Mais ‘prioridades’ com menos vacinas

O governo Bolsonaro, querendo fazer demagogia vacinal, acaba de anunciar a ampliação do público prioritário da Fase 1 da vacinação, incluindo caminhoneiros e, para justificar a negociação política para atender deste grupo, entraram também motoristas de transportes públicos, metroviários, portuários, aquaviários, coletivos urbanos, interurbanos e interestaduais e aéreo.

Todos, claro, merecem ser vacinados. Mas a decisão é um tiro no pé, porque aboliu a exclusividade da ciência na definição de um plano de vacinação no qual o que menos há são vacinas a serem aplicadas.

Logo virão as pressões irresistíveis: policiais, bombeiros, profissionais de educação, comerciários dos setores essenciais, motoristas de aplicativos, bancários, por aí afora. Aliás, se é transporte, porque não os motoristas de vans?

Dos quais, também é evidente, não se pode deixar de reconhecer as razões.

Só esta decisão quadruplica o público-alvo desta chamada Fase 1, de 15 milhões para 60 milhões de pessoas, ou 120 milhões de doses de vacina.

Quando não temos, sequer, um terço das vacinas necessárias para a configuração anterior da Prioridade Um. Nem mesmo para liberar a vacinação dos idosos com mais de 75 anos.

Ou seja, amplia-se exponencialmente ao alvo das vacinas, enquanto a quantidade de imunizantes sobe a conta-gotas.

Eles serão ‘prioridade’ para quando? Não se tem a menor ideia, mas certamente não no primeiro semestre de 2020, quando teremos, de tanto, 100 milhões de doses.

Pior, complica-se o sistema de aplicação de vacinas, que fica obrigado a “conferir” quem trabalha nisso ou naquilo, se tem carteira profissional, se tem crachá, se tem registro de estivador, se está na ativa ou aposentado, etc, etc, etc…

Claro está que os casos de “arranjos e carteiradas”, que já estão escandalizando o país vão se multiplicar ‘n’ vezes.

E a demagogia vai querer dizer que isso é ser “contra” os caminhoneiros, os motoristas, etc… É politicagem em lugar de medicina. Coisa de quem está preocupado com marketing, não com saúde pública, com a vacina em tese e não no braço.

Depois de vacinada as equipes hospitalares, o único critério factível para uma vacinação em massa é o etário, o qual já foi várias vezes testado e aprovado em vacinações anteriores, tanto as de crianças quanto a de idosos.

Ressalvadas situações específicas, nas quais se tenha possibilidade de controle simples – por exemplo, professores das redes públicas – e sem grande burocracia.

Mas um plano de vacinação que descuidou do básico – ter vacinas para aplicar – certamente não vai se preocupar com a exequibilidade de vacinar públicos segundo uma regra: em primeiro lugar, reduzir o risco de morte – para o qual não há outra opção – e, a seguir, fazer o bloqueio da transmissão, algo para o qual há medidas restritivas que podem e devem ser adotadas, como estão sendo adotadas mundo afora.

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