No Natal, vacine-se contra a desesperança

O Natal poderia estar sendo o fecho de um tempo áspero e cruel que vivemos em 2020, mas parece o contrário, com o recrudescimento de todo o tempo ruim que marcou.

Na TV, ouço uma médica de UTI dizendo que, desde o início do ano vem tentando achar forças para enfrentar o medo e o trabalho pensando que, “é só mais um mês”.

E não foi, e não é e não será.

Mais que a provação, o que nos derrota são a angústia e o medo.

É viver o sobressalto de saber quem será o próximo – e falo dos próximos, mesmo, porque os distantes são aos milhares – a cair nesta maldita “gripezinha”, no dizer do imbecil que nos envergonha como país.

A mim, dois filhos e duas sobrinhas foram este próximo, por sorte sem consequências graves. A todos, é assim e nem sempre é assim.

Mas este sofrer vai além dos nossos grupos familiares, vai à escala do Brasil, vai ao tamanho do mundo.

Na noite de Natal, serão aqui 190 mil mortos e, no mundo, estaremos a caminho dos 2 milhões.

Ficamos à espera do milagre da vacina, como um Advento. o prenúncio da chegada do que vai nos salvar.

Percebemos que não é assim, que tão ou mais poderosa que a Ciência que a traz são o dinheiro e a política com que a aprisionam.

Porque a vacina, necessária à vida como o pão e o vinho será lenta e avaramente distribuída, isso quando deixar de ser maldita e imprecada pelos eternos fariseus e pelos profetas da morte que a aceitam como um desejo divino.

Não é, porque ela nos iguala apenas no desfazimento dos corpos, mas nos mantém diferentes até mesmo na agonia dos hospitais, entre os que têm cuidados e os que, até nesta hora, são desprezados pelo Estado no qual, na UTI e na vida, não há vagas para eles.

Ainda assim, a nossa condição humana busca o nosso inevitável destino de civilização, mesmo quando a barbárie parece ter tomado conta da Terra – e de nossa terra.

Perderão os que querem nos reduzir a seitas, a tribos, a grupos, a “identidades” que os segregam, uns por ódio e mediocridade, outros pela tolice de achar que segregação combate-se segregando, esquecendo que a lei de talião é coisa de sociedades primitivas, que se rege pelo passado e abandona o sentido de futuro.

O vale da sombra da morte ainda nos reserva um longo caminho de dor e sofrimento, na Saúde e na Economia. Mas é visível que a estupidez tem cada vez menos adeptos que a desfilem pelas ruas.

A vacina não é milagre.

Mas, ao menos hoje, só nesta véspera de Natal, permitamo-nos olhá-la como esperança e símbolo de vida, como afirmação da capacidade do cérebro humano, como negação do obscurantismo que nubla os céus de hoje mas que, aqui e ali, já nos dá nesgas de luz.

Feliz Natal!

 

 

 

 

 

 

 

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