Índices FH x Lula-Dilma não “empatam”. Ou como a estatística pode esconder o que você percebe

Matéria publicada hoje em O Globo mostra que “os tucanos foram os responsáveis por avanços mais sólidos na Educação, na expansão de serviços públicos e na ampliação dos bens de consumo básicos, enquanto os petistas tiveram resultados sensivelmente melhores nos indicadores relacionados ao trabalho, à renda e à redução da desigualdade social.”

Será?

pnad-comparacao-psdb-pt1a De fato, se fizermos uma comparação, como está muito bem feita pelos gráficos que acompanham a matéria e que a gente reproduz ao lado, a afirmação estaria, aparentemente, correta.

Mas, em matéria de indicadores sociais, as comparações aritiméticas tem lá os seus limites, porque, nos extremos, essas grandezas atingem características “logarítmicas”, quando é preciso muita ação para fazer algo “tender a zero”.

Complicado? Simples, e você vai entender como.

Veja o caso do analfabetismo.

Itamar e FH encontraram uma taxa de 16,4% e a entregaram, 10 anos depois, em 10,9%. Já Lula e Dima a reduziram para 7,8%.

Aritmeticamente, os primeiros conseguiram uma queda de 5,5%, enquanto os segundos de “apenas” 3,1%.

Isso é verdadeiro, mas não explica tudo.

16,4% dos brasileiros que dizer, praticamente, uma em cada seis pessoas analfabetas. Isso inclui, pelo volume, gente de todas as idades; crianças, jovens, adultos e idosos.

Então, imagine que um governo alfabetize 50% deles. Ele, portanto, ele baixará de 16 para 8% índice. Portanto, reduziu em 8% a taxa global de analfabetismo. E os que ficaram, em geral, são os mais idosos, os mais desmotivados, os mais remotos geograficamente, é claro.

Agora, pense que vem um novo governo e faça a mesma proposta: a de baixar à metade o analfabetismo. Como agora o que permanece analfabeto é menos motivado, mais idoso e mais remoto, o esforço é maior. Agora, trata-se de agir sobre uma parcela remanescente, mais resistente ou inacessível a políticas públicas de alfabetização.

É como colher frutos em uma árvore: a primeira colheita é mais fácil, a segunda exige mais esforço, para alcançar os galhos mais altos e difíceis.

Sobre o assunto de índices de analfabetismo, bom assistir a entrevista da educado Ilona Becskeházy, comentarista – e de ótima qualidade, ao lado de sua colega Paula Louzano – da rádio CBN, que explica bem como o analfabetismo hoje, está basicamente restrito às parcelas mais idosas da população e a redução da velocidade de sua queda está, também, ligada a sobrevida maior das camadas mais velhas de brasileiros.

O mesmo raciocínio se pode fazer para os demais índices de educação: quanto mais baixo o índice que se encontra, mais fácil fazê-lo subir expressivamente, quanto mais alto, mais esforço para resultados proporcionalmente menores, porque quanto mais próximo do 100% (ou do zero, se a escala é inversa) justamente porque o que falta para a totalidade é exatamente o mais difìcil – ou até impossível.

No caso da energia elétrica nos domicílios, então, é fácil perceber.

Se hoje temos 99,7% dos lares brasileiros com luz elétrica, um governo que fizer das tripas coração para levar, selva ou sertão adentro, nos lugares mais isolados, um par de fios para eletrificar todas as casas deste país, agora que quase todos já têm luz, terá feito aumentar em apenas 0,3% do total de domicílios atendidos.

Em alguns casos, ainda, as coisas podem sofrer mudanças por conta da entrada de novas tecnologias. 

É o caso da telefonia, em que a década de 1990 marca o tímido início da telefonia celular no Brasil. É mais que compreensível que, neste campo, o início de um serviço que, de repente, passou a dispensar uma rede física complicada para o serviço de comunicação,

Portanto, ainda que o Governo Lula e o de Dilma, sem dúvidas, ainda sejam insatisfatórios sob muitos aspectos – na minha visão, sobretudo, na falta de uma revolução educacional que, agora, com os recursos do pré-sal, parece finalmente desenhar-se no horizonte -, é uma tolice rematada pretender criar uma espécie de “equilíbrio” com o de FHC, o que todas as pessoas sabem, por experiência própria, que não é verdade.

