Paulo Nogueira Batista Jr.: “É dando demais que não se recebe”.

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Em artigo na CartaCapital, Paulo Nogueira Batista Jr., ex-representante brasileiro no FMI e no Banco dos Brics , nos governos Lula e Dilma e, talvez por sua independência mental, jamais Ministro da Fazenda, fala da sabujice econômica do governo brasileiro e de sua diplomacia econômica. No instante em que Trump diz que “guerra comercial é boa de ganhar” e que China e União Europeia reagem contra as tarifas impostas ao aço pelos EUA  – o que atinge em cheio o Brasil  – é mais flagrante ainda os prejuízos que nos trazem  uma política de alinhamento, em lugar de uma de soberania.

Bola Preta no clube dos ricos

Paulo Nogueira Batista Jr. , na CartaCapital

Vou tratar hoje de um tema que causa muita preocupação: a perda de soberania do País. O entreguismo tem prosperado em várias frentes.

Uma delas, pouco comentada, é a pretensão de aderir à Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico. Em maio de 2017, o governo brasileiro anunciou formalmente a decisão de solicitar a entrada nesse organismo internacional. Uma decisão, no meu entender, perigosa para a
autonomia nacional.

Ocorre, leitor – e aí entra o aspecto cômico-, que a vontade de entregar é às vezes maior do que vontade de receber!

Veio a público há poucos dias o que já vinha vazando há alguns meses: o governo dos Estados Unidos “orientou” um assessor do ministro Henrique Meirelles a aguardar outro momento para o Brasil se candidatar.

O assessor transmitiu o recado prontamente: as autoridades dos EUA avaliam que a OCDE precisa passar por reformulação e não querem aumentar o número de integrantes em meio a esse processo. O portador tupiniquim do recado americano nem sequer foi informado sobre o que seria essa reformulação … (O Estado de S. Paulo, 19 de fevereiro de 2018).

Um vexame. A condução do assunto foi bisonha desde o começo. Anunciou-se a solicitação de ingresso sem que o Brasil obtivesse indicações críveis de que a candidatura seria aceita. Se o País estivesse representado por profissionais, um anúncio dessa importância jamais seria feito sem costura
prévia. Resultado: depois de passar meses de pires na mão, empenhando-se para ser aceito, o governo terminou por receber uma negativa humilhante.

O pior é que a própria ideia de aderir à OCDE é infeliz. A OCDE não é apenas um foro para discussões e troca de informações, como às vezes se pensa.

Ela é primordialmente um organismo normativo, que fixa princípios e práticas para políticas públicas em numerosas áreas. Trata-se, além disso, de um clube dominado pelos EUA e os outros desenvolvidos, com um punhado de subdesenvolvidos fazendo figuração. Tornar-se integrante implica, cedo ou
tarde, implementar as normas da OCDE, com perda de raio de manobra e soberania em diversos campos.

Os compromissos exigidos pela OCDE, por exemplo, em matéria de liberalização dos movimentos de capital são mais radicais do que aqueles do FMI. Para países em desenvolvimento, essa liberalização pode custar caro em termos de instabilidade macroeconômica, como mostra a experiência de
diversos países, inclusive a brasileira. O Brasil, desde os tempos do governo FHC, avançou de forma imprudente na direção da liberdade para os capitais.

Consagrar essa orientação em compromissos assumidos na OCDE agravaria o problema.

Ao percorrer um documento preparado pela assessoria internacional do Ministério da Fazenda , encontrei os seguintes argumentos em defesa do
ingresso na OCDE:

1 . Isto nos “aproximaria de polos de riqueza”.
2. Traria um “sinal valioso para investidores estrangeiros”.
3. Seria um “selo de qualidade em políticas públicas”.

Meu Deus! O primeiro argumento é o do suburbano emergente sonhando em entrar de sócio no Harmonia em São Paulo ou no Country Club do Rio de Janeiro. Os outros dois são menos ridículos, mas também não se sustentam. Os investimentos estrangeiros, assim como os nacionais, dependem da
dimensão do mercado interno, das oportunidades de exportar e, acima de tudo, das perspectivas de desenvolvimento da economia.

Para os investidores, se o país pertence ou não a um clube de elite é perfumaria. A maioria dos emergentes que lideraram a atração de investimentos externos nas décadas recentes – o Brasil entre eles – não é integrante da OCDE.

Um país que se preza não procura no exterior um “selo de qualidade” para as suas políticas. Não adquire respeito quem anseia por aderir a um conjunto de regras de cuja formulação não participou e que não são necessariamente compatíveis com a estrutura econômica da nação, o seu estágio de desenvolvimento e as aspirações nacionais.

