Com Jair ou sem Jair, o governo é dos militares sem projeto

Ainda que fosse reprimir a escalada do que alegavam ser uma República Sindicalista de João Goulart, os militares de 64 tinham alguns projetos: derrotar o que chamavam de anarquia, sepultar a herança varguista, eliminar a “corrupção” que viam em JK e alinhar completamente o Brasil ao “lado” norte-americano da Guerra Fria.

Os que agora estão tomando o poder – muito embora com paletós em lugar dos dólmãs – têm algum?

Sim, eles estão tomando o poder, com Jair Bolsonaro à testa ou, se tudo continuar se erodindo como agora, com Hamilton Mourão, o que não é igual, mas é o mesmo, uma vez que o vice-presidente não tem luz própria e suporte político a não ser – e olhe lá – o da caserna.

Como nos combates das guerras clássicas – as modernas são de outra natureza – tudo se baseia em tomar colinas e praças-fortes e, a partir daí, ocupar o território. As colinas são os ministérios, é claro, e o alvo evidente agora é a Economia, colina chave para o controle do país pós-pandemia, arruinado e aterrorizado.

O bunker de Paulo Guedes, com as baterias já silenciadas é o próximo a ser tomado ou, até e melhor, capitular sem combate ao avanço.

Não pode ser chamado, é claro, de Plano Marshall ou de New Deal o “Plano Meme” apresentado esta semana pelo general Braga Netto, que não deixou de ser o chefe do Estado Maior do Exército, apenas transferiu-o para dentro do Palácio do Planalto.

Ao Plano Marshal faltaria e faltará o dinheiro norte-americano, que inundou a Europa no pós-guerra por conta de ter o dólar ter substituído o outro como padrão monetário e, assim, poder ser despejado por lá. Ao New Deal, basta observar que ele se fundou em imensas obras públicas, financiadas pelo Estado, e num rearranjo inédito em relações trabalhistas e previdenciárias nos Estados Unidos, justo o contrário do que se endeusa aqui.

Não haverá dinheiro sobrando no mundo, ainda mais que não ocorreu, na Europa, uma recuperação rápida após os chamados “picos” pandêmicos – as mortes seguem na casa das centenas, por dia – e não parece que isso vá acontecer nos EUA, onde os casos já chegarão hoje ou na manhã de segunda, a inacreditáveis um milhão de contaminados e a 55 mil mortes, que crescem à razão de duas mil por dia.

O pouco capital que houver, certamente, não virá para um país absolutamente instável, com estruturas político-jurídicas que têm a solidez de gambiarras e onde, perante todo o mundo, o presidente é um rematado psicopata.

Aos militares, portanto, interessa que Jair Bolsonaro fique no cargo até existirem alguns sinais de recuperação da pandemia e que clareie o suficiente para que se possa enxergar horizontes viáveis para a retomada das atividades.

Depois, defenestrá-lo-ão sem cerimônias, como a atender ao clamor popular e, sem abalo na ordem constitucional, continuam no comando do país com Mourão.

Ainda assim, continuam no poder, mas igual continuam sem projeto. Alguém já disse que manter ordem sem progresso é a receita da tirania.

 

 

 

 
 

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16 respostas

  1. Brito, leia hoje o Jânio de Freitas. É devastador.
    Estar no pronunciamento do bolsonaro, tanta bobagem e despreparo, desmoralizou de vez aqueles senhores. Ali só tinha muleque e quatro senhores de idade que nunca deveria estar ali, sendo desmoralizados. Que vergonha!
    Destruiram o país, estes golpistas idiotas.

  2. Discordo da opinião de que eles não tem projeto .
    O buraco aonde o Brasil foi levado após o GOLPE, não tem paralelo com a mais pessimista das projeções feitas quando aconteceu o impeachment da Dilma.
    O delinquente presidente é só o churume que escorre do lixo que eles os militares —os donos do golpe,não tenho dúvidas disso— converteram este país ao implantar o projeto de aniquilação de qualquer chance do Brasil virar Nação.
    Projeto que obviamente não saiú de suas cabeças de PRIMATAS TREINADOS PELO TIO SAM,mas, que eles CANINAMENTE CUMPRIRAM para deleite do seus chefes do Norte.
    Eles podem se sentir satifeitos, porque cumpriram com folga o projeto que lhes foi apresentado pelo império..

  3. Quem sustenta hoje o governo miliciano???
    E porque eles sozinhos tem esse poder,contrariando todo e todos??
    O GOLPE tería alguma chance de ter acontecido sem a ativa e decisiva participação deles???óbvio que não,a prova é que SÓ ELES SUSTENTAM hoje o delinquente.
    Essa organização maldita e anti-nacional estaría ferrada se ao menos o 40% da população tivesse a clareza e o conhecimento sobre o real comportamento desses traidores.
    Mas ,ainda tem gente procurando um militar…nacionalista.

  4. “plano marshal” sem mexer no teto de gastos e, pior, mantendo a agenda sabuja, só mesmo pra aparecer na foto

    1. É mesmo, esse “plano Marshall” é só pra inglês ver, só para enganar os trouxas, tipo a “Transamazônica” que liga o nada a coisa nenhuma.

