OPAS: “Mais Médicos” é arrojado e inovador

Carissa Etienne, diretora geral da Organização Pan-Americana de Saúde, a mais antiga instituição médica do mundo, publicou hoje um artigo em O Globo que deveria ser lido por todas as pessoas que acham que o “Mais Médicos” é um programa de natureza eleitoral.

Reproduzo um trecho, que espero na esperança de que se cure o “complexo de vira-latas” de luxo que se tem em relação à saúde brasileira. Ela tem estruturas precárias, filas, carências de toda a espécie.

Mas é a única política social que, neste país, evolui sem recuos nos últimos 25 anos, desde a criação do SUS e da universalização do direito de acesso aos serviços de saúde, para uma população imensa, carente e com dispersões geográficas gigantescas.

Coisas que, estamos vendo, não são realidade em muitos países avançados economicamente, como os Estados Unidos, que só enxergam a medicina como um negócio privado.

Graças, aliás, aos profissionais médicos dedicados à saúde pública e não transtornados com uma ideia corporativa mesquinha, que os afasta dos próprios objetivos da profissão e que está causando danos irreparáveis à imagem da categoria.

Que bom se os médicos brasileiros pudessem ser vistos como o que são: protagonistas de uma história dos progressivos sucessos de um país na luta contra a pobreza e o abandono do ser humano.

O Brasil não está só

Carissa Etienne

(…)A Opas/OMS tem apoiado seus países-membros em suas iniciativas para fortalecer os recursos humanos em saúde. A mais recente destas iniciativas foi o arrojado e inovador programa Mais Médicos, do Brasil.

Como a maioria dos países em nossa região, o Brasil sofre com a falta de profissionais de saúde em áreas remotas e de baixa renda. O projeto se insere em nossa longa história de cooperação com o Brasil que se associou à Opas em 1929 e se baseia em princípios fundamentais para nossa organização: solidariedade pan-americana e igualdade na saúde.

A Opas e o Ministério da Saúde identificam um conjunto de soluções para essa escassez. Ela presta cooperação técnica para fortalecer os serviços de atenção básica de saúde e facilita a cooperação Sul-Sul entre Brasil e Cuba para mobilizar médicos para trabalharem em áreas com cobertura insuficiente. Além disso, proporcionamos a cooperação técnica em várias áreas e participamos do monitoramento e avaliação do programa.

Cada país tem que encontrar seu próprio caminho para alcançar a cobertura universal em saúde, conforme sua própria conjuntura histórica, social e econômica. Como um todo, a região das Américas está avançando relativamente rápido nessa direção.

Dezenove países já garantem saúde para todos em suas constituições. Os sistemas de saúde do Canadá e de El Salvador e o SUS do Brasil apesar de seus muitos desafios se tornaram referências mundiais. Coma entrada em vigor das principais disposições do Affordable Care Act na terça-feira, os Estados Unidos se tomaram o país mais recente a se voltar nesta direção.

É compreensível que as discussões acaloradas que surgiram logo após o lançamento do programa Mais Médicos às vezes tenham ocorrido fora do contexto maior dos desafios para o fortalecimento dos recursos humanos em saúde. Agora, há uma boa oportunidade para ampliar este debate. Em novembro, oTerceiro Fórum Global de Recursos Humanos em Saúde será realizado no Recife, reunindo 1.500 formuladores de políticas e peritos internacionais na área.

O Brasil, que já é reconhecido como líder global em saúde pública, se encontrará em uma posição privilegiada para compartilhar informações a respeito dos seus programas nacionais e sua cooperação internacional na área de saúde.

PS: Aqui você pode saber um pouco mais sobre a Dra. Carissa e entender porque o elitismo brasileiro a desconsidera.
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26 respostas

  1. O Governo deveria criar o: “mais psiquiatras”, pra cuidar das mentes deterioradas do Congresso.

    1. boa Mauricio, deveria vir acompanhado do “menos holofotes” pra tirar os casos crônicos da mídia também.

      1. Permita discordar, Gustavo. Com todo respeito: “mais holofotes”. Quem gosta de sombra, e coruja, ou ladrao de galinha.

  2. Interessante,que a alguns meses,o governo federal reduziu orçamento da saúde para pagar a dívida pública,e após protestos,queda de aprovação do governo surgiu dinheiro!!!!!!!!!Isto é fato,ou não???!!Com relação ao mais médicos,gostaria de fazer algumas colocações,trabalho no interior de SC,e os profissionais que para cá vieram foram para o litoral,e grandes centros,como os médicos daqui,e qual o motivo????!!!! Proximidade de shopping,praia,falo de região sul!!! Agora alguém acreditada que nos municípios mais necessitados das regiões norte e nordeste quem irá???? E não vão pois falta infraestrutura,recursos mínimos,pois amor a profissão e um estetoscópio não curam ninguém,os hospitais estão falindo,o SUS paga dez reais uma consulta,é possível exercer a medicina sem hospital de retaguarda com condições dignas???!!!!!Quero ver se o filho,neto de algum deputado,parente de alguém do poder executivo vai ai ao SUS!!???? O Sr.Lula foi ao SUS,quando doente???? Alguém do lato escalão,a diretora da OPAS aqui no nosso país,com certeza estaria longe do SUS!!!! Vejam,sem ilusão,precisamos de ações profundas, e não de “curativo”(“mais médico”)!!!!