Não é preciso ser panfletário ou raivoso sobre isso, basta que se mostre o porquê de certas aparentes contradições entre os números e as evidências que todos percebemos.

Mas é importante estar atento e ser capaz de esclarecer o que houver de confusão, porque o objetivo disto é mostrar que “todos são iguais” na política e nos governos.

Não são.

E estas diferenças repercutem em quem mais precisa do Governo: os pobres, o povão.

Porque, para os ricos, a vida é 100% em quase todos os indicadores sociais, e há muito tempo.

Exceto num: no desconforto profundo em viver num país injusto, seja porque para muitos isso traz insegurança e medo da violência, seja porque ninguém pode ser plenamente feliz se vê, ao seu lado, em seu país, milhões de seres humanos mergulhados no atraso e na pobreza.

A menos que, como imaginou o Governo FHC, se pudesse construir uma “ilha de modernidade” no Brasil cercada, por todos os lados, por um oceano de injustiças.

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32 respostas

  1. Quem viveu o governo FHC, sabe que quase o Pais inteiro ficou desempregado e pior,sem ter onde procurar emprego. Um massacre.

    1. essa pesquisa é uma píada como se algo do FHC foi bom nao tem nada de bom no gov dele.alem que hj em dia existe só no brasil mais celular do que pessoas. e ai o que adianta ter preços baixo (graças ao itamar pelo plano real e nao ao psdb)se 38% dos brasileiros estavam desempregados e hj menos de 8% muitooo menos eu n sei exato porisso n coloquei 5 ou 6%. e gente 2014 pra 2015 nos estamos

  2. O mais importante é que em todos os itens o Brasil AVANÇOU com Lula-Dilma.
    Então o Brasil continuou avançando e ainda reduziu as desigualdades !

  3. Lula/Dilma representam 10 anos de governo. Os dois são do mesmo partido, ela foi ministra e chefe da casa civil e estava no governo Lula desde o princípio. FHC foi realmente ministro de Itamar desde 1993, primeiro de Relações Exteriores e depois da Fazenda por breve período, não completando 2 anos de governo Itamar. As comparações deveriam parar por aí. FHC só conseguiria destaque depois do escândalo da parabólica que derrubou Ricúpero, com auxílio da rede Globo, para variar. Ficou até o período em que se retirou para ser candidato do PSDB. Nem mesmo do mesmo partido, eles eram mais. Dilma até começou auxiliando Lula pelo PDT, mas ao se candidatar já era do PT. A história é toda inversa entre Lula/Dilma e FHC. É o mesmo que comparar alho com galho. Esqueçam Itamar nessa comparação ou então lembrem como seus aliados (entre eles FHC) o constrangeram durante aquele carnaval em que o ingênuo Itamar foi com uma modelo sem calcinhas para o sambódromo. Mas uma peripécia da Globo e? e ??????

  4. Ok. Que tal comparar na Educação Superior ? Que tal comparar escolas Técnicas e formação de tácnicos (Pronatec = 4,6 milhões) ? Que tal comparar em número de Mestres e Doutores ? Que tal comparar em número de professores concursados nas Universidades Federais ???? Que tal comparar em moradias polpulares ? Que tal comparar na Indústria Naval ??? Que tal comparar na Indústria Automobilística ?
    Que tal comparar no salário dos professores de nível básico ?
    Porque os ‘serviços’ são só telefonia (onde o ‘celular’ não representou investimento algum do governo) ?

  5. Essa grande mídia golpista não se cansa de tentar manipular as consciências e enganar os menos esclarecidos. Qualquer pessoa com mais de 1 neurônio verá que os gráficos só confirmam como os governos do PT foram melhores que os anteriores.Dilma 2014!

  6. Antonio Delfin Neto, lembro bem… utilizou uma frase (que não é dele de origem) um pouco chula e machista: “Estatística é tal como um biquíni, parece que mostra tudo, mas esconde o essencial”. Certamente estes números farão parte da propaganda eleitoral que se aproxima. A aritmética ou matemática avançada serve até a pagina dois. Obviamente cabem análises de várias matizes, como esta. A qualidade na educação (como um todo) não pode tão somente ser reduzida a análise do índice de analfabetismo. E ainda, quando é que uma pessoa deixa de ser analfabeto? É na perspectiva de Paulo Freire? Fica a indagação.E a indignação fica por conta de “palpiteiros” na área de educação. Assinam artigos de revista e jornais. Outros em época eleitoral dizem que foram (ou são) professores. Não tem a mínima noção do “rolo compressor” e dinâmica de uma sala de aula e seus desdobramentos. A educação e a classe profissional, de um modo geral, sempre foram uma pedra na carreira política (o que deveria ser o contrário) caso pudesse trocar a figura do professor por um equipamento e sistema de informática, isto já teria sido feito há muito tempo.

