Não é de hoje, faz tempo que o governo brasileiro – ou o arremedo de governo que temos – tornou-se disfuncional.
Ou seja, não responde aos comando, sejam eles políticos ou econômicos clássicos.
É aquela sensação de um motorista que, numa estrada, vê seu carro passar sobre uma grande possa d’água: não importa para que lado se vire o volante, ele segue derrapando.
Os exemplos são evidentes.
Entrega-se um naco substancial do governo à maioria centrista da Câmara e se enfrenta mais dificuldade em aprovar os projetos do Governo, ao ponto de estar para declarar que “subiu no telhado” a bondade n° 1, a mudança no imposto de renda.
Aumentam-se juros para frear a inflação, mas a inflação sobe e empurra os juros ainda mais para cima, como explica o conservadoríssimo Afonso Celso Pastore em entrevista, hoje, à Folha.
O calote dos precatórios – tentado pela via legislativa – uma PEC – e pela negociação com o STF é puro arrocho, porque o que se tenta parcelar até 2032 é o repasse a Estados e Municípios, que viraria gasto público e atividade econômica.
A “folga orçamentária” que se festejava há dois meses corre o risco de estar zerada até o fim do ano, não pelo “meteoro dos precatórios” com alega Paulo Guedes, mas pela subida da inflação, que ameaça chegar ao final do ano bem perto, senão igual, aos 8,3% que corrigiram o teto de gastos.
A questão central é a de que o país não tem um rumo definido desde que Jair Bolsonaro chegou ao poder ( e já não tinha com o “tampão” Temer, ao menos focado na queda da inflação, by Henrique Meirelles) e não o terá ante um governo que tem mais 8 meses de vida, até que se deflagre, de fato, a campanha eleitoral na qual já se está sob a ótica da política.
Os atores centrais da política e da economia já se descolaram do núcleo do governo e, agora, já nem se escondem no off jornalístico para emitirem seus conceitos sobre Bolsonaro.
Como se registrou mais cedo aqui, não é só no eleitorado que se vai tornando impossível manter-se “neutro” diante deste governo.
A elite econômica está desembarcando dele, e rápido, e não tem um escaler político no qual se abrigar.
O que se viu no “efeito Lula” em 2002, ironicamente, corre o risco de tornar-se o efeito Bolsonaro-2022.