Será que estou sonhando, leitor?

Pode ser. A questão da soberania talvez seja o meu ponto cego. Mas lembro apenas, para finalizar, que nenhum dos BRICS está procurando entrar na OCDE. Nem China, nem Rússia, nem Índia. Não é por acaso. Esses países têm projeto nacional, estratégias próprias e não embarcam em canoa furada.

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16 respostas

  1. Perdão pelo fora de pauta não tão fora de pauta assim!

    … Luiz Inácio Lula da Silva – o melhor e mais popular presidente do Brasil – e inocente, não ser reconhecido digno de receber um mísero habeas corpus preventivo, não obstante todo o legado deixado à história deste país e à democracia… A dimensão do nível de indigência do sistema jurídico vigente em nosso meio!
    O desprezo colossal das nossas podres e incivilizadas elites ao honesto povo trabalhador brasileiro…
    (…)
    Quantos habeas corpus o STFede já expediu para criminosos hediondos da cepa do Daniel Dantas, “o homem da mala do infame vampirão nazigolpista mimiSHELL”, o primo da mala e a irmã do DEMoTucano ‘Mineirinho o Mais Delatado’ &$ “primocida , os Baratas do gilMAU et caterva…
    (…)
    Aí, somente uma guerra civil poderá nos redimir!
    Ou, “intonci”, coloquemos o rabo entre as pernas e operemos um suicídio coletivo!
    Mesmo porque é preferível o sangue derramado no barro da luta à deglutição da saliva da desonra!
    E tenho dito!

    1. … Enquanto a tragédia segue a cavalgadas de ‘milicos’ e outros scripts produzidos no Projac dos mafiosos Marín(ho) da Globo Organizações MafioCriminosas, o casal ‘mor(T)o’ passará 19 dias nos EUA, recebendo as ordens dos representantes do Tio Sam.
      Enquanto isso, o inocente e pobre João Vaccari Neto segue mofando na prisão perpétua da ‘Guantánamo da Província Agrícola do Paraná’!
      Este protofascista ‘mor(T)o’ consegue ser mais perverso, sanguinário e cínico do que o Satanás!
      (…)
      Será que o excomungado já está procurando casa para a mudança definitiva rumo ao ostracismo nos ‘isteites’?
      Com auxílio-‘moroDIA’ e tudo dentro?
      “Boa-viagem”, excomungado!
      E somente voltarás a estas plagas sob vara – e direto para uma solitária na Papuda!…

    2. tudo indica que o stf e sua presidencia vai falhar com suas obrigações novamente, a presidencia atual vai repetir a letargia anterior durante o impeachment. carmen, se tremem as pernas para a shell, se tem medo saia de ferias e veremos se outro tem pejo.
      inconscientemente pensa: prefiro um ladrão que estudou, não um reles operário

  2. … Quando ainda era algo impensável de admitir – a indicação de Joaquim Levy do Bradesco para o Ministério da Fazenda – o matuto velho comentou:
    “Pelo amor de Deus, Joaquim Levy não, mamãe!”
    Não deu outra!
    A rendição à porra do mercado!
    O afastamento das bases e da militância de esquerda!
    Não poderia haver atalho maior fácil para os fascistas e mega corruptos &$ antinacionalistas/entreguistas agirem, forjarem o golpe vagabundíssimo!
    Às escuras!
    E sob à luz do dia também!
    Diante do nosso nariz de palhaço padrão Itu!
    E da nossa cordialidade bovina!
    E à época o matuto velho acrescentou:
    “honrada presidenta Dilma Vana Rousseff, para substituir o ilibado e economista desenvolvimentista Guido Mantega, o melhor nome é o do catedrático Paulo Nogueira Batista Jr.”
    Mas, para que serve a militância, tirante o ofício sacrossanto (sic) de comer areia?…

  3. Isso é bem próprio de novo riquismo, comportamento que orienta a “nossa” elite, a mais jeca do planeta.

  4. O governo golpista não se contenda em entregar a riqueza nacional, anseia em arriar as calças da dignidade ao capitalismo internacional e nem se preocupa em apagar a luz do quarto.

  5. Perdoem o termo, mas nossas ‘elites’, são escrotas. Vira latas da pior espécie. Ou melhor, a direita entreguista. Fernando Henrique é um exemplo, e tantos outros. Não ssbem o que é ser brasileiro. São sabujos da pior espécie. Temer e asseclas, nem se fala.

