O desembargador e a miséria humana

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Sou uma pessoa radicalmente contra linchamentos públicos, seja na mídia seja nas redes sociais. Mas esse desembargador merece as críticas que vem recebendo na rede, até porque simboliza o que há de mais odioso na sociedade brasileira: a desigualdade econômica.

E se a desigualdade econômica é o pior vício da sociedade brasileira, ela às vezes gera uma doença ainda pior, e que talvez seja a pior de toda a humanidade: o desejo de humilhar um ser humano mais simples que você.

O que foi exatamente o que esse desembargador quis fazer: humilhar o pobre garçom que não botou gelo em seu copo.

Segue abaixo, um artigo do Paulo Nogueira sobre o assunto.

O desembargador, o garçom, o bom samaritano e o Brasil

Por Paulo Nogueira

A miséria e a grandeza humana se encontraram numa padaria de Natal neste final de ano.

A miséria foi representada pelo desembargador Dilermando Motta, e a grandeza pelo cidadão Alexandre Azevedo.

Um garçom foi o palco involuntário do combate entre a grandeza e a miséria.

Segundo os relatos, o desembargador pegou o garçom pelos ombros aos gritos e o mandou tratá-lo como “excelência”. Ameaçou “quebrar a cara” do garçom.

O motivo: o garçom não colocara gelo em seu copo.

Alexandre reagiu, e isto está registrado num vídeo que está sendo intensamente visto e compartilhado na internet.

Numa nota sobre o caso, Alexandre citou Darcy Ribeiro. “Ele dizia que só há duas opções na vida: se resignar ou se indignar. E eu não vou me resignar nunca.”

O desembargador chamou a polícia na padaria, depois de dizer que Alexandre seria preso imediatamente. Quatro viaturas logo acudiram. Mas, feitas perguntas aos presentes, ninguém foi preso. Evangélico fervoroso, Motta, como você pode observar no vídeo, berrava palavras como “endemoniado” e “endiabrado” ao bom samaritano que tomara a defesa do garçom.

“Bando de cagão”, disse o desembargador aos policiais segundo Alexandre. Um novo vídeo capta o momento em que Motta ofende os policiais. Nele, a voz de uma mulher corrobora a versão de Alexandre. “Todo mundo é testemunha”, diz ela à polìcia.

Numa entrevista posterior ao caso, Alexandre disse que Motta estava armado, e manifestou preocupação com eventuais de um “homem poderoso”.

Num mundo menos imperfeito, uma prisão teria sido feita: a do desembargador, por abuso de autoridade.

Num mundo menos imperfeito, o caso teria conquistado repercussão nacional na mídia. Mas a mídia brasileira não dá voz aos desvalidos, aos humilhados e ofendidos. Eles são nossos irmãos invisíveis.

Na Inglaterra, em 2012, ocorreu um episódio de certa forma assemelhado. Um alto funcionário da equipe do premiê Cameron foi acusado de chamar de “plebeus” os policiais que não o deixaram sair de bicicleta pelo portão principal de Downing Street, a sede do governo. Os policiais pediram que ele usasse a saída dos pedestres.

Foi uma comoção nacional. A mídia chamou o caso de “Plebgate”. Em pouco tempo, o acusado perdera o emprego depois de já haver perdido a reputação.

Na Escandinávia vigora um código — a Janteloven, leis de Jante, cidade fictícia que moldou a cultura igualitária da região — segundo o qual ninguém é melhor — nem pior — que ninguém por força de cargo e dinheiro. O infame comentário de Boris Casoy sobre os lixeiros o teria transformado imediatamente num pária social se tivesse sido proferido na Escandinávia.

No Brasil, a reação ao comportamento do desembargador se restringiu essencialmente às redes sociais, o que mostra o divórcio entre a mídia e a realidade dos brasileiros.

No começo deste ano, a única vítima do episódio era o garçom. Ele foi afastado por estar com problemas psicológicos, segundo a padaria. Foi colocado em “férias”.

O desembargador, numa nota, afirmou que está tomando as “providências cabíveis”. Ora, o mínimo “cabível” era um pedido honesto de desculpas ao garçom e às pessoas da padaria que tiveram que aturar sua arrogância violenta.

Não poderia haver retrato melhor da justiça brasileira e nem da mídia, que só dá voz a quem já a tem em alta escala.

A internet faz seu papel: reage ao abuso e, como Alexandre, defende vigorosamente o garçom.

No momento em que escrevo, nem um único repórter fora convocado para ouvir a história do garçom. Ninguém fora à sua casa, que podemos bem imaginar como seja.

