Passe os olhos pelos jornais e verá que parece generalizada a impressão de que Jair Bolsonaro deixou passar a imensa oportunidade que teve ontem de mostrar que o país viveria alguma mudança profunda.
Exceto na grosseria e nos delírios extremistas – “vou libertar o Brasil do socialismo!” – não produziu coisa alguma, senão desconforto na mídia, mesmo a simpática a ele.
Diz bem Bruno Boghossian, na Folha, que Bolsonaro busca fantasma da esquerda para se alimentar no poder, e assustar com fantasmas só dura mais que segundos com crianças pequenas.
O mais suave com ele foi – e podia deixar de ser? – Merval Pereira, ainda assim com elogios que, francamente, não é muito agradável receber, como o de dizer que o ex-capitão é “o erro novo, contra a possibilidade de o PT, o erro antigo, voltar ao governo.”
Nos demais, a sensação dominante é de que não foi capaz de oferecer mais do que declarações de intenção vagas ou belicosas, como a que citei e outras do mesmo tom delirante.
De tristemente objetivo, só a ex-novidade da liberação da posse de armas e a volta do “licença para matar” para policiais (e militares?).
Nos sites, agora cedo, só a Folha acha alguma promessa que dê manchete, a de que Guedes tem pronta MP que revê regras da Previdência e acena com um economia de R$ 50 bilhões. Quando se vai ler, além de ser promessa sem ações especificadas, vê-se que é em 10 anos…
O segundo dia de Bolsonaro, portanto, por falta de assuntos que tomem a atenção do país com mudanças concretas, possivelmente será marcado pelas demonstrações de ódio do segundo escalão, no diapasão soado ontem pelo “chefe”.
Claro, alimentará o ódio furibundo de sua trupe, na base do “agora vai”, porque a característica do covarde é ser feroz com os fracos e dócil aos fortes.
Será, como disse, esta a tônica do dia, talvez – apenas talvez – com exceções para Sérgio Moro e Paulo Guedes, os cardeais da moral e do dinheiro, que precisam que todos saibam que estão na cozinha, preparando bolo que o chefe vai servir.