  6. Com certeza, Fernando! Não acho que a questão da soberania seja tudo, mas é uma questão sine qua non. Para qualquer país digno de ser país.

  7. Grande Paulo Nogueira Batista, como disseste ou o país escolhe soberania ou se ‘deixa’ vassalar. Verdade tb que pragmatismo deve andar junto com esta escolha.
    Além do petroleo avançam nas demais riquezas minerais, querem nossa água, nossas florestas…
    Nós brasileiros descendentes dos brancos o fizeram contra os índios nativos e seremos as vítimas neste turno, levando todos que ajudaram a construir esta nação para a vassalagem.
    Aqueles que se enxergam como senhores (vassalos privilegiados) caminham contentes para fazer a entrega e em troca espelhinhos.

  8. eu dico me perguntando, se Temer e essa equipe dele são mesmo assim tão burros

  9. Os brasileiros não merecem soberania, preferem vassalagem, enquanto isso a elite se fortalece, aceitam ser vassalos dos interesses americanos enquanto se locupletam no puteiro Brasil.
    E viva o covarde povo brasileiro.
    Sonham em ir para os estates, limpar privadas, mas com a certeza que vivem o “sonho americano”.

  10. Novamente vou desabafar: quanta gente amadora na nossa vida pública! Ou será que a propina tá tão grande assim que entregam tudo pra depois se desculpar dizendo que foi erro de estratégia?

  11. Há uma enorme e estranha convergência entre a entrevista de Lula à Folha, a de WGS ao Valor e este artigo de PNB na Carta Capital. Todas elas rodam em torno do inexplicável e do imponderável que se tornou esse Brasil do Golpe que parece oscilar entre o drama e a tragédia de erros da Política descrita por Wanderley Guilherme, a comédia e a pornochanchada do Mercado de Paulo Nogueira e o chão duro e cambiante da realidade de Luis Inácio.
    O drama e a tragédia se desenrola entre atores ou “centros autônomos de decisão arbitrários” (políticos, jornalistas, juízes, delegados, agitadores e mercenários) que sabem que o que desejam não vai acontecer (a eliminação do inimigo ou do adversário) mas sabem também que não importa o que fizer não vão escapar do destino fatal que lhes esperam. E tudo isso porque o candidato derrotado nas eleições de 2014 e seus eleitores simplesmente não aceitaram o resultado das urnas.
    A comédia e a pornochanchada do Mercado consiste naquilo que PNB se refere com “a vontade de entregar”, “maior do que vontade de receber!”, como uma uma noiva ou um noivo que se dedica de corpo e alma e que apesar de fazer de tudo é incapaz de ser correspondido as vezes até de sequer ser lembrado ou de estar a altura dos desejos insondáveis do outro. E assim se entrega ao outro dá tudo sem receber nada em troca. É a turma da bufunfa e seus “iupis” que são loucos mas, é lógico, não rasgam dinheiro.
    O chão duro e cambiante da realidade é descrito por Luis Inácio que pergunta quem é esse tal mercado onde banqueiros e muitos grandes empresários o apoiam mas seus funcionários (os tais “iupis” travestidos de militantes estilo “vem pra rua/mbl”) conspiraram dia (e durante a jornada de trabalho!) e noite numa espécie de “contra-revolução arrivista” contra os governos petistas e suas políticas e com um ódio político poucas vezes visto neste país, e ainda que ambos tenham enchido os bolsos, com lucros e altos salários+bonos polpudos, durante todos os governos petistas.
    Agora aparte toda essa irracionalidade e loucura coletiva, é fato que a judicialização política e a politicalização da justiça é uma realidade e “processos legais” tem sido utilizada contra um único partido, o PT, e para afastar o governo legítimo de Dilma e para impedir a candidatura de Lula. Uma lei mais draconiana do que a lei de responsabilidade (?) fiscal, a tal regra do teto de gastos públicos que na prática congela os gastos e está fadado a cair naquelas leis para não serem (graças a Deus) cumpridas, uma reforma trabalhista que leva o Brasil de volta ao final do século XIX e início do XX (“a ponte para o futuro” ….do pretérito), foi incapaz de recuperar o emprego ou o crescimento e piorou a situação fiscal do Brasil. O governo ilegítimo de Temer mesmo com 3% de aprovação apesar de ter 100% de apoio no “Mercado”, aquele da pergunta do ex-presidente) lança-se com numa “jogada de mestre” a meter mais um “ator” no centro desse macabro drama tragicômico com toques de pornochanchada

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