    1. 90% dos problemas de saúde pública são causados por ausência de médicos. Uma simples gripe, que poderia ser diagnosticada rapidamente, sem a necessidade de um calhamaço de exames, acaba evoluindo para uma bronquite ou algo pior, pois ou a ausência total de médicos ou vira um caso de “virose”, na mão de um profissional absolutamente assoberbado.

      Existindo médicos em número suficiente, acabam as filas, muitas doenças deixam de evoluir para casos que requerem macas, leitos, UTIs.

      Evidentemente, os médicos dos rincões, não terão estrutura disponível para realizar um transplante de órgãos, e encaminharão os casos mais complexos para os grandes centros.

    2. O que o Governo quer, com o mais medicos, e previnir doencas e reduzir gastos. Diferente da industria da doenca,que quer mais doentes e mais internacoes e remedios.

    3. Laura Greenhalgh: Doutor Preto teria algo a dizer aos médicos brasileiros
      publicado em 2 de setembro de 2013 às 11:50

      por Laura Greenhalgh, no Estadão.

      Não é de hoje que este país sofre da má distribuição de seus médicos, o que faz com que vastidões continuem desassistidas para o atendimento básico, o que dizer então dos casos em que se requer atendimento especializado.

      Como não é de hoje que, embora tenhamos o SUS, predomina em nossas vidas, bem como em nossas expectativas de futuro, a visão mercadológica da medicina, no sentido de que o melhor estará sempre reservado a quem pode bancar. Mas, ainda que saibamos de tudo, vale indagar se os atores do protesto terão vaiado apenas os profissionais de fora, inscritos no programa oficial.

      Saiu vaiada a medicina social brasileira. Como saíram vaiados profissionais que deram e dão duro para fazer com que a saúde seja um direito de todos neste país. Hoje pretendo usar este espaço para lembrar de um deles, por coincidência negro e, mais coincidência ainda, neto de escravos.

      Chamava-se Justiniano Clímaco da Silva, mas a clientela o tratava como “Doutor Preto”. Fez história no Paraná, precisamente em Londrina, onde trabalhou até morrer, em 2000, aos 93 anos.

      Destacou-se numa cidade muito pobre até idos de 1930, depois enriquecida pela cafeicultura – cidade em cujos anais consta a saga vitoriosa dos colonos brancos, de origem europeia, nem tanto a força de trabalho dos negros libertos. E não foram poucos – no século 19, os escravos representavam 25% da população do Estado.

      Pois bem, Justiniano Clímaco nasceu preto e pobre em Santo Amaro da Purificação, na Bahia, em 1908. Filho de carpinteiro e criada doméstica, cismou de imitar o Dr. Bião, médico da cidade. Queria ser como ele. Então virou preto, pobre e pretensioso. Tanto fez que lhe arrumaram estudos num seminário e cama na casa de uma tia em Salvador.

      Daí, preto, pobre, pretensioso e persistente, não virou padre, mas bacharel em Ciências e Letras. Depois virou professor do ginásio, deu aulas de matemática e latim, o que pagaria o preparatório para a Faculdade de Medicina da Bahia. Entrou. Fez o curso.

      Formou-se em 1933 numa classe com 95 alunos, contabilizados aí uma única mulher e ele, o único negro. Topou com a notícia de que a Companhia de Terras Norte do Paraná, firma inglesa que loteava uma vasta área do Estado, recrutava braços para a lavoura, apesar do avanço do tifo e da febre amarela. Pensou: se tem doença, precisa de médico. É lá que eu vou.

      Assim começa a maior viração do Doutor Preto, 50 anos de clínica, mais de 30 mil pacientes, fundador de hospitais na região e tema de trabalho acadêmico de Maria Nilza da Silva, da Universidade Estadual de Londrina (UEL). A pesquisa da socióloga, da qual participou a aluna Mariana Panta, dá conta de um “escravo da medicina”, usando expressão do médico cubano vaiado em Fortaleza.

      Justiniano Clímaco chegou em 1938 a uma Londrina sem luz elétrica para acionar o infravermelho que trouxe de Salvador. Fervia e flambava os próprios instrumentos, não tinha raio X, anestesiava os pacientes com máscaras de clorofórmio, rastreava tumores por apalpação, ouvia pulmões e corações longamente.