  5. “Ex-ministra do Planejamento, Míriam Belchior diz que o programa de obras do governo está no caminho certo, mas é muito pouco para a retomada do crescimento. “R$ 30 bilhões é um montante ridículo para as necessidade de infraestrutura brasileira, sucateada nos últimos anos”, critica. O PT defende que o Brasil retome um grande volume de investimentos públicos e de investimentos privados para voltar a crescer”, ressalta Míriam. “Já mostramos no governo que sabemos o caminho que o Brasil precisa para voltar a crescer, criando empregos e reduzindo desigualdades”. O PAC 2 foi lançado em 29 de março de 2010 e previa recursos da ordem de R$ 1,59 trilhão em áreas como transportes, energia, cultura, meio ambiente, saúde, área social e habitação.O PAC previa obras de infraestrutura econômica e social em todo o país, gerando milhões de empregos. Só o programa Minha Casa Minha Vida criou 1,7 milhão em quatro anos”, lembra. “Não há outra saída. É necessário acabar com o Teto de Gastos para aumentar o investimento público e recompor recursos para as áreas essenciais para a população brasileira”. https://pt.org.br/pro-brasil-e-ridiculo-para-reerguer-economia/

  6. Pois eu não creio que a MILICADA,esse bando de GUARDIÕES DAS GENITÁLIAS ESTADOUNIDENSES,aqui e acolá,saiba fazer outra coisa,senão isso.Quanto aos de 64,tinham entre seus máximos chefes,o Gal.Médici,que sendo de Bagé como eu,a única coisa que fez,durante a juventude e parte da vida adulta,foi ser porteiro de uma casa de jogo,da família.Quanto aos projetos por eles apresentados,e os poucos que realizaram,foi impor à sociedade,que majoritariamente os aplaudia, algumas obras,que mais fizeram barulho e venderam automóveis.Fora disso,não lembro de nenhuma outra grande obra que realizaram,senão ITAIPU,com dinheiro paraguaio,ou melhor,as sobras do que o ministro de obras,não levou pra casa.Então,poucas coisas mais aconteceram,senão algumass pavimentações de estradas,com o único intuito,vender automóveis e caminhões,e quebrando o que restou da rede ferroviária.O resto,foi propaganda às GLOBOS E ASSEMELHADAS,da época com o dinheiro público.Resumindo,eu prestei serviço militar e a únoica coisa que se louva,nos papos de caserna,foi A TOMADA DE MONTE CASTELO.Fora disso,cantar o hino nacional e fazer ordem unida.

    1. As forças armadas brasileiras só se prestam para consumir bilhões do orçamento e sem nenhuma contrapartida para com o povo que eles veem como nada.

      1. Não esqueça das filhinhas desses militares que não se casam para não perderem a pensaozinha que nos pagamos. Da o pra todo, tem filhos é são solteiras. Vide Maitê Proença.

  7. O único projeto que os militares brasileiros têm é não afrontar os Estados Unidos da América e, desde sempre.

  8. Outra leitura da situação pode ser a de que Bolsonaro saiu fortíssimo dessas últimas manobras. Demitiu quem queria demitir, e vai nomear quem deseja nomear, mostrando que é de uma temeridade ensandecida e que não tem medo de trovões e nem de raios. Os militares, que antes haviam se adiantado e estavam muito fortes com o general Braga Netto à frente, recolheram-se à terceira fila dos protagonistas dos acontecimentos, sentados e conformados. O Little New Deal, que mesmo com as dificuldades iniciais já teria uma importância enorme porque sem dúvida faria a força da prática estourar o famigerado Teto de Gastos, nem que fosse através de algum “jeitinho”, está em processo de vaporização. O Guedes está andando por aí sem sapatos, tentando ver se alguma coisa ainda vai valer a pena, já que agora se sabe que a pós-pandemia não virá com uma curva em vê, que sobe e desce com a mesma intensidade, como uma curva de Gauss. A curva vai subir e lá em cima vai se estender com pequenos altos e baixos, como uma cordilheira, que para descer levará até um ou dois anos a mais, em uma realidade muito diferente daquela de ontem, e enquanto isso Bolsonaro poderá reinar em sua corte familiar. Tirá-lo com que fim? Com o fim de restaurar a dignidade do país? Se ao menos fosse com o fim de restaurar as estruturas de progresso que foram dinamitadas… Mas isso não, isso seria a última coisa a ser admitida pela mídia arrogante dos Silvio Santos da vida. Mas o que virá com o andar da carruagem pandêmica poderá mudar tudo. O desafio de reconstrução econômica será gigantesco e transcenderá os limites da simples providência econômica. Não vai interessar a quem só pensava em ganhar dinheiro e mais dinheiro na moleza e na dominação pela ignorância. Vai precisar da reunião das maiores inteligências do país para o trabalho de criar e construir túneis e pontes em denso nevoeiro, e ninguém de fora nos irá ajudar, porque a Boeing já vomitou os destroços da Embraer.

  9. Alguém me responda: no caso da queda do Bolsonaro antes de dois anos de mandato, o Mourão pode assumir?
    Porque se não for assim, todo o anti projeto dos militares e sua fidelidade canina aos EUA caem com uma decisão do Congresso.

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