Janio de Freitas adverte: acreditar em Marina provoca dor nas costas

Por insuspeita de paixões partidárias, pela qualidade da informação e pelo fato de sempre magistralmente escritos, os textos de Jânio de Freitas funcionam, para quem tenta analisar política, como uma espécie de referência.

Nem sempre ele diz tudo, mas tudo o que diz, procede.

Muito acima do rés-do-chão do “copia e e escreve” da maioria dos repórteres políticos de hoje e em outro mundo de dignidade em relação aos comentaristas-torcedores, mestre Jânio cumpre com a informação o mesmo ciclo que caracteriza a vida: absorver, processar e sintetizar.

E ele produziu, hoje, uma síntese fantasticamente clara:

Ao menos desde ontem pela manhã, quando publicada a entrevista de sua nova associada, Eduardo Campos só pode ser um exemplo de apreensão. Mas sorridente, muito sorridente. Obrigado a sorrir, a repetir-se feliz com o acordo e, claro, absolutamente confiante no apoio de Marina. E, quanto mais se mostre assim, mais será o contrário.

Até por uma possível dor nas costas.”

Leia o texto, na íntegra, e veja como Jânio, a partir dos fatos e das palavras, chega a esta conclusão, que os desmentidos, como ele diz, só confirmam.

O “tônico” da candidatura Campos é perigosamente mortal. Vai-se descobrindo que a tal “nova política” tem da “velha” a mesma ambição dissimulada e o gosto pela traição.

O não dito pelo dito

Jânio de Freitas

A frase “nós dois somos possibilidades e sabemos disso”, emitida por Marina Silva, é a precipitação talvez involuntária, mas certamente sincera e sem dúvida verdadeira, de um desmentido que atinge Eduardo Campos e sua candidatura pelas costas.

É clara e objetiva a admissão de candidatura própria na frase de Marina Silva, recolhida por Ranier Bragon e Matheus Leitão (Folha de ontem). Frase que não ficou contida por mais do que umas 24 horas após a revelação, pelo intermediário da entrada de Marina Silva no PSB, de que Eduardo Campos recebeu com resistência a proposta de adesão, preocupado em salvaguardar sua candidatura. Argumentou que não poderia retirá-la, e perguntou: “Vou ser constrangido?” [a retirá-la].

Resposta contada aos mesmos repórteres pelo próprio interlocutor de Eduardo Campos, deputado Walter Feldman: “Eu disse: ‘A Marina pretende te apoiar, você não será constrangido a retirar sua candidatura, queremos uma aliança programática. Estamos no seu projeto”.

Em texto dos dois entrevistadores: “Segundo relato do deputado, ele disse ao governador que Marina não tinha essa intenção [JF: de ser a candidata à Presidência] e que pretendia (mesmo com 26% das intenções de voto na última pesquisa Datafolha) apoiar o pessebista, com apenas 8%”.

Ainda na relato de Feldman, Eduardo Campos relutou ante a sugestão de um encontro com Marina Silva, temeroso de desgaste se a conversa fracassasse. Por fim concordou, foi encontrá-la em Brasília, e nenhuma candidatura esteve sob condição.

Mas está. Desde já. Ou, quem sabe, desde antes. Eis o trecho todo nas palavras de Marina Silva:

“Para nós, não interessa agora ficar discutindo as posições. Nós dois somos possibilidades e sabemos disso. Que possibilidade seremos, o processo irá dizer e estamos abertos a esse processo”.

Bem nítido: “Não interessa [discutir] AGORA”, o mesmo que dizer da expectativa já existente de discutir a questão adiante. Quando? Não será Eduardo Campos a ter a palavra a respeito. Nem será o PSB que a decidir. “O processo irá dizer.” E, mais do que falar por si, Marina se permite falar pelo próprio Campos: “ESTAMOS abertos a esse processo”.

O oposto do assegurado a Eduardo Campos, como relatado por seu interlocutor, intermediário de Marina Silva e testemunha do encontro, Walter Feldman, que deixou o PSDB para acompanhar sua líder no projeto via PSB.

A situação de Eduardo Campos não deixa de ter graça. Ele começa a mostrar-se a verdadeira Dilma Rousseff imaginada nas tantas loas à jogada “brilhante e inovadora” de Marina Silva ao incorporar-se à candidatura do PSB, contra a da presidente à reeleição. Ao menos desde ontem pela manhã, quando publicada a entrevista de sua nova associada, Eduardo Campos só pode ser um exemplo de apreensão. Mas sorridente, muito sorridente. Obrigado a sorrir, a repetir-se feliz com o acordo e, claro, absolutamente confiante no apoio de Marina. E, quanto mais se mostre assim, mais será o contrário.

Até por uma possível dor nas costas.

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8 respostas

  1. Mais do que dor nas costas, Campos conseguiu um encosto que vai lhe assombrar pelo resto de sua (provavelmente breve!) vida política. A ambição sempre termina por devorar o ambicioso!

  2. Espero que o Fernando Brito dê a réplica sobre es artigo do Paulo Metri

    Paulo Metri: Entreguismo se esconde sob a “neutralidade técnica”

    publicado em 11 de outubro de 2013 às 6:19

    Como matar o setor de petróleo

    Correio da Cidadania a partir de 08/10/13

    Paulo Metri – conselheiro do Clube de Engenharia

    Na década de 1990, auge do período neoliberal, Betinho escreveu um capítulo do livro “Em defesa do interesse nacional”, cheio de ironia e bom humor mas, muito sério, intitulado “Como matar uma estatal”.

