No dia 5 de junho, escreveu-se aqui, sobre os estragos da epidemia do Covid-19 no Brasil:
“Estamos a 15 dias, também – ou até menos – do milhão de casos e, com a taxa de mortalidade atual ou pouco menos, isso representará mais de 50 mil mortos.”
Isso seria depois de amanhã, dia 20.
Amanhã, 19, chegaremos a um milhão de casos e no sábado, dia 20, a 50 mil mortos.
Não há nenhum mérito na previsão ser lamentavelmente correta, porque não se elogia retratos de tragédias.
Tudo o que está ocorrendo na epidemia do novo coronavírus, desde que ela deixou de ser circunscrita à China era espantosamente previsível.
Como é terrivelmente previsível que tudo vá piorar, e piorar muito, com a insanidade de liberar-se quase que indiscriminadamente a retomada das atividades sociais, ainda em meio ao forte crescimento do número de casos e de óbitos no país.
E como é espantoso que nossas autoridades, quase sem exceção, repitam o mantra desta abertura insana.
O país perdeu completamente a sua capacidade de reagir à expansão da doença e, afinal, estamos nos tornando um exemplo para o mundo de tudo o que não se deve fazer em matéria de enfrentamento de uma epidemia.
Não só deixamos de adotar controles rígidos da circulação de pessoas – a começar pelos aeroportos, portões de entrada da doença até à circulação de pessoas dentro e entre as cidades – como também abrimos mão de descobrir, pelos testes, quem deveria ser posto em isolamento e a buscar, ativamente, a rede de contatos que teve os que tiveram diagnóstico.
Em matéria de comportamento coletivo, glorificamos o “bundalelê”. Sai-se hoje pelas cidades e vê-se – já depois de 47 mil mortes – pessoas andando sem máscara e aglomeradas. Os que atenderam ao apelo pelo isolamento, naturalmente cansados pelo isolamento, desestimulam-se por verem o que deveria ser a atitude geral virar quase uma excentricidade.
Até a mídia, que parecia estar jogando um papel de resistência à desorganização assassina em que as autoridades públicas nos metiam começa a falar numa “estabilização” que não existe, apenas porque grande parte dos casos migraram para as periferias e municípios menores.
Isso não apenas atingirá aquelas população como, provavelmente, voltará como um repique nos grandes centros urbanos, pelas conexões interpessoais que encontrarão anuladas até mesmo as precauções parcamente tomadas nos últimos três meses.
Talvez chamem de “segunda onda”, muito embora não se possa falar disso em um país onde os novos casos de contaminação andam acima de 30 mil por dia, os mais altos em todo este drama.
Este blog deseja ardentemente estar errado, mas afirma com triste convicção que nem mesmo à metade desta desgraça chegamos.
Ou pioro, caso sigam se confirmando os estudos como o o que reproduzo, da Universidade de Washington, que nos reserva inacreditáveis 166 mil mortes em um mês e meio.