Nenhuma autoridade – federal, estadual, municipal – se pronunciara em favor dele.

E o desembargador viverá em 2014 como sempre viveu, sabedor dos poderes que o cargo lhe dá.

Assista ao vídeo:

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22 respostas

  1. Pois é. Quando mais uma vez aquela velha pergunta arrogante vem à tona: “Você sabe com quem está falando?”, como uma ameaça vinda do além (será com o Todo Poderoso?) já é mais do que hora para repensarmos o judiciário brasileiro, anti-republicano por natureza. Quem lembra da greve do funcionalismo público e leu sobre os novos quadros de carreira sabe que muitos níveis desapareceram e com isso, alguns ficaram sem efetivo aumento nos salários. Desembargadores são criação do Brasil Colônia para prestar serviços ao dono da Coroa. Esse cargo é extemporâneo e continua servindo aos donos dos poderes locais (governadores que os nomeiam). Servem em quê à população? Nos próprios tribunais acumulam-se processos por prevaricação, sei que muitos em cima de desembargadores. Não seria o caso de terminar com essa função que causa um prejuízo muito maior do que um professor assistente 3 ou 4, cujo nível foi para o espaço, só para citar um exemplo?

  2. … Este estropício desalmado é do [infausto] “time” do joaquim barbosa, ‘O MALUCO (GLO)BELEZA’!…

    Passa a régua porque eu preciso espirrar!…

    República da oPÓsição “cheirosa”!
    Bahia, Feira de Santana
    Messias Franca de Macedo

  3. [MAIS UM “DO TIME” ESCROTO DO Joaquim barbosa, O RÁBULA PSICOPATA, ‘o fumaça do golpe ora em curso inclusive televisionado plin plin’! “Um homem absolutamente MAU”, segundo o ínclito e catedrático jurista Celso Antônio Bandeira de Mello.]

    O desembargador, o garçom, o bom samaritano e o Brasil

    A miséria e a grandeza humana se encontraram numa padaria de Natal neste final de ano.
    A miséria foi representada pelo desembargador Dilermando Motta, e a grandeza pelo cidadão Alexandre Azevedo.
    Um garçom foi o palco involuntário do combate entre a grandeza e a miséria.
    Segundo os relatos, o desembargador pegou o garçom pelos ombros aos gritos e o mandou tratá-lo como “excelência”. Ameaçou “quebrar a cara” do garçom.
    O motivo: o garçom não colocara gelo em seu copo.
    Alexandre reagiu, e isto está registrado num vídeo que está sendo intensamente visto e compartilhado na internet.
    Numa nota sobre o caso, Alexandre citou Darcy Ribeiro. “Ele dizia que só há duas opções na vida: se resignar ou se indignar. E eu não vou me resignar nunca.”
    O desembargador chamou a polícia na padaria, depois de dizer que Alexandre seria preso imediatamente. Quatro viaturas logo acudiram. Mas, feitas perguntas aos presentes, ninguém foi preso. Evangélico fervoroso, Motta, como você pode observar no vídeo, berrava palavras como “endemoniado” e “endiabrado” ao bom samaritano que tomara a defesa do garçom.
    “Bando de cagão”, disse o desembargador aos policiais segundo Alexandre. Um novo vídeo capta o momento em que Motta ofende os policiais. Nele, a voz de uma mulher corrobora a versão de Alexandre. “Todo mundo é testemunha”, diz ela à polìcia.
    Numa entrevista posterior ao caso, Alexandre disse que Motta estava armado, e manifestou preocupação com eventuais de um “homem poderoso”.
    Num mundo menos imperfeito, uma prisão teria sido feita: a do desembargador, por abuso de autoridade.
    Num mundo menos imperfeito, o caso teria conquistado repercussão nacional na mídia. Mas a mídia brasileira não dá voz aos desvalidos, aos humilhados e ofendidos. Eles são nossos irmãos invisíveis.
    Na Inglaterra, em 2012, ocorreu um episódio de certa forma assemelhado. Um alto funcionário da equipe do premiê Cameron foi acusado de chamar de “plebeus” os policiais que não o deixaram sair de bicicleta pelo portão principal de Downing Street, a sede do governo. Os policiais pediram que ele usasse a saída dos pedestres.
    Foi uma comoção nacional. A mídia chamou o caso de “Plebgate”. Em pouco tempo, o acusado perdera o emprego depois de já haver perdido a reputação.
    Na Escandinávia vigora um código — a Janteloven, leis de Jante, cidade fictícia que moldou a cultura igualitária da região — segundo o qual ninguém é melhor — nem pior — que ninguém por força de cargo e dinheiro. O infame comentário de Boris Casoy sobre os lixeiros o teria transformado imediatamente num pária social se tivesse sido proferido na Escandinávia.
    No Brasil, a reação ao comportamento do desembargador se restringiu essencialmente às redes sociais, o que mostra o divórcio entre a mídia e a realidade dos brasileiros.
    No começo deste ano, a única vítima do episódio era o garçom. Ele foi afastado por estar com problemas psicológicos, segundo a padaria. Foi colocado em “férias”.
    O desembargador, numa nota, afirmou que está tomando as “providências cabíveis”. Ora, o mínimo “cabível” era um pedido honesto de desculpas ao garçom e às pessoas da padaria que tiveram que aturar sua arrogância violenta.
    Não poderia haver retrato melhor da justiça brasileira e nem da mídia, que só dá voz a quem já a tem em alta escala.
    A internet faz seu papel: reage ao abuso e, como Alexandre, defende vigorosamente o garçom.
    No momento em que escrevo, nem um único repórter fora convocado para ouvir a história do garçom. Ninguém fora à sua casa, que podemos bem imaginar como seja.
    Nenhuma autoridade – federal, estadual, municipal – se pronunciara em favor dele.
    E o desembargador viverá em 2014 como sempre viveu, sabedor dos poderes que o cargo lhe dá.
    Por jornalista: Paulo Nogueira
    Postado em 04 Jan 2014

