A máquina de surrar e matar pobre

O melhor diagnóstico do que levou ao monstruoso caso da mulher que teve o pescoço demoradamente pisado por um policial militar em São Paulo foi feita pelo ex-ouvidor geral da polícia paulista, Benedito Mariano.

Ele lembrou que a “ocorrência” para a qual os PMs foram chamados era um simples caso de “perturbação do sossego” que nem crime é, mas simples contravenção penal (art. 42 da LCP) e que, nas áreas ricas, não gera outra atitude senão a abordagem e o pedido para que, como acontecia ali, de baixar o volume da música.

Tudo o que as imagens mostram, ali, porém, são armas sacadas e apontadas, pessoas jogadas ao chão e manietadas, submetida a toda a sorte de agressões.

Aliás, o “poderoso armamento” com que um dos presentes à cena filmada por câmaras de segurança era um rodo de chão, algo que não pode ser ameaçador para quem tem uma pistola na cintura.

João Doria reagiu dizendo que agressões policiais “não serão toleradas”. Reação que deveria ser gravada num disco arranhado de tantas vezes que é repetido, sem nenhuma consequência, exceto o fato de que a polícia, cada vez mais, tornou-se uma máquina de bater e e matar pobre. E porque pobres, em maioria negros e pardos.

No Fantástico, o PM disse que usou os “meios necessários”. Pisar o pescoço – e ficando num pé só, colocando todo o peso do corpo – de uma mulher de 51 anos é um meio necessário apenas para matar, como ficou evidente no caso do norte-americano George Floyd, cujo assassinato abalou os EUA e do mundo.

A polícia brasileira, sob os aplausos de uma elite que acham mesmo que “com pobre é na porrada”, tornou-se um escândalo de proporções mundiais.

Em tempo de pandemia, com as pessoas retidas em casa e impedidas de oferecer resistência, saltamos de patamar. Um levantamento de O Globo registra 1.198 mortes em decorrência de intervenções policiais em março e abril, 26% mais que as ocorridas nestes meses em 2019.

Essa é uma chaga de décadas no Brasil, que se desenvolveu com a demagogia ou a intimidação do governo e dos políticos, que ou prometiam mais polícia e mais brutalidade (mirar na cabecinha, não é?) ou se intimidavam ante o seu dever de puni-la.

Um único enfrentou – e pagou caro por fazer isso – esta vergonha. Faltam muitos, muitos Brizola para dizer que polícia não pode ser isso, mas há muitos dos que hoje se horrorizam com estas cenas que durante muito tempo se enganaram com o discurso de uma mídia que construiu, com sua cumplicidade, algo tão monstruoso.

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11 respostas

  1. Falta a palavra “preto” no título, Brito. Por favor, não vá pelo caminho do Nassif, que eu parei de ler por ser incapaz de enxergar o racismo estrutural que se manifesta no Brasil de todas as maneiras, todos os dias. A violência física é uma delas, mas a da linguagem também é importante.

  2. É exatamente o que o morador de Alphaville disse ao PM : Vocês são machos na periferia , aqui são uns bostas ..

    1. Aquela foi uma cena épica, policiais sendo simplesmente humilhados, mas ficaram bem quietinhos com o “rabo entre as pernas”, será que a “postura” seria a mesma em um bairro mais humilde??! sabemos que não.

      O vídeo mostrou alto e bom som claramente que existem duas abordagens policiais, uma para ricos e outra para pobres.

  3. Me desculpe! Esse “cidadão” que se acha policial não é um ser humano. É a encarnação do satanás em estado bruto.

  4. Tá vendo essa Economia Reflexa, dona Maria da Conceição Tavares? Pois é.aprendi com a senhora há quase sessenta anos atrás.

  5. Gostaria de ver este merda de policial encarar alguém também armado e que saiba se defender, ai nãoooooo !!!!!!!!!!!!!! ai vai se borrar nas calças e chamar reforço.
    Filho da puta covarde, encara um macho armado e forte seu merda.

  6. Em Mafra, Santa Catarina, um covarde vestindo farda da PM, agrediu por trás uma mulher, quebrando-lhe a perna além de provocar outros ferimentos. Cinco meses depois, o IPM ( Inquérito Policial Militar) concluiu que não houve excessos e o covarde agiu dentro do que exigiam as circunstâncias…
    https://www.youtube.com/watch?v=ayT-EcagXcM

    1. Se chutar uma mulher algemada pelas costas onde quebra seu pé não é excesso!?, se fosse alguém próximo a ti ou de sua família seria excesso?

      O que é excesso é a cara de pau que a própria corporação tem em defender bandido e marginal fardado!, pois isso não é policial e nunca será, chega de excesso de corporativismo!, tem que limpar a casa, separar o policial de verdade do marginal, isso só desmoraliza ainda mais a instituição!

      Um ditado antigo dizia mais ou menos assim: “Puna um exemplarmente, e corrija cem!”.

      Só passar a mão na cabeça do covarde e um reprimenda do coronel no quartel, não corrige ninguém não, pelo contrário, estimula ainda a pratica covarde do próprio “policial” marginal bem como dá o péssimo exemplo aos outros, a impunidade nunca foi e nem será bom negócio, pois o marginal de hoje certamente será o miliciano de amanhã!

      1. Os IPMs e as Corregedorias da PM dificilmente punem alguém, o espírito de corpo é muito forte. Mas não é só na PM. Você já viu algum médico ser punido pelo CRM? Você já viu o CNJ punir algum juiz bandido? Você já viu algum procurador de justiça ser punido pelo Conselho Nacional de Procuradores?
        Existe um provérbio grego “O corvo não tira o olho de outro corvo.”, modificado, no Brasil, para “Urubu não come urubu.” Provérbio aplicado diariamente neste país de impunidade berrante.

        1. … e somado a lista de aberrações que listou acima, podemos acrescentar as “Comissões de Ética” em Brasília, que tem tudo mesmo a tal da Ética!

          Complicado esse nosso Brasil.

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