A Folha de hoje traz artigo de uma senhora, Solange Srour Chachamovitz, economista chefe da ARX Investimentos, empresa do grupo financeiro BNY Mellon, que vai disputar o “Troféu Maria Antonieta e seus Brioches “com a frase do ministro Paulo Guedes dizendo que “rico poupa, mas pobre não sabe poupar”.
Dona Solange combate a ideia de a vinculação dos gastos sociais aos reajustes do salário mínimo com um argumento que ela não ousaria repetir na saída dos peões de uma obra de construção civil: “Quem ganha salário mínimo hoje no país não é pobre. Essa é a realidade, infelizmente.”
Quem ganha R$ 998 por mês para viver e sustentar os filhos, o que é, Dona Solange?
E a senhora, que ganha isso, o dobro ou o triplo por dia, o que é?
A D. Solange diz que ” o sistema político não aceita que benefícios sociais sejam corrigidos apenas pela inflação” porque lhe “falta conhecimento da distribuição de renda do Brasil”.
Então vamos conhecer a distribuição de renda no Brasil, minha senhora, com os números da Pnad do IBGE, fresquinhos:
A metade mais pobre da população, quase 104 milhões de brasileiros, vivia com apenas R$ 413 mensais, considerando todas as fontes de renda.
Isto, Dona Solange, não é nem pobreza, é miséria e é o que uma família de trabalhador de salário mínimo, com filhos, tem para viver por 30 dias: a conta per capita do restaurante de uma roda de “gestores de investimentos”, mas que algum deles, generoso, pega rapidamente e diz: “essa é minha”.A esclarecida articulista,, porém, que desenvolvimento urgente. Por quê?
“Os acontecimentos recentes aumentam a urgência do crescimento. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva saiu da prisão atacando fortemente o modelo econômico liberal, no momento em que este começa a mostrar que pode dar certo. Bolsonaro, que até agora nadava de braçada sem oposição organizada (em contraponto à sua falta de habilidade política), poderá enfrentar um ambiente mais hostil.”
Dona Solange, o “modelo liberal começa a dar certo”, como se viu no Chile, só se for como a história do cavalo do inglês, aquela em que, para economizar, o súdito de Sua Majestade deixa de alimentar, para que aprender a viver sem comer. E logo quando estava “quase aprendendo”, morreu.
O crescimento é urgente, sim, mas para as pessoas, porque o Brasil está se enchendo de miseráveis, dormindo pelas calçadas, com uma caixa de papelão por cama. Porque metade das crianças brasileiras – é o Fantástico, não é a esquerda quem diz – tem seus direitos elementares violados, em alimentação, saúde, educação, saneamento…
O que faz mal ao Brasil, Dona Solange, não é um micro-reajuste nos benefícios sociais além da inflação. É o lucro gigantesco de bancos e financeiras, um dos quais a senhora serve, e que ganha em um segundo o que esta pobre gente – sim, pobre, pobre mas tão humana quanto a senhora – não ganha em toda a vida.