A inimiga do emprego não é a CLT, mas a crise

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Em manchete, a Folha diz que a monstruosidade da contratação de trabalhadores intermitentes – aqueles que só trabalham (e ganham) quando o pratão os convoca – está distorcendo e inflando as estatísticas oficiais de emprego, expressas no Cadastro Geral de Empregados e Desempregados do combalido Ministério do Trabalho.

É verdade, mas isso é o menos expressivo nesta tragédia que foi – e muito mais ainda, será – a precarização do trabalho provocada pela ânsia do golpismo em aniquilar os direitos trabalhistas, tão grande que foi, aliás, motivo das vaias do empresariado a Ciro Gomes em evento recente.

E, como dizer tudo é, por vezes, a forma de não se dizer nada, deixemos aqui de lado os aspectos previdenciários ou, até, o absurdo de termos milhões de pessoas sem trabalho com este tipo de contrato que, oficialmente, estão “empregados”.

Observem os números: esta nova categoria de subempregados, embora oficialmente registrados, somou, em sete meses, 20 mil contratações. Um número desprezível ante os 33,126 milhões de carteiras assinadas no país, mesmo este sendo o menor volume total de empregados registrados de nossa história recente.

Pior ainda, o que dizer quando, em sete meses, a contratação destes “intermitentes” representa apenas 0,3% dos seis milhões de novos empregos previstos em pronunciamento oficial do então todo-poderoso Henrique Meirelles, como registrou o Valor:

“O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, afirmou acreditar que a reforma trabalhista viabilizará a criação de mais 6 milhões de novos empregos no Brasil. A grande mudança da reforma trabalhista é a de dar mais poderes aos trabalhadores para negociarem suas próprias condições de trabalho, disse o ministro no programa “Por dentro do Governo”, da TV NBR”.

Fosse outro o tema e outro o Governo, isto estaria sendo tratado, com chacota, como um fiasco retumbante. Não é nada difícil imaginar a manchete: “Reforma implantada pelo PT só gera 0,3% dos empregos prometidos”.

Como, entretanto, tratam-se de medidas contra o trabalhador, vinda de um “gênio das finanças”, o máximo que se consegue apontar é o desvio estatístico que estariam causando.

O ponto essencial, está evidente, é outro. A CLT, com todos os defeitos que o tempo e a mudança das condições do trabalho possa ter gerado, nunca foi o empecilho para o emprego, nem historicamente – o final dos anos 40 e a década de 50 foram o período de mais espetacular crescimento do emprego formal e da economia do país e nem em tempos recentes, quando atingimos o menor nível de desemprego da história do país.

Inimiga do emprego e da economia nacional é a política de contracionismo adotada pelos governos que expressam a ideologia da classe dirigente do Brasil e que vêem no “corte de gastos” e na paralisação dos investimentos públicos a forma de garantir que o sangue ralo da atividade econômica possa fluir para as ventosas ávidas do rentismo.

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7 respostas

  1. A IMPRENSA SEMPRE SOUBE QUE NÃO SERIA GERADO EMPREGO COM A FLEXIBILIZAÇÃO DO TRABALHO!

    Até parece que jornalistas experientes com décadas de trabalho foram “enganados” pelo discurso liberal… nada disso. O governo e a imprensa trabalharam em tabelinha mais uma vez.

    É como se a imprensa não soubesse também que Aécio era um bandido ou que Serra era responsável por diversos esquemas de corrupções. Uau… foram todos surpreendidos pela Lava-Jato!

    Eles acharam simplesmente que a crise iria passar e depois se daria um jeito… pelo jeito não passou e agora estão se fingindo de bobos.

    Atenção para o fato do índice de desemprego estar sendo acusado de manipulação… e pela milésima vez eu vou colocar aqui:
    A INFLAÇÃO TAMBÉM ESTÁ SENDO MANIPULADA:
    https://www.cartacapital.com.br/sociedade/o-ibge-esta-mudando-suas-estatisticas-economicas-contabilidade-criativa

  2. Não há crise, há um projeto criminosos econômico, os desempregados e os subempregados fazem parte do processo.
    Apenas atinge cada um de forma diferente, mas é o povo quem mais sofre com esse projeto, que é uma das bases dos golpistas.
    LulaLivre.

  3. E o que é a crise senão a iniciativa do capital em produzir desemprego como forma de coação direta para a imposição de intensidade de trabalho. Toda esta crise foi provocada por uma rebelião empresarial contra o pleno emprego trazido por políticas keynesianas. Vide Kalecki.

  4. O mais medonho no Brasil é que estas verdades incontestáveis que você enumerou, não mudam em nada o que pensa nossa elite, nosso empresariado e nossa classe média. Essa raça está com o pensamento cristalizado há séculos, por dogmas mentirosos, canalhas, estúpidos. E repetem isso obstinadamente, se deliciam em ler e ouvir da mídia vagabunda essas barbaridades. Fazem ares doutos e superiores, olhando com desprezo para quem defende o trabalhador. É difícil, muito difícil acreditar num país com tanta gente imbecil.

  5. E duro quando nossos filhos ou netos sabem nada.
    Digo nada do que os espera.
    Se continua nesse passo teremos:
    -os juros mais brutais do mundo, as cadeias mais apinhadas, os empregos mais
    mal pagos e precarios, a riqueza mais facilmente entregue aos abutres, do mundo, o sistema judiciario mais corruptamente corporativo do mundo, o maior porem mais ‘cagado em cima’ potencial economico do mundo, a riqueza mais desigualmente distribuida,
    das grandes naçoes modernas do planeta a mais prostituida e vendida aos valores do capital colonizador, a midia mais monopolista,

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