    Sobre o Autor
    O jornalista Paulo Nogueira – atualmente sediado em Londres – é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.

    em http://www.diariodocentrodomundo.com.br/o-desembargador-o-garcom-e-o-brasil/

  4. Barbosa refazendo o ” prendo e arrebento ” estah dando exemplos de maus comportamentos infelizmente que tem passado impunes no Brasil. Além de deplorável tais atitudes de magistrados ofendem todo povo . Nossa justiça tem que ser repensada com urgência para coibir este festival de besteiras .

  5. Esse é o retrato da falida justiça brasileira.

    Há que se fazer a reestruturação do judiciário. Juiz tem que ter mandato definido pelo voto popular.

  6. Se nada for feito contra esse desembargador, a frase que ele falou – “UM BANDO DA CAGÃO” – vai se aplicar com, toda a propriedade, à justiça, instituição da qual ele faz parte. Cagões e cagonas do Brasil: uni-vos para apoiar mais esse irresponsável! Pelo menos que ele seja exemplarmente punido com aposentadoria compulsória. Seria um bom começo :0)

  7. E a OAB? Não vai se manifestar? Ou começamos a fazer alguma coisa para mudar a justiça deste país, ou seremos sempre vítimas desse bando de alucinados(inclusive, JB).

  8. Jamais chamarei de DES-EMBARGADOR. porque você é o que é de pior numa sociedade.junte-se ao sr Joaquim Barbosa vocês serão um dupla genial.Isso é a justiça brasileira,VERGONHA para o mundo;

  9. Olá moçada das redes vamos espalhar para todo o Brasil que é este apitador de pelada,muito menos desembargador.

  10. Imagina homens como eles sozinhos com cidadãos, em uma sala de interrogatório, fazendo as perguntas, investigando e depois julgando…
    Alguém tem dúvida do resultado.

  11. O desembargador tem que entender que na padaria todo mundo é cidadão, e ele também.
    A atribuição de desembargador ele exerce só na ocupação do cargo.
    Padaria não é FORUM e lá não local adequado para o exegeta e o hermeneuta jurídico. Padaria é padaria. E ponto!!!
    Chega de megalomaníacos, Chega de humilhar os mais humildes. Um dia, todos nós vamos virar abóbora.

  12. A reação do cidadão indignado com a atitude do desembargador, aliás, excelência, pois só as excelências têm tal comportamento diga-se de passagem, é a reação de uma nação inteira diante da truculência e insensibilidade desse monstro anacrônico chamado Justiça Brasileira. O Exemplo que o desembargador deu nada mais é o que Joaquim Barbosa o ensinou e mostra à todos os cidadãos onde se encontra a Justiça Brasileira, que é o que ela realmente é e onde está.
    Essa indignação não é apenas do cidadão que saiu em defesa do humilde garçom, mas todos que clamam por respeito a dignidade com TODOS os cidadãos.

  13. Dos Tres Poderes, o Podre Judiciario é o mais porco e imundo, perdendo apenas para a MIDIA CORRUPTA!!!

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