Bolsonaro ‘tira onda’ de ato ‘coxinha’

O Brasil é – salvo na cabeça dos fanáticos de direita – um país com liberdade de crença. Cada um pode dizer que acredita no que quiser, inclusive em ilusões.

Sendo assim, era de esperar que Jair Bolsonaro dissesse que há apenas “uma minoria” contra seu governo, que é composta de pessoas que, ao contrário de seus apoiadores, não é composta de “gente de bem”.

Neste caso, 60% dos brasileiros, como indicam todas as pesquisas, não o são.

Quem acredita em ivermectina pode tudo.

Bolsonaro, claro, “tira onda” do baixo comparecimento aos 12 de setembro “coxinha”, integrado essencialmente por seus eleitores arrependidos e com a carona de gente ingênua (ou oportunista) que não entende que confundir a população é um ato danoso à democracia.

Mas é do jogo, porque pretensão e água benta cada um usa see e quanto quiser.

Outra coisa é a atitude que deve nos marcar.

Quem foi protagonizar aquele ato sabia o que ele significava.

Sabia que, atacando e agredindo os adeptos de uma candidatura de oposição que tem em torno de 50% de intenções de voto, que é a referência simbólica do antibolsonarismo iria expor-se a isto: virar argumento torto para que o bolsonarismo pareça maior do que é.

Sabia que estaria oferecendo de bandeja um antídoto contra a desmoralização que Bolsonaro vinha sofrendo nas redes por sua “rendição”.

Foram muito úteis e nada inocentes.

É legítima a pretensão de candidatar-se a presidente, mesmo sem base para tal. Pode ser até louvável, quando se quer exprimir uma posição de resistência ante um poder avassalador. Mas, para a democracia tão gravemente ameaçada, tangencia o patético.

Lembro-me bem das palavras de Brizola, que uma eleição não era “corrida de cavalos”, onde cada um decidia se ia ou não para a pista. “Por o petiço na penca”, naquele gauchês mais castiço.

Usei ontem a palavra “molecagem” para definir o comportamento de quem tendo nada ou muito pouco, pretende colocar a oposição prisioneira de uma falsa unidade. Não por divisões programáticas ou ideológicas, mas porque aceita o golpismo como forma de solução política.

Não se pede a ninguém as tais “autocríticas”, mas exige-se lealdade para caminhar-se junto.

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