Guedes: ‘economia vai desacelerar’. Mais?

As declarações, ontem, do miniministro da Economia, Paulo Guedes, de que “a economia vai desacelerar” em função da curva de alta dos juros, significam, sem sinceridade, que o Brasil pode deixar a estaglação (baixo crescimento e inflação alta) por uma pura e simples recessão econômica.

Desacelerar uma economia que, já há alguns meses, apenas vegeta, sem crescimento, não tem outro sentido.

Guedes acha natural porque, no seu discurso, a economia “está voando“, ainda que os indicadores sejam fracos, nulos e até negativo em todos os setores da economia, salvo o de serviços, cujo crescimento, ainda que baixo, é consequência da comparação com o período de semi-interdição destas atividades em razão da pandemia.

Até a agricultura, que “bombou com a alta do câmbio e com os altos preços das commodities dá sinais de enfraquecimento e, com sinal contrário, o preço do petróleo sinaliza uma manutenção de preços altos, senão em maior elevação.

Já tivemos queda no segundo trimestre de 2020 em relação ao primeiro e há poucas dúvidas de que o terceiro trimestre será nulo ou negativo. Pior ainda no trimestre final do ano, pelos indicadores antecedentes já disponíveis.

O competente José Paulo Kupfer, no UOL, traça um quadro bem semelhante ao que se apontou, ontem, aqui:

A perda de tração prevista para a virada do calendário também empurra para baixo as estimativas para a expansão econômica em 2022. No Boletim Focus, que mostra em câmara lenta e em conta-gotas a evolução das projeções, a variação do PIB no ano que vem estava em 1% antes da inflação salgada de outubro. A tendência é de que recuem para 0,5%, mas projeções que formam opinião no mercado financeiro, como as do Banco Itaú, já apontam recessão de 0,5% no ano eleitoral.

Apesar do “Auxílio Brasil” ou lá que nome venha a ter a injeção de recursos na economia com o subsídio aos mais pobres, será pouco, como medida anticíclica, para reativar produção, consumo e, sobretudo, investimento, que os juros públicos fazem pouco atraentes frente à renda financeira do capital.

As incertezas e inseguranças ajudam a esfriar mais os ímpetos já semicongelados.

Guedes, que sempre formou entre os adoradores do “teto de gasto”, agora diz que ele teto de gastos é “apenas um símbolo, uma bandeira de austeridade”.

Chutou a santa, como se vê, e partiu para o vale tudo da eleição.

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