Tudo fica tosco com Bolsonaro

Os jornais de hoje trazem, por vários aspectos, a terrível repercussão dos episódios de criminalidade policial que assolaram o Brasil.

Infelizmente reduzida a uma frase, a abordagem mais instigante é a de Renato Sérgio de Lima, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, que diz estarem as polícias “seduzidas pelo projeto bolsonarista” e, por isso “sem controle”.

Lamento dizer que é mais grave que isso.

O empoderamento das polícias não é um projeto bolsonarista: o bolsonarismo é que realizou quase que plenamente a transformação das polícias de acordo com o projeto de dominação da sociedade pela normalização do uso da força como ferramenta de controle social.

Este plano é velho como a Sé de Braga. “A questão social é caso de polícia” ficou como máxima da República Velha; os “Homens de Ouro”, embrião dos Esquadrões da Morte vieram no governo de Carlos Lacerda, no Rio; o “fim da violência em seis meses”, também aqui, com Moreira Franco e, com Bolsonaro e Moro, o “excludente de ilicitude” , que torna o crime cometido por policiais um mero acidente de percurso.

A Polícia Rodoviária Federal, cujas atribuições constitucionais de patrulhamento das rodovias foram deixadas de lado para fazer delas vitrine do governo – não há quem esteja mais nas postagens de Bolsonaro que ela, seja em ações espetaculares, seja como escolta de luxo das exibições presidenciais – foi uma vítima especial desta onda e ganhou, como prêmio a degradação de sua imagem.

Trocou o respeito de que a instituição sempre gozou pelo medo que se tem de uma polícia com licença para matar, até numa câmara de gás sobre rodas.

Ontem, na TVT, falei sobre a necessidade de reagir a isso, enquanto esta visão deformada está assustada, quase incapaz de defender, como sempre faz, o assassinato e a barbárie.

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