estes resultados.

  5. Lembrando que pesquisa não define eleição, pois eleição se vence no dia.

    Mas ela dá um norte para isto que está.

    Gostaria que este voto personalista que está na rede também se manifestasse nas escolhas de deputados.

    A blogosfera está fazendo diferença, então, sugiro que comecem a discutir na rede a posição dos deputados nas câmara, suas alianças escusas para que possa circular na internet a fim de que possa haver uma renovação.

    Vamos mostrar os deputados e seus conchavos a fim de que se renove. Não dá para as oligarquias ficarem mandando, é preciso mostrar quem são estas pessoas. Vamos lá Fernando, vamos mostrar quem são os dignissísmos. O prefeito dá uma mãozinha no interior, mas nas capitaias e grandes centros a internet fará uma diferença nas eleições destes senhores tb.

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