Como o “voto do marmiteiro” acabou com Brigadeiro. Por Franklin Martins

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Ontem, a propósito de apontar o “tiro do pé” que João Dória deu em suas pretensões presidenciais, recordei o episódio do “voto do marmiteiro” que arruinou a até então favorita candidatura udenista do Brigadeiro Eduardo Gomes, anos- luz acima do pífio prefeito de São Paulo.

Por conta disso, recebi do amigo Franklin Martins, além de jornalista  um dedicado estudioso da expressão da política na cultura popular, especialmente na música, o texto de seu  livro “Quem foi que inventou Brasil” sobre a “Marcha do marmiteiro”, de Waldomiro Lobo, na voz de Murilo Caldas, “que fez enorme sucesso na reta final da campanha de 1945” e, certamente, ajudou a afundar o até então favorito.

Vale a pena, é o resgate de uma história que, agora “liofilizada”, estamos assistindo:

Em outubro [de 1945], as manifestações queremistas pedindo a permanência de Getúlio no poder, ganharam um peso cada vez maior e os pronunciamentos do presidente tornaram-se ainda mais ambíguos. A oposição, que apoiava o Brigadeiro, passou a pedir o afastamento de Vargas. Já os chefes militares que sustentavam a candidatura de Dutra, inseguros quanto às reais intenções do Palácio do Catete, começaram a se movimentar. Os rumores de golpe tomaram conta do país.

Getúlio jogou mais lenha na fogueira ao decidir nomear chefe de polícia seu irmão Benjamin, popularmente conhecido como “Beijo”. Foi a gota d’água. Tropas do Exército, com apoio da Marinha e da Aeronáutica, ocuparam a capital da República e cercaram o palácio. Horas depois Getúlio renunciou ao cargo. Dias depois, retirou-se para o Itu, estância de sua propriedade em São Borja, no Rio Grande do Sul, onde ficaria “auto-exilado” durante um bom tempo. Assumiu interinamente a presidência da República o presidente do Supremo Tribunal Federal, José Linhares.  

Deposto Getúlio, o PTB e o movimento ‘queremista’ perceberam rapidamente que só havia uma saída capaz de impedir a vitória do brigadeiro Eduardo Gomes nas eleições: o restabelecimento a toque de caixa da aliança entre Vargas e Dutra, rompida no momento da deposição do presidente pelas Forças Armadas.

Hugo Borghi, talvez o mais ativo dirigente petebista naqueles meses turbulentos, acabou arrancando de Getúlio o apoio ao ex-ministro da guerra. E notabilizou-se por uma jogada de marketing hostil que atingiu duramente a candidatura do Brigadeiro.

Tendo o candidato da UDN declarado num comício que não precisava dos votos da “malta de desocupados” que apoiava Vargas, Borghi fez uma transcrição para lá de livre da declaração do Brigadeiro. Apegando-se a uma das definições de “malta” existentes no dicionário – “grupo de operários que percorrem as linhas férreas levando suas marmitas” –, o dirigente petebista disse que o candidato da UDN desprezava o voto dos marmiteiros, dos trabalhadores. A afirmação colou – entre outras coisas, porque a UDN tinha mesmo o nariz em pé – e o Brigadeiro passou o resto da campanha explicando-se. Em vão, é claro.   

A marchinha, que segundo o próprio Murilo Caldas, foi encomendada por Borghi, converteu-se numa peça importante na reta final da campanha. Nela, todo mundo grita: “Lá na minha casa / Só se papa de marmita”. A música convoca o povo para “entrar pro cordão dos marmiteiros” – uma evidente antítese ao “cordão dos puxa-sacos”.

Marmiteiro, marmiteiro,

Todo mundo grita /Porque lá na minha casa/Só se papa de marmita/Vamos entrar pro cordão dos marmiteiros/E quem não tiver pandeiro/Na marmita vai tocar/E quem não tocar/Quá, quá, quá /Nós vamos cantar, nós vamos cantar.

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12 respostas

  1. Franklin Martins é o guerrilheiro-jornalista-idealista que encheu o rabo de dinheiro nos governos Lula e Dilma? É o mesmo que está em várias fotos com Fidel Castro, Chavez e Maduro? Nos poupe, Fernandinho! Nos poupe!

  2. Calma fakes coxinhas pagos pelo MBL com $$ do psdb. Franklin também vaí voltar. Junto com o presidente Lula.

  3. Hoje podíamos trocar a marchinha da marmita por “chupa que é de uva” como homenagem a todos os coxinhas e candidatos a guru de costumes.

  4. História semelhante ocorreu na cidade de Agudo-RS, onde o favorito à prefeitura até a última hora declarou, em um comício, que a população deveria sim votar nele e não em um colono, se referindo ao outro candidato, de origem alemã. Agudo é uma cidade colonizada por alemães, que logo se sentiram ofendidos com a forma depreciativa com que fora tratado o candidato pelo favorito. Pronto! Não adiantou nada qualquer tipo de explicação ou desculpa, e o “colono” foi eleito com uma boa margem de votos, contrariando as pesquisas. Não citei nomes ou partidos pra não ferir suscetibilidades.

  5. Florestan Fernandes Júnior: artistas demoraram a perceber o golpe, mas são bem-vindos

    “Com a censura dos fascistas às artes e à educação, alguns ‘famosos’ parecem ter se dado conta do monstro que se apodera aos poucos da Nação. Como diz o ditado: ‘antes tarde do que nunca’. Sejam bem-vindos à luta, amigos. A participação de vocês é fundamental na defesa das artes, da democracia, da liberdade e dos direitos do cidadão”, publicou o jornalista no Facebook, ao elogiar uma campanha contra a intolerância criada por artistas; assista

    14/10/2017

    (…)

    FONTE [LÍMPIDA!]: https://www.facebook.com/florestan.fernandesjunior/posts/10155707204290279

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