Há sério risco de que o tal “Renda Brasil” possa vir a ter o mesmo destino do “Big bang” de Paulo Guedes: ser atraído pelo buraco negro do déficit orçamentário.
O mais provável é que converta numa correção de valor no Bolsa Família e na ampliação de sua clientela: a primeira mais expressiva, para produzir impressão pública e a segunda mais modesta, pois mais difícil de ser percebida coletivamente.
A prorrogação do auxílio emergencial até o fim do ano, ainda que com menor valor, vai adiar a percepção dos efeitos da crise, porque isso está, a fundo de dívida, mantendo a economia irrigada com cerca de R$ 50 bilhões mensais, o que compensa a queda da renda do trabalho, cerca de R$ 30 bilhões por mês.
Amanhã, o IBGE divulga o PIB do segundo trimestre, para o qual todos esperam uma retração da ordem de 10% ou pouco mais e não se espera que o quadro melhore muito até o final do ano.
Mas o encontro com as contas do cheque especial que vem sendo sacado sem preocupações não faz mais que adiar os efeitos da crise.
Há economistas que chegam a prever que o desemprego aberto – que o auxílio e as suspensões de contrato ainda camuflam, posse chegar a perto de uma dobra.
Tudo isso significa que a economia, após o alívio da reabertura geral – alguém ainda quer falar em distanciamento social? – não vai retomar e, portanto, as receitas públicas se estagnarão ou decairão.
Paulo Guedes é um cidadão completamente desprovido de sensibilidade social ou de capacidade política, mas sabe bem que não há dinheiro.
Sabe, porém, que não deve mais estar no ministério quando a bomba estourar e, daí, dá risada das broncas públicas que recebe do presidente.
Fritura demais acaba pondo fogo na panela.