A vida do Rildo, para o Alan ler

Essa madrugada, publiquei aqui um comentário que fez no blog o Alan Silveira, criticando as posições que assumimos.

Argumentei com ideias, mas ideias são sempre mais fracas que os fatos.

Portanto, acho que devo dar o mesmo espaço para quem responde ao Alan com a sua própria vida e testemunho pessoal.

Com a palavra, nosso leitor Rildo Ferreira:

“Eu apostei e deu certo”

Eu tenho um testemunho a dar e não sei se Alan está disposto a conhecê-lo, mas o farei.

Sempre fui pobre. Vim no Noroeste mineiro fugindo da extrema pobreza. Ainda na primeira infância fui obrigado a puxar pequenos tufos de mato com as mãos para limpar a lavoura e, em geral, nosso alimento era angu de milho ou de banana verde, leite que furtávamos do dono da fazenda enquanto ajudávamos na ordenha das vacas e algumas frutas igualmente furtadas.

Cheguei no RJ em 1971; frequentei a primeira escola pública em 1972 sendo obrigado a ir para as aulas descalço uma vez que me faltava chinelos. Nesta época para se conseguir vaga em escola pública éramos obrigados a dormir na fila a partir de uma quarta feira para ser atendido na segunda feira seguinte. Até para renovar a matrícula era essa peleja ou perdia a vaga para um novato. Em 1976 troquei a escola pela feira livre. Educação nunca foi prioridade: prioridade era sobreviver. Ainda nesta época a pobreza era tamanha que meu apelido era “Rildo pouca-roupa” com apenas algumas peças que se revezavam tanto que mesmo quando trocava uma pela outra parecia estar com a mesma.

Também nesta época eu e meus pares (meninos e meninas da mesma idade) se calava absolutamente quando via uma patrulhinha ou camburão (Alan conhece isto?) porque estar livre nas ruas era ser vagabundo e isso era tratado como crime. Tocar violão no botequim, jogar cartas na rua ou reunir-se em pequenos grupos nas esquinas tornava-se alvo certo para a PM.

Talvez ele não saiba, mas eu frequentei fila para comprar feijão. A inflação de 80% ao mês faziam os preços acordarem de um jeito e ao fim do dia ser quase o dobro do que era pela manhã. Já na idade adulta para se conseguir um emprego era outra luta. Se ficasse desempregado o tempo médio para se conseguir um novo emprego era de aproximadamente 18 meses. Os salários não passavam de 80 dólares e, não raro, trabalhadores viajavam pendurados nas portas e janelas dos trens de tão lotados eram.

Talvez o Alan não saiba, mas a escola pública foi construída para reproduzir esse estado de coisas e assim ela sempre foi de péssima qualidade porque servia aos pobres e pobres não tinham direito a uma educação de qualidade porque o saber liberta. E diferente do que era até o ensino médio, as universidades públicas sempre foram de excelência, mas aí só pertenciam aos ricos, uma vez que poucos eram os pobres que chegavam a frequentar o ensino universitário.

Então veio um governo popular e democrático que jurou que todos os brasileiros teriam 3 refeições diárias; que o ensino seria universalidado; que teria mais empregos para os trabalhadores; que teríamos mais crédito para ter bens e serviços até então negados para os mais pobres; que brasileiros e brasileiras teriam direito à moradia etc. Como não apostar numa proposta assim Brito?

Lula assumiu o poder em 2003. Alguns anos depois criou o Bolsa Família e os mais pobres passaram a almoçar e jantar, outros incluíram o café da manhã. Criou o Prouni para que pobres pudessem ir à faculdade e fazer o ensino universitário (chamado de ensino superior porque para ricos, e então superior à maioria dos brasileiros que só alcançavam o ensino médio. Por isto que a maioria dos professores do Brasil só tinha o magistério (médio) para lecionar na escola pública). Eu mesmo fui à faculdade com 44 anos e hoje, graças ao Prouni e aos impostos dos brasileiros tenho o ensino universitário. Lula criou ainda mais de 10 milhões de empregos com uma política de valorização do produto brasileiro, de incentivo às indústrias, ao comércio; abriu linhas de créditos para o setor de serviços; criou o programa Minha Casa-Minha Vida e quem morava em palafitas teve o direito de ter sua casinha melhorada.