      Dizia: “Clínica geral tem que ser feita assim: sem pressa”. Foi pioneiro no uso da penicilina ao tratar doenças sexualmente transmitidas, que proliferavam numa fronteira agrícola com gente de tudo quanto é lugar. Com o tempo, arrumou um Ford 28 para atender na roça e levar casos graves até Curitiba – 400 quilômetros por terra, dois dias de viagem.

      Cobrava de quem tinha para pagar. E aceitava uma leitoinha, ou um queijo caseiro, por serviços prestados. Da clínica que abriu inicialmente, Casa de Saúde Santa Cecília, passou a se articular com os mais influentes para criar instituições como a Santa Casa de Londrina e a Sociedade Médica de Maringá.

      Chegou a arrancar do presidente Dutra os tostões necessários para um hospital de tuberculosos em Apucarana, depois transferido para Londrina. Hoje ali funciona o Hospital Universitário, centro de referência médica do norte do Paraná.

      Um belo dia Doutor Preto achou que seria bom provar do poder. Disputou uma vaga como deputado estadual, foi o quinto mais votado, mas odiou os anos na política, vividos solitariamente numa pensão em Curitiba. Queria voltar para a clientela. E dela não mais se separou.

      Voltou também para a garotada do ginásio, ele que se tornara poliglota – falava além de grego e latim, alemão e francês.

      Perguntavam-lhe por que dar aulas, afinal, já suava o jaleco. “Docendo discitur“, respondia. Ensinando é que se aprende. Só um dia perdeu as estribeiras com paciente.

      O sujeito marrento o interpelou no corredor do hospital, perguntando pelo Doutor Clímaco. Ouviu um naturalíssimo “sou eu”. E rebateu com um insultuoso “não vem não, negão, vai logo chamar o médico”. Preconceito não só fere, como turva os sentidos.

      Justiniano Clímaco agarrou o homem e jogou-o no rua. Sem consulta. Fez cardiologista seu único filho, adotivo, e doou tudo para a cidade, inclusive a maleta de médico. A casa onde morou até morrer foi derrubada, mas seu nome continua de pé numa unidade básica de saúde. Neto de escravos, Doutor Preto teria algo a dizer aos médicos brasileiros que hoje vaiam médicos cubanos.

  3. Me respondam por favor.
    Uma jovem grávida vai ao posto de saúde ( postinho) da vila.
    O médico diz que atende ela, mas não permite acompanhante,
    no caso o pai da criança, é uma praxe dele.
    Pergunta? Não existe uma lei de acompanhamento da mulher
    gestante….com médico obstetra, pelo menos com a enfermeira.
    Isto não seria inclusive para proteger o médico…
    Me passem o endereço desta lei se houver.
    Sei que existe para o parto.
    Grato
    Ps. Como é importante saber que jovens procuram seus direitos
    algo esta acontecendo em relação aos médicos…

  4. O grande medo da classe médica é a socialização da medicina. O SUS, boicotado por médicos e planos de saúde, cujos proprietários são médicos, já existe e está instalado de forma precária algumas vezes. Esta infraestrutura vai se modificar para melhor e em breve teremos o cumprimento da constituição brasileira que manda os governos fazer aquilo que o governo Dilma está fazendo.

  5. Ela já participou também de um episódio relatado pela Band e/ou Record (faz um tempinho)em que ela e um grupo chic, da elite dela, inclusive Boninho, jogavam ovos de cima de uma janela de um edifício alto, quem sabe, “um palacete assobradado” (desculpe, Adoniran), nos passantes da avenida. É ou não é um grande cabedal?

  6. E no entanto, aqui no RJ e em SP, partidos que hoje dominam determinados sindicatos e grêmios acadêmicos convocam esse movimento para participar em seus atos e radicalizá-los. Estão, por assim dizer, promovento o ‘LEVANTE’ bastante ‘JUNTOS’ … (juntos e misturados, na realidade). Não são coisas isoladas e nem apartidárias. Assemelham-se muito, em suas práticas abusivas, aos coxinhas raivosos com máscaras de ‘anonymous’ das manifestações de junho.

  7. Alguém aí prestou atenção na “sinceridade” do abraço de Bláblárina em Erundina, no final do programa (ops…) do PSB? Essa gente se esquece que o corpo fala…! E um off topic: e a matéria da Globo no Jornal Nacional sobre o Cirque du Soleil? Era Canadá pra lá; canadense pra cá; o Canadá é tão bonzinho. A Globo é tão asquerosa, que aceita levar ao ar – Deus sabe a razão – uma matéria ridícula, sobre o batido circo levando alegria às criancinhas pobrinhas, só pra elevar a bola do Canadá espião. Vendeu por quanto a pátria, Globo-Judas?

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