Ainda sobre a radicalização

Ainda sobre o tema que abordei ontem, sobre os que acusam Lula de estar assumindo um discurso radicalizado, faltou oferecer um dado essencial: o projeto “não partidário” do “partido de Bolsonaro”, a tal Aliança pelo Brasil.

É evidente – e já se tratou disso aqui – que não se trata de uma aglomeração político-eleitoral, porque legalmente inviável a formação de um partido.

Portanto, é uma “cobertura” para a agregação da matilha, estabelecendo uma organização semi-miliciana, pronta a sustentar o clima permanente de ódio no qual tenta manter o país.

Crê que isso lhe bastará para manter, no essencial, o controle sobre a maioria parlamentar e as bênção do Judiciário.

Onde houver um deputado ou um ministro do Supremo haverá um tomateiro da milícia política a intimidá-lo, e isso basta.

Juca Kfouri, bom em perceber o jogo como está sendo jogado, escreveu em seu blog:

Não resta dúvida de que é o partido das milícias, da barbárie, do tiro no lugar do livro. Nem Hitler, nem Mussolini, nem Stálin, nem ninguém, assumiu a tal ponto tamanha boçalidade. Quem se calar diante de semelhante ameaça à civilização, ou aderir ao escárnio, será cúmplice, e será julgado sem perdão pela História.

O ex-presidente, mesmo 580 dias fora do campo, não perdeu, também, a acuidade em observar a cena política.

O que é capaz de unir não é um discurso frouxo, mas a rejeição ao fascismo, à brutalidade, à morte, à solução a bala.

Até um liberal como Reinaldo Azevedo o percebe:

“Quem quer se tornar liderança política tem de se apresentar para o debate. Quantos dos candidatos a candidato do centro afrontam Bolsonaro e sua tropa, reagindo aos ataques que fazem a valores civilizatórios? Quando Paulo Guedes quer meter gastos com inativos no mínimo constitucional previsto para saúde e educação ou garfar 7,5% do seguro-desemprego, onde estão os não extremistas? Tomando chá de camomila diante da proposta inédita de taxar as grandes pobrezas?”

Não se confunda isto com não aceitar forças que, três anos atrás, formaram com o impeachment. Se rejeitarem a consolidação do fascismo a que ajudaram a dar início, entrem na fila, ninguém lhes exigirá autoflagelação pública como exigem ao PT.

Se queremos isolar o autoritarismo político, a escravidão econômico-social, a regressão à barbárie temos de unir um pólo democrático-social.

Polarizar, portanto.

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9 respostas

  1. A tal ALIANÇA,do BÓSTO-NATO,é copia da ALAINÇA PARA O PROGRESSO.Lembram,os mais antigos e,os mais novos,sabem HISTOIRIA?

  2. Pelo amor de Deus, não chame Reinaldo Azevêdo de liberal, liberal é Lula que no seu governo atendeu todas as tribos, com um pequeno reajuste a mais para o pobre que no fim terminou no bolso do Rico, pois foi pra o consumo

  3. Temos mais é que polarizar. Os extremos não são direita e esquerda. São ditadura e democracia. Quem acha que tem meio termo nisto aí, que se vire com as conseqüências.

    Temos que ser radicais, sim. Como nos ensinou Paulo Freire, radicalismo é ir à raiz das coisas. O uso incorreto da linguagem passou a taxar de radical o que de fato é sectário. Nenhuma evolução humana ocorreu sem radicalismo efetivo. Todo o atraso vem das posturas sectárias.

  4. Só nós mesmo para levar a sério as acusações que os golpistas nos fazem, só nós mesmo para darmos credibilidade as mentiras que eles próprios nos contam. De fato mordemos todas as iscas que eles nos lançam. Antes de ódio ou raiva os golpistas puro sangue com aquele ar de superioridade típicos podem ter é no máximo pena de nós, ódio e raiva são apenas para seus “funcionários” canalhinas crédulos. Quando os golpistas nos acusam de corrupção, radicalização, subversão, extremismo, projeto de poder, controle dos meios de comunicação, “venezualização”, destruição, incompetência revelam não seus medos ou desconfianças mas apenas seus desejos, aspirações e realizações mais íntimos e profundos. Da mesma forma que só nós mesmos levamos a sério campanhas contra corrupção (seu modus operandi), leis de responsabilidade fiscal (para fazer frente as irresponsabilidades deles), austeridades (para suportar as vidas ridiculamente nababescas que levam), regras do jogo (que desprezam e ignoram), estado mínimo (quando vivem de parasitar o Estado só para eles). Eles, os golpistas puro sangue, desprezam todas essas palavras de doble sentido orwelliana criadas por eles próprios e mais ainda seus conteúdos. São apenas oligarcas predando tudo o que está ao alcançe de suas mãos à espera de uma nau que os vai levar de volta à casa mas que nunca chegará.

  5. Prezado Fernando, admiro muito sua abordagem, porém me parece que está na hora dos jornalistas e pensadores não facistas abandonarem o termo “milícias” para designar a bandidagem assassina. Quadrilha, súcia, matilha… sei lá. Milícianos são combatentes do povo.

  6. A omissão pode ser uma conduta criminosa. Como estabeleceu Martin Luther King em sua célebre frase, quem se omite diante do mal com ele colabora.
    Os dublês de jornalista da velha mídia cometem esse crime diariamente. São cúmplices de um crime hediondo com características de lesa-pátria e lesa-humanidade. Os sinais emitidos pelo despotismo miliciano são nitidamente nazistas e já ameaçam abertamente a maioria da população brasileira, apontando armas contra os cidadãos e dizendo “quem se mexer morre”.
    Os sabujos das redações são dos piores inimigos do povo e devem ser combatidos sem tréguas.

  7. Concordo plenamente com você sobre a necessidade de uma frente democrática para enfrentar o fascismo boçal de Bolsonaro. Concordo também com a NÃO exclusão de nenhuma força política. Mas não é isto o que observo. Quando daquele evento na PUC SP, a presença de Marta Suplicy foi usada pelos sites petistas (247, DCM) para desqualificações sectárias. Marta foi rejeitada como se fosse portadora de uma moléstia pestilenta. É ou não é verdade ?
    Essa frente só terá chance ser constituída se os líderes políticos sentarem-se numa mesa REDONDA, sem cabeceira.

  8. Checar.Soube que as milícias do Rio estão articulando um mutirão para pressionar os moradores das áreas controladas por elas para assinar a ficha de filiação ao novo partido de Bolsonaro, Aliança pelo Brasil.

  9. Mudando o foco: Esta CPMI do Coronel , pela sua preguiça, vai acontecer muito breve, um soldado raso chegar la e prender um Coronel.

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