Eu apostei e deu certo. Quando a gente vê brasileiros e brasileiras indo às compras, felizes com seus empregos e apostando em algo novo buscando melhorar condições de vida a gente pode sorrir e dizer: Foi uma luta dura, mas os partidos de esquerda (PT, PC do B, PDT, PSB e alguns outros) começaram tudo isto. Não fosse por eles nós pobres ainda estaríamos retraídos submetidos ao sub emprego, sub salário, educação ainda super precarizada e sem perspectiva de acesso aos bens e serviços.

Quem quiser saber mais  sobre como o Rildo pensa, visite o seu blog pessoal.

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3 respostas

  1. Alem dos parabéns ao Rildo pela história de vida que está construindo , faço a pergunta , quantos pensam como Rildo e viram as melhorias em seu dia a dia ? e quantos mais com mais ou menos melhorias querem este Brasil que permitu ao Rildo e milhares terem um diploma universitário e outras melhorias , e acho que ganhamos a eleição de novo.
    E a pergunta quase cômica , quantos eleitores com este perfil acreditam ou leêm velha mídia e a oposição ?
    O que concordo é que as campanhas difamatórias contra os políticos , Senado , Câmara , Executivo e partidos movidas pela velha mídia a anos tiveram efeito em alguns dos jovens participantes , e por isso entendo que foram importantíssimas as manifestações .
    A partir de agora saberão mais sobre política , e poderão tomar suas decisões levando em conta o que realmente ocorre e vem e foi sendo feito pelo Governo , e quem são a oposição e a velha mídia , a decisão final de qual posição tomarão é deles.

  2. havia comentado na matéria anterior, resolvi posta-lo também aqui

    Outro dia comentava com um grupo de amigos que só quem viveu em realidades como a sua e a minha (de pobre, rural e sem oportunidade) sabe dar valor as reais mudanças pelas quais o país vem passando.
    Não foi fácil chegar à faculdade e ter um diploma de ensino superior, mas hoje podemos dizer que, todos tem a oportunidade de chegar lá.
    Aos 11 aos andava mais de 7km para pegar onibus ou arrumar uma carona para estudar na época do ginásio, estive outro dia na região onde morei e passa um onibus a 50 metros da casa onde morava para levar os estudantes de ensino básico em escola da região e os maiores para estudar na cidade. Lhe confesso que as lágrimas me vieram aos olhos, por que vi ali que esta dura realidade esta mudando.
    Só quem viveu a luz de um candeeiro e caminhar as escuras pelas estradas no retorno para casa depois de um dia no colégio sabe que o projeto luz para todos trás inúmeras oportunidades de melhoria na qualidade de vida e inclusão de quem mais precisa.
    E por ai vai…
    Muita coisa precisa mudar: combate a corrupção, melhoria da qualidade na saúde, educação, combate à inflação, o país precisa produzir mais alimentos para enfrentamento da crise, o combate ao tráfico precisa de muito investimento principalmente em inteligência, as nossas polícias precisam de incentivos não financeiros mas em treinamento e melhor preparo destes oficiais, os nossos professores precisam de valorização e de recursos para educar nossas crianças e jovens.
    Dos problemas que pontuei acima acredito que o combate a corrupção é o mais gritante de todos e incluo aqui o combate a sonegação de impostos.
    Bola pra frente. Empenhemo-nos em fazer um Brasil cada vez melhor.
    Somos um povo lindo, criativo, trabalhador.
    E merecemos um país que corresponda ao nosso orgulho de ser brasileiros.

    Os resultados da reunião da Dilma hoje já apontam novos horizontes REFORMA POLÍTICA já.

  3. Os meninos que aí estão nas ruas desrespeitando a Presidenta Dilma não sabem, talvez nunca tenham ouvido esses relatos de seus pais e seus avós. É importante que quem viveu a era FFHHCC conte pra eles como era.

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