    No capítulo, ele descreve todas as ações que um “bom administrador” deveria tomar para atingir seu objetivo de matar a estatal. Nos dias atuais, se ainda estivesse entre nós, ele talvez escrevesse sobre como matar o setor de petróleo.

    Imaginamos que o novo texto ficaria da seguinte forma:

    Cria-se um arcabouço jurídico e institucional, que privilegia a competição, não importando se os agentes econômicos são nacionais ou estrangeiros. O fato de ser nacional não significa que deva ter algum privilégio em qualquer disputa.

    O petróleo, o gás natural e os derivados devem ser considerados como simples commodities, que não possuem valor geopolítico e estratégico algum, ou seja, não possuem nenhuma atração além da rentabilidade.

    Promovem-se leilões em que um único pagamento inicial pode definir a permanência de empresas produzindo petróleo em uma área durante até 35 anos, pagando parcelas mínimas de royalties e, quando for o caso de altas produções, de “participações especiais”.

    Facilita-se ao máximo a entrada de bens e serviços estrangeiros no setor, a pedido das empresas petrolíferas estrangeiras, isentando-os de impostos e taxas, que os nacionais não têm.

    A cada oportunidade de fala à imprensa, deve-se realçar que as decisões da diretoria do órgão regulador são técnicas, significando que ele verifica a competição e o desempenho das empresas.

    Nunca se toma uma decisão com o singelo argumento que ela irá beneficiar a sociedade brasileira.

    O órgão regulador não é um órgão que deve implantar políticas públicas, nem deve levar em conta nas suas decisões que o Brasil é um país em desenvolvimento, com características culturais específicas e inserido no espaço geopolítico mundial.

    Doma-se a estatal do setor, para, amofinada, não participar de leilões e permitir a entrega rápida de blocos para as empresas estrangeiras.

    Mas ela deve participar de um mínimo de leilões de blocos, para não poderem identificar a estratégia de entrega do subsolo nacional.

    Escolhe-se um administrador para regular o setor, que diminua ao máximo o risco dos agentes econômicos, usando a União como colchão amortecedor dos riscos empresariais, garantindo, desta forma, a atratividade dos leilões de áreas petrolíferas e comprometendo a arrecadação de tributos do setor.

    Todos os administradores deste modelo devem recriminar, claramente, a fase anterior do monopólio estatal, classificando-a de jurássica e nunca entrando no debate dos benefícios e comprometimentos de cada modelo.

    Inclusive, só os supostos malefícios do monopólio devem ser denunciados, sistematicamente.

    A mídia comercial deve ser “comprada” pelos agentes econômicos do setor, exceto a estatal. Obviamente, as notícias serão filtradas para transmitirem só os interesses das empresas estrangeiras.

    Notícias ruins da empresa estatal devem ser privilegiadas para irem para a “mídia vendida”.

    Quanto mais notícias deste tipo “vazarem“, mais os papéis desta empresa irão cair, o que é desejado.

    Tudo isto para prepará-la para uma privatização futura, quando ela voltará a ser administrada “tecnicamente” e será eficiente.

    Não falam, mas se referem a uma “eficiência” sob o ponto de vista de remessa de dividendos para os acionistas, principalmente os estrangeiros. Não se trata de uma “eficiência social”.

    Entrega-se uma parcela dos royalties para estados e municípios, para existirem adesões cegas ao modelo completo, graças a só um artigo da lei, o dos royalties.

    Colocam-se recursos do Fundo Setorial do Petróleo para professores administrarem cursos e programas sobre o petróleo com viés neoliberal, o que deixa alguns membros da academia felizes.

    Quando um campo gigante for descoberto pela estatal, ele deve ser rapidamente retomado pelo órgão regulador, para fazer um mega-leilão de petróleo, com endereço conhecido, para o governo de contadores fechar as contas e para a felicidade do Império.

    Depois de 20 anos de aplicação destes princípios, os mais jovens, sem possibilidade de comparação com outro modelo e com a mídia os alienando, estarão dominados.

    Os poucos conscientes remanescentes, que presenciaram os benefícios do monopólio estatal para um país em desenvolvimento como o Brasil, estarão aposentados ou mortos.

    Neste momento, o golpe fatal pode ser dado com a privatização da Petrobras.

  3. Concordo com Sérgio:é a fome com a vontade de comer,o sujo de braço com o mal lavado.Ambos traíras,nem dá para saber qual o mais,pois um é a quem lhe bancou a projeção nacional e a outra,pura e santa, ao que dizia
    serem seus critérios e princípios.Jacaré e cobra d’água.

  4. Dois traidores que se merecem e vão se degladiar até o fim!!!
    Vence o que tiver veneno mais poderoso, até o momento a Marina, que junto de Feldman conseguiu provar a burrice imensa de Campos.
    O que a ânsia pelo poder não faz!!!!!

  5. Veja o tipo de solidariedade dos médicos coxinhas.
    Sex , 11/10/2013 às 15:40 jornal A Tarde.
    assistam: http://www.youtube.com/watch?v=rtbiFcDq__0

    Delegada diz que médica perseguiu irmãos até colisão
    Da Redação, com informações de Rodrigo Menezes
    A médica Kátia Vargas Leal Pereira, de 45 anos, deverá ser indiciada por duplo homicídio doloso, quando há intenção de matar, no caso que envolve a morte dos irmãos Emanuel e Emanuelle, 22 e 21 anos, na manhã desta sexta-feira, 11.
    Segundo a delegada-titular Jussara de Souza, as imagens das câmeras de segurança são conclusivas. A médica teve a intenção de bater na moto pilotada por Emanuel.

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