  7. Notem que o ensino básico é atribuição de estados e municípios. Quanto FHC gastou a mais no ensino básico ? Comparem os desembolsos, por favor. Não se esqueçam do Bolsa Família, que tem como requisito a presença dos filhos na escola (80%). E mais – em Lula/Dilma, os programas de livros didáticos foram ampliados, o transporte público para estudantes ganhou uma frota de ônibus padronizados (barcos no Amazonas), 50 mil de 180mil de escolas de nível fundamental passaram a ter segundo turno (e este número continua crescendo), os professores passaram a ter um PISO NACIONAL (e não adianta dizer que foi projeto do Cristóvão – o governo apoiou muito este projeto e lutou por ele na justiça) e por aí vai. Se falarmos no nível superior e técnico (estes sim, atribuições do governo federal) então Lula/Dilma dão de 1000 a zero. Enquanto FHC reduziu o pessoal nas universidades, não repondo professores aposentados, Lula começou com um programa de RENOVAÇÃO DE EQUIPAMENTOS PARA LABORATÓRIOS – depois, repôs todo o corpo docente, depois, ampliou tanto as vagas que hoje há falta de Doutores para disputa-las. Nas federais, a custo quase zero, foi instituído o terceiro turno, para cursos de LICENCIATURA – vale dizer: melhorando a formação de professores de nível básico e fundamental – isso, sem dizer que deu bolsas em ‘particulares’ àqueles que não tinham a oporrtunidade de cursarem um ‘federal’. Isso sem contar que professores com desvio de atuação tiveram cursos de especialização para desempenharem melhor suas funções… E tem mais, mas, é chato ficar comparando o incomparável.

  8. Vivi todo o periodo FHC e nao vi avanco nenhum. So retrocesso e conversa fiada, que permanece ate hoje. So olhar a pesquisa e comprovar.

  9. Os analfabetos que eles dizem que diminuíram, na verdade, contavam com os alunos matriculados. Agora, absurdo era como se processavam as aulas.
    Elas eram dadas através de um televisor ligado na Globo, no Telecurso, e de 15 em 15 minutos uma aula era dada.
    No intervalo, um gênio apelidado de professor, tinha 5 minutos para explicar e tirar as dúvidas dos alunos.
    O Gênio tinha que saber matemática, física, química, biologia, português, história, geografia…
    Como o gênio não sabia detudo mesmo, e nem tinha tempo para tirar dúvidas em apenas 5 minutos, os alunos viravam babacas.
    Era essa a educação que o neoliberais deram para o jovem brasileiro.
    E eles acreditam piamente que estavam produzindo educação, conhecimento…

  10. Eu estava pensando exatamente nisso nos últimos dias. Como se torna mais difícil melhorar um indicador quando ele alcança a região de saturação da curva.

  11. É o mesmo com o desemprego… estamos com um índice absurdamente baixo já. É difícil diminiuir mais, ainda mais a velocidades grandes…

  12. O grande desafio do governo e do PT será colocar para o jovem eleitorado, inconformado, contestador e principalmente desinformado da história recente, os fatos que ocorreram na era FHC. Eu não posso esquecer na era FHC de um concurso para gari onde formou-se uma fila de uns 5 mil candidatos para se inscreverem, dentre eles até engenheiros que se candidataram, por falta de emprego no país. Eu não consigo esquecer do apagão elétrico na era FHC que nos levaram a ter que economizar na conta de energia, senão éramos multados e ameaçados com o corte de energia. Por essas e muito mais que temos a obrigação de resgatar/divulgar aos eleitorado jovem essa história recente e não deixar que distorçam os fatos através desses gráficos fajutos.

    1. SENSACIONAL o seu comentário!!! Também não consigo me esquecer dessas duas coisas. No apagão, ainda, tinha a questão das prefeituras cortarem pela metade a iluminação pública.! Isso mesmo, era: poste aceso, poste apagado. Na periferia, claro, pq nas “principais avenidas” tinha iluminação completa. Pra economizar energia! Porque não tinha!
      E depois vem uma senhora na mídia dizer que este ano estávamos correndo grande risco de apagão? Que, claro, não se confirmou.

  13. Só esqueceram de contar que FHC proibiu a criação de escolas técnicas. Ele não queria brasileiros preparados para o mercado de trabalho, trabalhador despreparado aceita qualquer salário.

  14. Analise mais que pertinente. È isso aí. Partir de uma massa que está no zero absoluto, é diferente do que pega-la quando as circunstâncias para a continuação são bem mais difíceis.

  15. O Fernando Brito aclara muito bem as questões de informação envolvidas em matéria de análise tão superficial ou intencional publicada pelo jornal carioca. Percebi, também outras questões tais como os gráficos que sugerem desempenho melhor ou mais eficaz, nos temas abordados, ao governo Itamar / FHC e, se observarmos o uso da mesmas cores nos gráficos de barras assim como o sinal +/- para os indicadores, por exemplo de desemprego e trabalho infantil podem levar o leitor mais apressado (talvez a maioria) à uma percepção contrária ao ocorrido. Também a presença do governo Itamar tem algo de suplemento à forma como a matéria foi apresentada (período de 10 anos, melhorar os de FHC), que talvez não seja algo tão inocente assim…

  16. Fernando, primeiro preciso dizer que acho o tijolaço o melhor “blog sujo” dos muitos que eu acompanho.
    Sobre a análise, na minha opinião, nem precisamos ir por esse caminho matemático de logaritmo e tendencias assintóticas. (aliás, como estatístico achei a observação excelente.Parabéns!)
    Pra mim, o mais gritante é quantidade de gráficos/comparações: que dizer, p.e, que apenas três índices (proporção de crianças na escola, por duas faixas etárias e analfabetismo) são suficientes pra afirmar que “os tucanos foram os responsáveis por avanços mais sólidos na Educação”???
    Peralá!! E o número de matriculados e formados nas universidades? Mesma pergunta para teses mestrado e doutorado. Qual foi o aumento do número de matrículas no ensino técnico(nível médio)?
    Bolsas pra estudar pós graduação no exterior. Pra quer servia o ENEM mesmo?
    Isso pra não alongar muito. Também dá pra fazer a mesma comparação com as outras áreas (“na expansão de serviços públicos e na ampliação dos bens de consumo básicos”).
    Pelo menos reconhece algumas conquistas do PT.

  17. Vamos falar de ” ampliação dos bens de consumo básicos”.
    Dois índices? Como é? Dois mesmo?
    Ampliação de telefone e iluminação. E os outros eletrodomésticos? Porque não estão na conta? Carros?
    Mas neste ponto ainda temos que destacar a ampliação ao principal bem de consumo para os brasileiros, que é a casa própria. Quantas famílias conquistaram (sim, nós pobres falamos “conquistar”) a casa própria nos dois períodos? Qual foi o aumento no volume de crédito imobiliário?

  18. PELOAMORDEDEUS!! Alguém consegue tirar uma dúvida?
    Que aumento é esse da renda média no gráfico, se não me engano em 94 logo aós a implantação do Real? Que correção do INPC é essa??? Me lembro bem desa época: todo mundo da minha família e quase todo mudo que eu conhecia (famílias de trabalhadores de diversas áreas) tiveram grande perda da renda e sobre tudo do poder aquisitivo, as exceções eram raríssimas.
    E toda vez que vejo esse gráfico, aparece esse “salto” milagroso no indicador que ninguém na real viu.
    Não consigo entender isso.

  19. Infelizmente, em um país onde temos um calunista do tipo Merval Global ditando regras à corte maior de justiça, podemos esperar o quê? Haja vista a chicana que faz agora com o tal de sarn(a)nberg sobre vinhos importados se os integrantes do mentirão forem para a cadeia. Tem horas que dá uma saudade danada da ditadura, contra quem lutei em minha adolescência. Chegamos a esse ponto, uma dura e triste realidade. Ao menos não tínhamos u’a mídia calhorda e corrupta.

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